“Doença”
da corrupção
A
corrupção é classificada, pelo povo de Gana, como o principal
problema do país, talvez mais do que a deficiente distribuição de
renda e o analfabetismo, cuja taxa é de 70%. Subornos, desfalques e
escândalos financeiros são, frequentemente,
noticiados por sua imprensa e os casos de “kalabule” (como ela é
chamada pelos ganeses) atingiu tais proporções, que o regime
militar, do tenente da reserva, Jerry Rawlings, decidiu punir essa
espécie de crime com a morte. O castigo é o pelotão de
fuzilamento!
Outra
característica dessa República africana, de 238.538 quilómetros
quadrados e 12,5 milhões de habitantes, é a sua instabilidade
institucional. Em apenas 28 anos de vida independente, Gana já teve
5 golpes de Estado desfechados por militares. E as tentativas
ascendem a pelo menos o dobro disso.
Esse
procedimento é um dos factores que afastam os investimentos externos
do país que, em determinados períodos, conta com apenas 20% de suas
indústrias em funcionamento. O restante, permanece parado, por falta
de peças de reposição.
O
tenente Jerry Rawlings é uma espécie de tutor da pátria. Foi ele
que, em 1978, derrubou o general Iganatius Kutu Acheampong, acusado,
como não poderia deixar de ser, de corrupção. Naquela
oportunidade, convocou eleições, que levaram o civil Hilla Limann
ao poder. Mas, por pouco tempo.
Três
anos depois, lá estava o inflexível nacionalista Rawlings na porta
do palácio, exigindo, armas em punho, que o presidente “renunciasse”
ao cargo. O motivo? A célebre “kalabule”, ou seja, a corrupção.
Aliás,
houve, até, na curta história independente de Gana, um caso
pitoresco, ocorrido em 1969. Foi o do tenente-general Josep Ankrah,
que chegou a admitir, publicamente, ter recebido suborno de empresas
estrangeiras para as favorecer em termos fiscais.
É
claro que após essa admissão, não teve outro recurso, senão
renunciar. E fez isso correndo, antes que o Exército o obrigasse.
Até porque, muitos ganeses (inclusive seus colegas de farda) não
lhe perdoaram, jamais, o fato de ter derrubado o autêntico pai da
independência nacional, Kwame Nkrumah, quando este se encontrava em
visita oficial à China, em 1966.
Esse
líder, até hoje lembrado, não apenas pelo povo de Gana, mas por
todos os que estudam a descolonização africana, voltou à pátria
apenas em 1972. E em um caixão de defunto, procedente da Guiné,
para ser sepultado na terra em que nasceu e que ajudou a ficar
independente.
Jerry
Rawlings, que em 4 de junho de 1979 criou um Conselho Revolucionário,
que está acima da própria Constituição, em julho daquele ano teve
uma atitude inédita (pelo menos que se conheça), em termos de
golpe. Mandou fuzilar, de uma só vez, três ex-presidentes, Akuasi
Afrifa, Ignatius Kutu Acheampong e Fred Akufo.
Embora
seus adversários jurem que o todo-poderoso tenente estava era
querendo se livrar dos opositores mais diretos, ele garante, até
hoje, que mandou os ex-governantes para o paredão por um motivo
muito familiar em Gana: a corrupção.
Só
que nesse caso, para se garantir, acrescentou mais dois delitos às
desditosas vítimas: especulação e abuso do poder. Mas nem tudo em
Gana, que até 1922 foi parte da colónia alemã da Costa de Ouro,
sendo, neste ano, transferido para o domínio inglês, é sombrio.
A
inflação ganesa é de causar inveja a qualquer povo
latino-americano. Atinge, em média, 12,7% ao ano. Sua dívida
externa é de US$ 1,3 bilhão, mas seu Produto Nacional Bruto vem
registrando crescimento anual de 10%.
É,
pois, um país bastante viável da África, desde que consiga
extinguir com a “kalabule”. E, mais do que isso, com uma doença
tipicamente de Terceiro Mundo: a irresistível vocação para o
golpismo.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 25 de maio de 1985).
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 25 de maio de 1985).
Por Pedro J. Bondaczuk
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