Israel não tenciona ceder a qualquer exigência dos cerca de 1500 prisioneiros palestinianos em prisões israelitas que ontem começaram uma greve de fome para tentarem obter mais privilégios. O ministro da Segurança Interior, Tzachi Hanegbi, citado pelo diário hebraico "Ha'aretz", foi taxativo: "Os prisioneiros podem não comer por um dia, por uma mês, até morrer à fome, no que me diz respeito".
Os detidos alimentar-se-ão apenas de líquidos, especificou ontem o porta-voz da administração das autoridades penitenciárias Ofer Lefler. Nas prisões de Nafhah e Eshel (Sul de Israel) metade dos detidos fizeram greve, uma ideia que se espalhou a outras entre os 20 locais onde estão detidos cerca de 8000 palestinianos em Israel - destes, 3.880 são considerados um perigo para a segurança do Estado hebraico.
Entretanto, um responsável dos serviços prisionais garantia que nenhum prisioneiro iria morrer de fome, já que iriam ser acompanhados por médicos e, se necessário, seriam alimentados à força. Também foram tomadas disposições de segurança contra possíveis motins, acrescentou à AFP.
"Imediatamente após o início da greve de fome, privámos os detidos de um certo número de privilégios. Os aparelhos eléctricos - nomeadamente televisões e rádios - foram confiscados, foram privados da distribuição de jornais, doces e cigarros, assim como de visitas", dizia um comunicado da administração penitenciária. Os grevistas querem telefones públicos nas alas da prisão, a remoção dos vidros que os separam das visitas e que acabem o que chama buscas corporais "intrusivas".
"Declaramos, em nome de Deus, a nossa decisão de lançar uma greve de fome", começava por anunciar um comunicado da Sociedade Palestiniana de Prisioneiros. "Israel tem-nos roubado todos os nossos direitos, ignorado a nossa dignidade e tem-nos tratado como animais", concluía. Israel recusa-se a modificar qualquer uma destas regras. A maior parte das reivindicações dos reclusos, dizem os serviços de segurança das prisões, serviriam para que estes pudessem planear atentados. "Eles não querem telefones para dizer 'olá' às famílias. Querem dar ordens para ataques terroristas", disse o superintendente de uma das prisões, Yosef Mikdash. Uma palestiniana que participou, em Nablus, numa das várias manifestações pela Cisjordânia e Faixa de Gaza em apoio dos prisioneiros segurava uma fotografia do marido, detido em Israel. Fatma Maslamani, 43 anos, queixou-se, à Associated Press, de não o ver há quatro anos. "Se o pudesse visitar, pediria para levantarem o vidro para que ele pudesse abraçar os seus filhos." Dahlan pode voltar ao governo palestiniano.
Entretanto, a AFP informava que Mohammad Dahlan, o homem que estará por trás da revolta de militantes da Fatah em Gaza que exigem reformas e que é ainda o homem forte da segurança na Faixa, poderá voltar a integrar o governo palestiniano. Citando responsáveis palestinianos sob anonimato, a agência dizia que Dahlan tem feito pressão para ocupar uma pasta importante que não só lhe dê competências no âmbito da segurança mas também na política geral.
Contando com o apoio do primeiro-ministro Ahmed Qorei, o seu reingresso acabava por esbarrar na oposição do presidente Yasser Arafat, acrescentaram os responsáveis sob anonimato. Uma reunião entre Dahlan e Arafat, marcada para os próximos dias, seria ser um sinal de alguma flexibilidade do líder palestiniano.
Dahlan, que nega estar por trás da revolta dos jovens militantes das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa que pedem luta contra a alegada corrupção dentro do movimento a que estão ligados, a Fatah, fez parte do anterior executivo de Mahmud Abbas (Abu Mazen).Abbas e Dahlan acabaram por se demitir após desentendimentos entre governo e Arafat sobre quem deveria exercer autoridade sobre as forças de segurança palestinianas. Qorei, o chefe do governo seguinte, também ameaçou demitir-se na sequência da mais recente crise de rebeldia dentro da Fatah, mas acabou por ficar depois de várias promessas de Arafat, incluindo a garantia de o deixar remodelar o executivo.
Maria João Guimarães | Público
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