segunda-feira, 17 de abril de 2017

DIA DA TURQUIA. DITADOR PERFILA-SE E AFIRMA-SE DIGNO DESTA UE



Segunda-feira, a abrir o PG com o Curto cafeínado por Ricardo Marques, lá do burgo do tio Balsemão Duracel da Marinha e Bilderberg de la Impresa.

Dia da Turquia, o ditador perfila-se e afirma-se, Erdodan. Digno do ingresso na União Europeia de Merkel, Schauble, Dijsselbloem e outros - que dizendo-se democratas ditam regras apesar de não terem sido eleitos para os cargos que desempenham na cada vez menos democrática Europa do trinta e um de boca dominada pela seita que nos acossa e nos miserabiliza.

Blá-blá-blá…

Adiante. E é mesmo muito adiante. Hoje, o que se segue está isento das nossas considerações. Saibam que há os que vão pensar que “também não se perde nada”. Pois, está bem. Por vezes até concordamos.

Bom dia e bom café… expresso. (MM | PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Marques | Expresso

Se é sim, será assim

“Nasce o ideal da nossa consciência da imperfeição da vida. Tantos, portanto, serão os ideais possíveis, quantos forem os modos por que é possível ter a vida por imperfeita. A cada modo de a ter por imperfeita corresponderá, por contraste e semelhança, um conceito de perfeição. É a esse conceito de perfeição que se dá o nome de ideal”

A imperfeição da vida…

Tinha o livro onde está este parágrafo de Fernando Pessoa à minha frente ontem à noite quando surgiram as primeiras notícias de resultados no referendo da Turquia – o primeiro sinal de que algo tinha mesmo mudado. A CNN escrevia que Erdogan acabara de declarar vitória e que a oposição prometia exigir a recontagem dos votos. Eis algo que faria todo o sentido num mundo ideal – mas muito pouco no mundo louco e imperfeito em que vivemos.

Vejamos: Erdogan, o presidente, declarou vitória no referendo que tinha como único objetivo torna-lo uma espécie de sultão dos tempos modernos, uma figura todo-poderosa quase perpétua num país-chave para o equilíbrio geoestratégico mundial. Ou seja, ao enunciar a vitória reclamou para si esse poder total, aniquilando a democracia parlamentar, substituindo-a por um regime presidencial não-laico e esvaziando desde logo qualquer queixa da oposição que pudesse surgir – como surgiu. Em causa está a recontagem de cerca de metade dos votos.

A nova Turquia só entrará em vigor após as presidenciais de 2019, mas a vitoria curta do “sim” no referendo (51,34 vs 48,66) é na verdade um enorme “Sim” a Erdogan.

Ou, de outra forma, se é “sim”, então será assim.

Há semanas, na revista E, o José Pedro Tavares, correspondente do Expresso em Ancara, publicou um extenso e detalhado artigo sobre a situação na Turquia e o que estava em causa no referendo. É algo a que vale mesma pena voltar. Na Stratfor pode ler uma análise dos resultados de ontem (o “não” ganhou nas principais cidades).

Prepare-se porque muitas das conversas hoje serão sobre o que poderá acontecer na Turquia e sobre a forma como o resto do mundo vai digerindo a vitória de Erdogan, a que assistiram de perto alguns deputados portugueses.

É difícil perceber ao certo o que sairá da votação de ontem, mas as alternativas parecem tudo menos ideais. A prevalecer a contestação da oposição aos resultados, e a margem foi mesmo mínima, o país ficará dividido (e as imagens da tentativa de golpe de Estado do ano passado e a purga que se seguiu ainda estão muito presentes).

A consumar-se a vitória de Erdogan e tudo que ela significa, bom... talvez seja mais um modo de ter a vida como imperfeita. Longe de ideal.

Não é caso único, e assim começamos a volta ao mundo das notícias (que se quer breve).

OUTRAS NOTÍCIAS

Partimos de longe, da Coreia do Norte, onde está em curso uma verdadeira guerra de nervos. Após a impressionante parada militar do fim de semana, para assinalar o Dia do Sol, alguém carregou num botão para os líderes do regime assistirem ao voo de um míssil de longo alcance – mas a coisa mal deixou a Terra e desfez-se em mil pedaços. Pode ver aqui as melhores imagens da parada (incluindo a fotografia de um míssil que parece flutuar num mar de flores…) e ler aqui o que correu mal no lançamento.

Os Estados Unidos da América não parecem muito impressionados com o falhanço, ainda que muitos especialistas tenham ficado intrigados com algumas das peças em exposição na parada das tropas do líder Kim Jong Un. Os americanos têm a caminho uma espécie de armada invencível.

