segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Em Montemor-o-Novo há um infantário em risco de falência com 148 crianças

Como os apoios da Segurança Social não são suficientes, os responsáveis do espaço temem ter de o fechar por não conseguirem arcar sozinhos com os custos de funcionamento.
As 148 crianças e 34 funcionários do Colégio Jardim dos Sentidos, um infantário de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) em Montemor-o-Novo, distrito de Évora, estão em risco de serem postos na rua. Como os apoios da Segurança Social não são suficientes, os responsáveis do espaço temem ter de o fechar por não conseguirem arcar sozinhos com os custos de manutenção, admitindo o risco de insolvência. 

A indicação que temos do Centro Regional de Évora é que todas as crianças que estão fora da comparticipação com a Segurança Social deviam estar a pagar o custo total, que ronda os 400 euros”, explicou ao PÚBLICO Sónia Santos, directora do infantário, acrescentando que isso não acontece porque “as famílias não têm capacidade para tal” e porque “é do entendimento da direcção da Associação das Obras Assistenciais da Sociedade de São Vicente de Paulo que sendo esta uma IPSS, não o devem fazer, cabendo ao Estado dar esse apoio às famílias”. Mas isso não está a acontecer.

O infantário, inaugurado em Setembro de 2013, pertence a esta associação, e formou-se a partir do antigo O Bercinho, que deu lugar a este novo espaço com maior capacidade e melhores condições de resposta às necessidades das famílias e das crianças. O investimento global foi de cerca de 1,8 milhões de euros, divididos entre cerca de 1,3 milhões de fundos próprios, 508 mil euros de fundos comunitários QREN e um apoio do município de Montemor-o-Novo, que ofereceu o terreno onde foi construído o equipamento.

A instituição albergava 41 crianças na creche, 46 no jardim-de-infância e cinco no ATL. Agora, a creche conta com 78 crianças, o jardim-de-infância com 50 e o ATL com 20, mas o novo espaço já atingiu a capacidade máxima e a lista de espera para a creche é de cerca de 30 crianças. Na carta que enviaram ao ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, os responsável pelo infantário esclarecem que o acordo de cooperação assinado com o Instituto de Segurança Social a 29 de Novembro de 2013 ainda não foi actualizado, pelo que o número de comparticipações permaneceu nas 41 crianças iniciais. Por isso, esta IPSS passou a estar sujeita a um elevado prejuízo mensal “que é hoje incomportável”. 

Já antes, em Fevereiro, a associação tinha enviado outra carta ao ministro, na qual expôs a "extrema urgência" no aumento da comparticipação às famílias nos termos firmados no Acordo de Cooperação com o Instituto de Segurança Social (ISS). Na resposta do Conselho Directivo do ISS, do dia 10 de Outubro de 2016, foi dito que “não existe previsão para o aumento do número de comparticipações, decorrente da atribuição de 2.ª prioridade a esta instituição”. Na mesma resposta, aconselhava-se em alternativa a direcção da associação vicentina a candidatar-se ao Fundo de Socorro Social (FSS).

Porém, uma vez que o défice operacional “decorre directamente das baixas prestações cobradas (resultantes do reduzido nível económico da população servida, para o qual não se perspectivam alterações) e não de problemas de ineficiência de gestão”, o recurso ao FSS (que visa introduzir alterações estruturais na gestão das instituições) não permite resolver o desequilíbrio existente, argumenta a direcção da associação.

Até agora, tem sido possível assegurar o normal funcionamento do infantário, mas foi preciso aplicar medidas de contingência, incluindo o atraso no pagamento a fornecedores. “A cada dia que passa, estas medidas de contingência tornam-se mais insustentáveis, até um horizonte cada vez mais próximo em que deixarão de se poder aplicar”, alerta num requerimento entregue à tutela o deputado alentejano do PSD António Costa da Silva. A directora Sónia Santos acrescenta que, para garantir a sustentabilidade do projecto, é necessário “um aumento nas comparticipações em creche, correspondente a cerca de mais 20 crianças, com um valor unitário mensal de 262,18 euros. Ou seja, cerca de 5200 euros mensais”.

Ao contrário do resto do país, felizmente, a natalidade aumentou imenso no concelho de Montemor-o-Novo, facto que nos deixa a todos muito satisfeitos”, confessa a directora. A insatisfação chega com o argumento do Ministério da Solidariedade e Segurança Social para o não alargamento das comparticipações às famílias, “de que a resposta social de creche não é prioritária porque existe cobertura suficiente a nível nacional”. “Quem conhece o Alentejo sabe que os concelhos têm distâncias entre si de 20 a 30 quilómetros e nenhum pai vai colocar um filho na creche a essas distâncias da sua residência”, contra-argumenta.


Texto editado por Abel Coentrão

Fonte: Público
Foto:ADELAIDE CARNEIRO

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