Anis Amri foi morto em Milão. Terá apanhado um comboio nos Alpes franceses e viajado para Itália. Divulgado vídeo em que jura fidelidade aos jihadistas e diz querer ser mártir
A fuga e a vida chegaram ao fim numa rua junto à estação de comboios de Sesto San Giovanni, um subúrbio da cidade de Milão. Eram três da madrugada locais (02.00 em Lisboa), quando Anis Amri, o principal suspeito da autoria do atentado de segunda-feira em Berlim, foi abatido pela polícia italiana.
Dois agentes aproximaram-se do homem e pediram-lhe a identificação. Ele disse que não tinha. Luca Scatà e Cristian Movio insistiram e quiseram ver o que o suspeito trazia dentro da mochila. Foi nessa altura que tirou uma pistola e disparou sobre Movio, ferindo-o no ombro. Scatà abriu fogo e matou Amri. A confirmação da identidade só surgiu depois, pela comparação de impressões digitais.
Entre os poucos pertences do suspeito foi encontrado um bilhete de comboio que mostra que o suspeito dos ataques de Berlim terá iniciado viagem em Chambéry, nos Alpes franceses, e passado por Turim antes de chegar a Milão.
Não tardou até que os populistas europeus levantassem a voz contra a livre circulação de pessoas dentro da Europa. Para Marine Le Pen, candidata às presidenciais francesas e líder da Frente Nacional, o facto de Amri ter viajado por França "é sintomático do total desastre em termos de segurança que representa o Espaço Schengen". Também Beppe Grillo, do Movimento 5 Estrelas, aproveitou para criticar a política de fronteiras abertas: "É uma loucura que dois agentes da polícia sejam postos em perigo e tenham que lidar com um terrorista procurado por meia Europa".
Ontem, ao final da manhã, a Amaq, agência de notícias do Estado Islâmico, publicou um vídeo, gravado antes do ataque em Berlim, em que Amri aparece a prestar lealdade ao Daesh, afirmando que as suas ações eram uma vingança pelos bombardeamentos contra muçulmanos. O terrorista acrescentava ainda que queria punir os "comedores de [carne de] porco" e tornar-se um mártir.
Anis Amri deixou a Tunísia no início de 2011, depois dos protestos que marcaram o início da Primavera Árabe, arriscando a travessia do Mediterrâneo. Segundo a Reuters, chegou à ilha italiana de Lampedusa depois de a embarcação onde seguia ter sido resgatada. "Quando saiu do país era uma pessoa normal. Bebia álcool e nem sequer rezava", disse à Sky News Arabia um dos irmãos de Amri.
Não levava consigo quaisquer documentos e garantiu à guarda costeira italiana que nascera em 1994, o que fazia dele ainda um menor. Sabe-se agora que estaria a mentir e que terá nascido em 1992.
Em Itália rapidamente mostrou comportamentos violentos e envolveu-se em confrontos com a polícia. Foi preso em outubro de 2011 depois de ter tentado incendiar um edifício. Cumpriu quatro anos em duas cadeias sicilianas e terá sido aí que se radicalizou.
Em maio de 2015 foi enviado para um centro de detenção à espera de ser deportado, mas a Tunísia não quis recebê-lo de volta, alegando que não tinham certeza da sua nacionalidade. Depois de 60 dias sem avanços no processo, as autoridades italianas libertaram-no dizendo-lhe que teria que sair do país.
Segundo Wali, um dos seus irmãos citado pela Reuters, Amri cumpriu as ordens e seguiu para a Alemanha através da Suíça.
Em julho de 2015 deu entrada do pedido de asilo no estado da Renânia do Norte-Vestefália. Já no início deste ano, em fevereiro, mudou-se para Berlim. As autoridades germânicas colocaram-no sob investigação por suspeita de estar a planear um assalto de forma a obter dinheiro para comprar armas e montar um atentado.
Em junho, o processo do pedido de asilo chegou ao fim com uma resposta negativa . Tal como já acontecera em Itália, falharam as tentativas de deportação, mais uma vez por falta de documentos e por relutância da Tunísia em reconhecer a sua nacionalidade. Três meses mais tarde, em setembro, as autoridades puseram um ponto final ao plano de vigilância - não tinham encontrado indícios que confirmassem as suspeitas de que pudesse estar a planear um ataque.
Sabe-se hoje que durante o tempo que passou na Alemanha estabeleceu contacto com guerrilheiros do Estado Islâmico, voluntariou-se como bombista suicida, traficou droga em Berlim e ter-se-á movimentado na esfera de influência de Abu Walla, um pregador do ódio iraquiano que foi preso em novembro e aguarda julgamento.
Na segunda-feira terá roubado um camião e matado o motorista polaco, lançando-se depois contra um mercado de natal, acabando com mais 11 vidas. Pôs-se em fuga. A estrada chegou ao fim ontem de madrugada, num tiroteio em Milão.
DN
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