quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Trump a fazer de Napoleão

Celso  Filipe
Celso Filipe 11 de Janeiro de 2017 às 00:01
Há uns anos, o presidente de uma câmara nomeou o filho para chefe de gabinete. O caso chocou os habitantes da vila e chegou mesmo a ganhar lastro de escândalo, tendo sido noticiado em vários jornais nacionais.

Confrontado com uma situação de claro favorecimento de um familiar, o referido autarca justificou assim a escolha: "tenho confiança pessoal e política nele".

A sonsice da resposta diz tudo sobre a forma como algumas pessoas olham para o exercício de funções públicas, apropriando-se delas como se fossem suas e distribuindo prebendas a eito.

É com esta visão ínvia e perigosa que Donald Trump vai assentar arraiais na Casa Branca. O magnata acaba de escolher o genro, Jared Kushner, como um dos seus conselheiros principais, um decisão com claros contornos de nepotismo. Em Outubro do ano passado, depois de ter sido eleito, incumbiu o seu filho Trump Jr., de ir a Paris reunir-se com empresários, políticos e diplomatas para encontrar uma forma de entendimento com a Rússia para resolver o conflito sírio. Um mês depois, em Novembro, num encontro com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, fez-se acompanhar pela filha Ivanka e o genro Kushner. E se fosse questionado sobre o porquê de meter a família em assuntos de Estado, é admissível que pudesse responder nos mesmos termos do autarca português: "tenho confiança pessoal e política neles."


A admirável desfaçatez com que Trump pratica estes actos é um sinal de que os considera normais, o que torna a coisa ainda mais tétrica. Para Donald Trump, a presidência dos Estados Unidos da América é algo que se confunde com um negócio de família e a Casa Branca uma espécie de Trump Tower onde os interesses do país, do próprio e da sua família se irão misturar sem decoro.

Aliás, a forma como Trump tem intervindo nas decisões de empresas, ameaçando-as com retaliações, caso não invistam ou deslocalizem a sua produção dos EUA, é uma decorrência da sua visão napoleónica do país. A tal ponto que os responsáveis da Trigger, uma aplicação que disponibilizar informações sobre acções e investimentos em tempo real, decidiu começar a fazer alertas para os tweets de Donald Trump. O futuro presidente dos EUA (toma posse a 20 de Janeiro) personifica o conceito prepotente do posso, quero e mando. É por isso que acha normal pôr a família em lugares de de poder ou chantagear empresas. No fundo, Trump olha para os EUA como Putin olha para a Rússia, como um bem pessoal.

Fonte: Jornaldenegocios

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