sábado, 4 de março de 2017

Do Procópio ao Batô, a noite já não é uma criança

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Fugas
 
 
  Sandra Silva Costa  

Primeiro o Porto, cidade que, pelos ossos do ofício, conheço melhor. Andamos pelas ruas e é uma autêntica Babel linguística: inglês, francês, italiano, castelhano, mandarim, japonês, português com cheirinho (do Brasil). O turismo instalou-se em massa, salve Ryanair e outras que tais!, e com ele alterou-se radicalmente o figurino da cidade. Para o bem e para o mal – essa é uma discussão interessante, mas conta de outro rosário. Para o que hoje aqui nos traz, o que importa é o abre-e-fecha constante de bares e afins que a euforia de uma cidade que foi escolhida como destino europeu nos anos 2012, 2014 e 2017 acarreta. Onde ontem era um bar de caipirinhas vendidas ao balde, hoje descobrimos que aqui agora mora (mais) uma casa de tapas – os exemplos são aleatórios, mas mostram bem onde quero chegar.
No meio desta enxurrada de moradas novas e cool, há uma meia dúzia de estabelecimentos que se aguentam, mais ou menos discretos, contra a corrente do que é trendy. No Porto, é o caso do Pinguim, do Pipa Velha, do Labirintho, do Bonaparte, do Pixote e do Batô (este é em Leça, mas não falar dele seria um crime de lesa-noctívagos). Cada um à sua maneira, foram resistindo às modas e continuam a dar de beber e a dançar com a cidade.
Em Lisboa o panorama é semelhante. Poderíamos ter seleccionado outros, mas optámos pelo Procópio, o Foxtrot, A Paródia, o Cockpit, o Americano, o British e o Finalmente. A maioria nasceu na euforia do pós-25 de Abril, outros antes disso. São casas de afectos, bares e discotecas que vêem Lisboa passar de geração em geração para se transformarem em parte do património vivo da cidade.
“Mudam-se os tempos, ficam os bares”, escrevem a Mara Gonçalves e o André Vieira, que foram para a noite medir o pulso aos resistentes. É de ler, vá por mim.
Já o Humberto Lopes traz-nos o relato de uma viagem por “um país que não cabe no mapa”. A Guiné-Bissau é um território “singular e diverso”, com um litoral “recortado como um grande delta, a destoar naquele pedaço da costa africana, de linhas mais a prumo”, com uma “imensidão de etnias e línguas e culturas”, uma “variedade de ecossistemas e paisagens”. E depois ainda há “a espontânea afabilidade das gentes, que é como uma morabeza continental”. Tudo isto e os “areais dourados dos Bijagós”, a menina dos olhos do turismo de natureza e o foco dos programas que operadores turísticos portugueses acabam de lançar. Está tudo aqui.
A fechar, deixo-lhe uma sugestão para refeições partilhadas num lugar onde “sobressaem o conceito rigoroso, o apuro culinário e o gosto pelos bons vinhos”. O José Augusto Moreira guia-nos pelos sabores do Garfo & Rolha, um gastrobar em Leça da Palmeira onde o ambiente “remete para a ideia de uma casa de bonecas, só que dedicada aos vinhos e boas comidas”. E o que se come por lá? Pataniscas, amêijoas, robalo no saco, arroz caldoso de marisco, naco de novilho – e mais não digo. Leia e ganhe apetite.
A conversa já vai longa, despeço-me com os votos do costume: boas viagens! Até para a semana e vá passando por nós.

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