Bom dia.
Este é seu Expresso Curto, no dia em que Fernando Ulrich, o homem que um dia disse a frase “ai, aguenta, aguenta!”, referindo-se à possibilidade do país aguentar ainda mais austeridade, não aguentou ele próprio os sucessivos golpes no BPI, deixando a presidência executiva do banco para um espanhol e passando a presidente não executivo. Convenhamos que os últimos anos não foram fáceis para Ulrich. Devido à crise e às novas e mais duras regras europeias para o setor bancário, que sempre criticou, teve de pedir 1500 milhões de euros de ajuda estatal em meados de 2012, que pagou dois anos depois. Assistiu à saída de um dos principais acionistas de referência do banco, o brasileiro Itaú e os equilíbrios a esse nível, que sempre tinham assente num tripé de grandes investidores, começaram a esboroar-se. Depois, o grande sucesso do Banco de Fomento de Angola sofreu um primeiro golpe, quando o governo angolano exigiu que 49% do capital passasse para investidores locais. Ulrich tentou adiar o mais possível esse momento, remetendo-o para quando o mercado de capitais abrisse em Angola (continua por abrir…), mas não conseguiu resistir à pressão de Luanda e teve de aceitar como sócia a filha do presidente angolano, Isabel dos Santos, que entretanto também já se tornara uma das principais acionistas do BPI em Portugal. Mesmo assim, o desempenho continuou a ser tão bom, com o BFA a representar mais de dois terços dos resultados do BPI, que quando o Banco Central Europeu, por considerar que o mercado angolano não cumpria as regras de supervisão europeias, impôs a Ulrich a venda da maioria do capital, o presidente executivo tentou por todos os meios encontrar uma solução que lhe permitisse não perder o controlo de um ativo tão precioso. Em vão. O maior acionista do BPI, os catalães do CaixaBank e Isabel dos Santos encetam então um atribulado processo de negociações para encontrar uma solução, que acaba agora num divórcio: Isabel vende a sua participação no BPI mas torna-se a acionista maioritária do BFA. Por seu turno, o CaixaBank passa a controlar 84,5% do capital do BPI pelos catalães do CaixaBank na sequência da OPA que lançou, acabando de vez com o equilíbrio acionista tripartido que era uma das imagens de marca da instituição e que permitia que esta tivesse uma gestão inequivocamente em mãos nacionais, primeiro por Artur Santos Silva, depois por Fernando Ulrich. Agora há um único acionista que passa a mandar na instituição e um presidente executivo de nacionalidade espanhola, Pablo Forero. O projeto BPI, tal como o conhecemos desde a sua fundação, morreu ontem. Leiam-se as declarações de Ulrich: “O BPI, a partir de hoje, faz parte do grupo CaixaBank. Isso é claro. Até agora, o CaixaBank era o maior accionista. A partir de hoje, o CaixaBank controla o BPI. Não há nenhuma dúvida sobre isto e eu entendo que isto é uma boa notícia para o BPI e para os clientes”. Está bem, Fernando: então o modelo anterior era mau para o BPI e para os clientes? Dos cinco maiores bancos que operam no mercado português, só a Caixa Geral de Depósitos se mantém nacional, com o seu capital controlado a 100% pelo Estado. O BCP é controlado pelos chineses da Fosun, o BPI pelos catalães do La Caixa, o Santander Totta pelos espanhóis do Santander e o Novo Banco aguarda quem o compre – mas não será capital nacional a mandar no futuro da instituição. Foi a isto que chegámos, 37 anos depois da abertura do setor à iniciativa privada por decisão de um governo liderado por Mário Soares. | |
OUTRAS NOTÍCIAS A controversa passagem de António Domingues pela presidência da CGD continua a servir de braço de ferro político entre a oposição e o Governo. O PSD vai chamar potestativamente à comissão parlamentar de inquérito (CPI) o ministro das Finanças, Mário Centeno, devido à correspondência trocada com Domingues e ontem rebelada pelo jornal digital Eco. A carta de Domingues diz que o acordo com o Governo desobrigava administradores do banco público de mostrarem rendimentos e património ao Tribunal Constitucional. Não há, contudo, na correspondência agora revelada, nenhuma carta ou mensagem do ministro para Domingues a confirmar o que este diz. O primeiro-ministro veio em defesa de Mário Centeno, recusando que este