sábado, 28 de janeiro de 2017

O Papa e a Ordem de Malta: uma vitória de Pirro?

Roberto de Mattei (*)
Valeta, capital da Ilha de Malta, onde sedia Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém (surgida na primeira Cruzada, 1099), hoje mais conhecida como Ordem de Malta. Numa memorável epopeia, no séc. XVI, os cavaleiros de Malta defenderam a Ilha e impediram a invasão maometana.
Valeta, capital da Ilha de Malta, onde sedia a Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém (surgida na primeira Cruzada, 1099), hoje mais conhecida como Ordem de Malta. Numa memorável epopeia, no séc. XVI, os cavaleiros de Malta defenderam a Ilha e impediram a invasão maometana.
A renúncia do Grão-Mestre da Ordem de Malta, Matthew Festing [foto abaixo, à esquerda], imposta por Francisco em 23 de janeiro, é susceptível de transformar-se numa vitória de Pirro. O Papa Bergoglio obteve o que queria, mas teve de usar a força, fazendo violência à lei e ao bom senso. O que terá consequências graves não só no interior da Ordem de Malta, mas entre os católicos do mundo inteiro, cada vez mais perplexos e confusos pelo modo como Francisco governa a Igreja.
Valeta, capital da Ilha de Malta, onde sedia Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém (surgida na primeira Cruzada, 1099), hoje mais conhecida como Ordem de Malta. Numa memorável epopeia, no séc. XVI, os cavaleiros de Malta defenderam a Ilha e impediram a invasão maometana.
O Papa sabia que não possuía qualquer direito legal para intervir na vida interna de uma Ordem soberana, e muito menos para exigir a renúncia de seu Grão-Mestre. Também sabia que este não poderia resistir à pressão moral de um pedido de renúncia, ainda que ilegítima.

Assim agindo, o Papa Francisco exerceu um ato de império abertamente contrastante com o espírito de diálogo, que foi o leitmotiv do ano da misericórdia. Mas, o mais grave é que a intervenção foi para “punir” a corrente que na Ordem é mais fiel ao Magistério imutável da Igreja e apoiar a ala laicista, que gostaria de transformar os Cavaleiros de Malta em uma ONG humanitária, distribuidora de preservativos e abortivos, “para fazer o bem”. A próxima vítima parece ser o cardeal-patrono Raymond Leo Burke [na foto abaixo, com cavaleiros da Ordem de Malta], que tem a dupla “culpa” de ter defendido a ortodoxia católica dentro da Ordem e de ser um dos quatro cardeais que criticaram os erros teológicos e morais da Exortação bergogliana Amoris laetitia.
Valeta, capital da Ilha de Malta, onde sedia Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém (surgida na primeira Cruzada, 1099), hoje mais conhecida como Ordem de Malta. Numa memorável epopeia, no séc. XVI, os cavaleiros de Malta defenderam a Ilha e impediram a invasão maometana.
Em seu encontro com o Grão-Mestre, o Papa Francisco anunciou-lhe a sua intenção de “reformar” a Ordem, ou seja, a vontade de elidir o seu caráter religioso, embora seja precisamente em nome da autoridade papal que ele quer começar a suspensão das normas religiosas e morais. Trata-se de um projeto de destruição da Ordem, que naturalmente só poderá acontecer através da rendição dos Cavaleiros, os quais infelizmente parecem ter perdido o espírito militante que os distinguia nos campos de batalha das Cruzadas e nas águas de Rhodes, Chipre e Lepanto. Ao fazê-lo, no entanto, o Papa Bergoglio perdeu muito de sua credibilidade, não só aos olhos dos próprios cavaleiros, mas de um número crescente de fiéis que sentem a contradição entre o seu modo de falar, cativante e melífluo, e o de agir, intolerante e ameaçador.

Selo comemorativo da participação dos Cavaleiros da Soberana Ordem de Malta na Batalha de Lepanto
Selo comemorativo da participação dos Cavaleiros da Soberana Ordem de Malta na Batalha de Lepanto
Passemos do centro à periferia, a qual, entretanto, para o Papa Francisco, é mais importante do que o centro. Poucos dias antes da demissão do Grão-Mestre da Ordem de Malta, outra notícia na mesma linha abalou o mundo católico. Dom Rigoberto Corredor Bermúdez, Bispo de Pereira, na Colômbia, por decreto de 16 de Janeiro de 2017, suspendeu a divinis o padre Alberto Uribe Medina, porque, segundo o comunicado da diocese, ele teria “expressado pública e privadamente sua rejeição ao magistério doutrinário e pastoral do Santo Padre Francisco, sobretudo no que diz respeito ao casamento e à Eucaristia”. O comunicado da diocese acrescenta que, por causa de sua posição, o sacerdote “se separou publicamente da comunhão com o Papa e com a Igreja”.
Portanto, o padre Uribe foi acusado de ser herege e cismático por recusar aquelas orientações pastorais do Papa Francisco que, aos olhos de tantos cardeais, bispos e teólogos, são suspeitas de heresia precisamente porque parecem afastar-se da fé católica. O que significa que o sacerdote que se recusar a administrar a comunhão a divorciados recasados ou a homossexuais praticantes será suspenso a divinis ou excomungado, enquanto aquele que rejeita o Concílio de Trento e a Familiaris Consortio é promovido a bispo e, talvez, a cardeal, como provavelmente espera Dom Charles Scicluna, Arcebispo de Malta, um dos dois prelados malteses que autorizaram oficialmente a comunhão para divorciados recasados que vivem more uxorio. Desta forma, o nome da pequena ilha do Mediterrâneo parece ter uma ligação misteriosa com o futuro do Papa Francisco, menos tranquilo do que se imagina.
Quem é hoje ortodoxo, e quem é herege e cismático? Este é o grande debate que se delineia no horizonte. Um “cisma de fato”, como o definiu o jornal alemão “Die Tagespost”, ou seja, uma guerra civil na Igreja, da qual a guerra no interior da Ordem de Malta é apenas um pálido prenúncio.
Selo comemorativo da participação dos Cavaleiros da Soberana Ordem de Malta na Batalha de Lepanto

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(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 25-01-2017. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.
Fonte: ABIM

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