Cinco
horas. Trezentos minutos. Dezoito mil segundos por semana.
O
tempo começa a contar em julho – se tudo correr como está previsto na votação
de hoje na Assembleia da República, depois da votação de ontem na
especialidade.
Claro
que, ao contrário do sol, o tempo quando nasce não é logo para todos.
Será
para alguns já dentro de um mês, para outros lá mais para a frente e para os
restantes logo se vê. No setor privado nem por isso, o tempo será sempre o
tempo de sempre.
Ninguém
sabe ao certo quanto vai custar a reposição do horário de 35 horas na Função
Pública, nem que efeitos terá na produtividade – mas isso são apenas detalhes.
Como lembrava há dias o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, também não houve
estudos quando o anterior governo decidiu aumentar o horário de trabalho para
as 40 horas. Sendo tão fácil, cá estaremos quando o governo mudar outra vez.
Até
lá, admitindo que pouco se venha a saber sobre as 35 horas que ficam no
trabalho, concentremos a nossa atenção nas cinco horas que desaparecem. Aqui
ficam algumas sugestões para os primeiros dias de tempo livre:
1)
A 29 de setembro de 1960, Fidel Castro demorou quatro horas e 29 minutos a ler
o discurso mais longo alguma vez feito na ONU – um ataque violento ao
imperialismo americano e uma defesa aguerrida das virtudes da revolução cubana.
Se é verdade que as relações entre os dois países parecem hoje menos
complicadas, também não é mentira que Castro, através do irmão, ainda resiste.
As palavras do histórico líder cubano podem ser lidas em inglês e, sim, cinco
horas são suficientes.
2)
Uma outra hipótese é transferir a hora livre para a noite – antecipando algumas
tarefas domésticas - e passá-la à janela a olhar para o céu. Não é preciso
fazer grandes contas, afinal o universo é infinito, está em expansão e os
planetas andam todos à volta do sol. Por isso, é possível que, num dado
momento, esteja a olhar diretamente para Plutão. Ou lá perto. Pode ver as mais
recentes fotografias do planeta e refletir sobre o seguinte: um sinal dado pelo
centro de controlo da NASA para a sonda New Horizons demora cerca de cinco
horas a chegar. E vice-versa.
3)
A sugestão seguinte é ideal para quem encara as cinco horas de tempo livre a
médio e longo prazo. E dispõe de banda larga. Em média, um jogo de xadrez ao
mais alto nível, entre grandes mestres, dura cerca de cinco horas. Seguindo por
esta ligação, pode recordar o emocionante momento em que, após quatro empates
nos quatro primeiros jogos, o norueguês Magnus Carlsen bate o indiano
Viswanathan Anand, num primeiro passo para se sagrar campeão do mundo em 2013.
São seis horas, quatro minutos e 21 segundos de xadrez.
4)
A quarta alternativa é o tão aguardado trailer do filme "Ambiancé",
do sueco Anders Weberg, que tem estreia marcada para 31 de dezembro de 2020. O
novo trailer tem apenas sete horas e vinte minutos, mas deixa algumas pistas
importantes sobre as 720 horas de filme (30 dias a olhar para o ecrã
ininterruptamente), que o The Independent descreve assim: dois artistas numa
praia no sul da suécia.
5)
Por fim, nada como aproveitar uma hora todos os dias para pensar nas palavras
de Byung-Chul Han. Conhece? Há coisa de cinco horas eu também não conhecia o
filósofo coreano formado na Alemanha que é apologista de um tempo mais lento.
"O paradoxo consiste em que tudo é um presente simultâneo, tudo tem a
possibilidade, ou deve tê-la, de ser agora. O presente abrevia-se, perde a
duração. O seu quadro temporal é cada vez mais pequeno. Tudo urge
simultaneamente no presente. O que tem como consequência uma aglomeração de
imagens, acontecimentos e informações que tornam impossível qualquer demora
contemplativa. É assim que a fazer zapping nos movemos no mundo". ("O
Aroma do Tempo", Relógio D'Água).
POR RICARDO MARQUES
Jornalista
Fonte:Expresso
Nenhum comentário:
Postar um comentário