tenha mentido e apontando o dedo a “compromissos que terceiros alegam, sem que haja qualquer prova”, mas o PSD, pelas bocas de Luís Montenegro e Hugo Soares (que lamenta que “estes documentos tenham sido divulgados”…) insiste que o ministro mentiu quando falou sobre o tema no Parlamento. Por seu turno, o Ministério das Finanças afirma: “reitera-se todas as declarações públicas que o ministro das Finanças fez sobre esta matéria”. O novo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, reafirmou ontem o programa de reformas que se propôs fazer, nomeadamente a fixação de tempos mínimos de consultas, preservar a qualidade da medicina e dignificar a classe. Sobre uma chaga que durante décadas afetou a sociedade portuguesa, fique a saber que há menos abortos, menos reincidência e nenhuma mortalidade materna. São dez anos de Interrupção Voluntária de Gravidez, explicados em 2 minutos e 59 segundos, pela Carolina Reis, no Expresso on-line. A redução do desemprego no quarto trimestre do ano passado foi devida em 91% à criação de emprego, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Uma nova plataforma de ensino de português à distância foi lançada esta semana numa parceria entre a Porto Editora e o Instituto Camões. É o “português mais perto”. Mais de dois anos depois de ter começado, a investigação da Operação Marquês continua a engrossar: Rui Horta e Costa é o 21º arguido do processo e demitiu-se ontem do cargo de gestor dos CTT. O Ministério Público detetou duas transferências de 100 mil euros cada para offshores, uma controlada por Rui Horta e Costa e outra por Diogo Gaspar Ferreira. O Ministério Público decidiu abrir uma investigação ao caso da aposta ilegal de 50 mil euros feita na segunda-feira, algumas horas antes do início do Feirense-Rio Ave. Aguardam-se os palpitantes resultados desta investigação. As Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) vão continuar a gerir apenas os programas operacionais regionais e serão envolvidas na preparação do próximo quadro comunitário de apoio ao nível da dimensão regional, revelou ontem o ministro adjunto Eduardo Cabrita, em conferência de imprensa, no final da reunião do Conselho de Concertação Territorial, onde foi discutida a descentralização de competências para as CCDR. Esta posição do Executivo é um recuo face à primeira versão que foi entregue aos parceiros nesta discussão. Este ano já houve 32 agressões a árbitros de futebol em Portugal, oito dos quais são menores. É quase uma agressão por dia desde o início do ano. Retrato do mais recente e polémico membro da administração de Donald Trump: “A multimilionária Betsy DeVos passou (à justa) no exame do Senado e é a nova secretária (ministra) da Educação dos Estados Unidos. Critica a utilização de dinheiros federais para financiar o ensino, defende que seja cada Estado a decidir se autoriza armas nas escolas ou não e, sobre outras questões relacionadas com o ensino, tanto o seu percurso como a sua prestação perante o Senado são, para dizer o mínimo, muito pálidos”. Entretanto, o presidente norte-americano Trump acusa os juízes que bloquearam o seu decreto anti-migratório de terem motivações políticas. Em causa está a decisão de James Robart, um juiz de Seatle, que suspendeu a ordem executiva que proíbe a entrada nos Estados Unidos da América de pessoas com origem em sete países maioritariamente muçulmanos ( Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen ). A surpresa é que o juiz Neil Gorsuch, recentemente nomeado para o Supremo Tribunal por Donald Trump, terá criticado os tweets do Presidente relativamente à justiça e aos tribunais norte-americanos, considerando que são “desencorajadores e desanimadores”. Mas não o disse diretamente. As considerações terão sido feitas pelo juiz durante um encontro que ocorreu ontem com o senador do Connecticut, Richard Blumenthal, e que este revelou. Curioso paradoxo: o filme “Jackie”, que estreia hoje, sobre Jacqueline Kennedy, figura mítica do imaginário político e social dos Estados Unidos, interpretada por Natalie Portman, foi realizado por um cineasta chileno, Pablo Larraín. Tudo se concentra nos dias seguintes ao assassinato do marido, o presidente John F. Kennedy, num turbilhão de acontecimentos em que Jackie é compelida a lidar com questões que vão desde as exigências de funcionamento da Casa Branca até aos preparativos do funeral, passando pelo acompanhamento dos filhos, Caroline (que fez seis anos a 27 de novembro de 1963) e John Jr. (três anos completados a 25 de novembro, dia do funeral do pai). O estado brasileiro do Espírito Santo está a ferro e fogo. Os assassinatos na capital do estado, Vitória, e noutras cidades, começaram na passada sexta-feira quando amigos e familiares da polícia militar bloquearam os quartéis no fim de semana para exigir melhores salários, o que impediu o patrulhamento das ruas. Já houve 87 pessoas assassinadas e o governador interino, César Colnago, diz que os mil militares enviados são insuficientes para conter a onda de violência. Choque de titãs: para Wolfang Schaüble, ministro das finanças alemão, a possibilidade de aliviar a dívida grega está fora de questão, visto que viola leis europeias. Para tal ser possível, o país teria de abandonar a zona euro. O comentário é avançado pela Bloomberg, e vem no seguimento da posição do FMI acerca da necessidade de medidas de alívio adicionais sobre a dívida grega (leia-se: outro perdão). FRASES “Não me incomoda nada ser sucursal de um banco espanhol”. Artur Santos Silva, fundador e chairman do BPI até ontem, Jornal de Negócios. Pois, foi sempre essa a estratégia acionista do BPI… “Espero da próxima vez já falar em português”. Pablo Forero, novo CEO do BPI, Jornal de Negócios. Não vale a pena, Pablo. Nós percebemos. E os 900 trabalhadores que vão sair por rescisão amigável também. “Queremos manter o BPI em bolsa”. Gonzalo Górtazar, presidente do CaixaBank, jornal Eco. Ora um banco que tem 84,5% nas mãos de um acionista e apenas mantém 5,5% no mercado não é exatamente uma ação muito líquida, certo? Foi por isso que logo pela abertura dos mercados as acções caíram 15%. São os ditos cujos a antecipar o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde: menos uma empresa no PSI-20… O QUE ANDO A LER E A OUVIR Maria Teresa Horta é provavelmente mais conhecida como poeta e por ser uma das três Marias, co-autora com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, das “Novas Cartas Portuguesas” (1972), que por falarem sobre a condição e o corpo da mulher sem subterfúgios abalaram fortemente os brandos costumes da ditadura que o país viveu até 1974, tendo as três sofrido na pele as consequências desse desafio libertário que atiraram à cara do regime e da sociedade. Mas Maria Teresa Horta também escreve excelentes romances. Por isso, ainda bem que a Dom Quixote vem reeditando a obra de Maria Teresa Horta, que se iniciou há quase 50 anos. Volta agora a estar nas livrarias “Ema” (1984), que começa assim: “Ela olha em frente, sentada na cadeira de balouço: palhinha e madeira baça, lisa, onde passeia os dedos a deslizarem suaves; as unhas levemente a arranharem, só no gesto brando, prudente, não vá ficar alguma marca. / “Prudentemente. Não vá ficar alguma marca da tua passagem por aqui. Algum vestígio”. / -Ema.” Só uma grande escritora escreve assim. Só uma grande escritora consegue que ouçamos o barulho de alguém a raspar os dedos no braço da cadeira de balouço. “Ema” recebeu o Prémio Ficção da Revista Mulheres em 1985. Quanto a discos, agora que aí está uma das maiores exposições sobre a obra de Almada Negreiros, na Gulbenkian, talvez não seja descabida conhecer a sua poesia pela voz de outro genial artista, de seu nome Mário Viegas, o mais fantástico “diseur” de poesia (ele detestava que dissessem que era um declamador) que ouvi ao vivo. Infelizmente, deve ser muito difícil de encontrar “Mário Viegas – No centenário de Almada Negreiros”, Orfeu, 1993. Mas é tão bom, tão bom, tão bom que vale a pena esforçar-se muito para ver se o consegue obter e fica a conhecer melhor dois génios: Almada e Viegas. E pronto, hoje o Curto fica por aqui, fraquinho porque não há grandes notícias. Tenha um excelente dia e anime-se: já só falta um dia para o fim-de-semana. Entretanto, vá passando pelo Expresso on-line, pela Tribuna (onde está o melhor do desporto nacional e internacional), pelo Expresso Diário, pelo Expresso da Meia-Noite e pelo Expresso mesmo, no sábado. |
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