Ao mesmo tempo, Mike Pence, o vice-presidente dos EUA, está na Coreia do Sul (visitou ontem à noite a zona desmilitarizada na fronteira entre as duas Coreias) e considerou o teste norte-coreano como uma provocação. Durante o fim-de-semana, a administração Trump fez saber que tudo está em aberto e que a situação “norte-coreana” está a ser discutida com os aliados dos EUA e, ao que parece, também com a China, esse inimigo preferido da teoria trumpiana.

Neil Gorsuch, o juiz indicado por Trump para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, começa hoje a trabalhar e, como escreve o The New York Times, o órgão máximo da justiça norte-americana está tão dividido politicamente como o resto do país.

E em Cleveland, as autoridades procuram esta manhã um homem que terá assassinado uma pessoa durante uma transmissão em direto no Facebook. O suspeito publicou também na sua página pessoal uma conversa em que assume ter morto 13 pessoas, informação que não foi confirmada.

As notícias da Síria assemelham-se cada vez mais a uma mera contagem de vitimas. Dez mortos num dia, vinte mortos no outro, 126 mortos este fim-de-semana quando uma coluna de civis e combatentes feridos que tentavam sair de duas localidades foi alvo de um ataque. O conflito já há dura há tanto tempo que se tornou difícil saber quem são os bons, quem são os maus, se ainda há bons ou se sempre houve apenas maus. E do Vaticano vem um pedido. Que ninguém vai ouvir.

Como também já ninguém parece ouvir, ou ver ou saber o que se passa no Mediterrâneo, esse enorme cemitério do seculo XXI.

Este fim de semana morreu a pessoa mais velha do mundo – o que significa desde logo que há uma nova pessoa mais velha no mundo. É uma espanhola que nasceu em 1901.

Uma das notícias que estará, por certo, na ordem do dia é o surto de sarampo em Portugal. Uma adolescente de 17 anos, cujo quadro clínico se agravou, foi transferida de Cascais, onde foram confirmados seis casos, para o Hospital da Estefânia, com pode ler nesta notícia do Expresso. Esta tarde será feito um novo ponto de situação por parte da Direção Geral da Saúde.

Marcelo, que promulgou nos últimos dias a lei que obriga o fisco a publicar estatísticas de transferências para off-shores, recebe hoje o PSD, o PS e o Bloco de Esquerda.

(O parágrafo que se segue é longo, mas vale a pena para perceber quão longe do ideal pode estar a vida)

Na Madeira, segundo a agenda, hoje há reunião da 1.ª Comissão Especializada Permanente de Política Geral e Juventude na Assembleia Legislativa. Além da reapreciação do “Decreto intitulado ‘Oitava alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 24/89/M, de 7 de setembro, que estabelece a Estrutura Orgânica da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira’, ao abrigo do disposto nos n.ºs 1 e 3 do artigo 165.º do Regimento”, a ordem de trabalhos prevê ainda informação relativa a dois requerimentos do PCP para audições parlamentares sobre os seguintes assuntos: “Com vista à definição do papel da Região Autónoma da Madeira nas relações entre a República Portuguesa e a República Bolivariana da Venezuela” e “Sobre as relações institucionais e acordos entre a Região Autónoma da Madeira e a República Bolivariana da Venezuela”.

Oportunidade para um ponto sobre a situação na bolivariana república. Após os mortos e feridos da última semana de manifestações e confrontos, escreve o Jornal de Negócios, via agência Lusa, que há mais alimentos à venda, ainda que muito mais caros. Ontem, a terra tremeu, literalmente, e em sentido figurado quando foram detidos seis homens que pretendiam atacar a casa de Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda e um dos principais opositores de Nicolas Maduro.

A GNR já fez as contas à Operação Páscoa, que terminou à meia-noite, há pouco mais de oito horas, e registou 657 acidentes, dos quais resultaram quatro mortos e 21 feridos graves.

Em Coimbra, está marcada para hoje, 17 de abril, uma Assembleia Magna para que os estudantes decidam sobre a possibilidade de a Universidade passar a fundação. Coincidência ou nem por isso, passam hoje 48 anos do dia do inicio da crise estudantil de 1969, que pode recordar neste artigo do Rui Cardoso.

Dois assuntos que vão dominar a semana: Domingo há eleições em França (e ontem houve confrontos nos arredores de Paris) e no sábado há Sporting-Benfica, jogo escaldante que vai aquecendo com a discussão que por aí anda sobre cânticos e assobios e provocações e, no fundo, sobre aquele mau gosto que desde sempre tem lugar cativo nas bancadas de qualquer estádio de futebol. (não é só cá, como se vê pela amostra francesa)

Portugal perdeu na final do Torneio das Nações em hóquei em patins, com a Argentina.

O surfista português Frederico Morais derrotou, durante o fim de semana, o brasileiro Gabriel Medina, antigo campeão mundial, e está na quarta ronda do Rip Curl Pro Bells Beach, terceira etapa do circuito mundial. Para não perder um segundo e ver em direto mais logo, quando forem sete da manhã na Austrália.

MANCHETES

Correio da Manhã: “Seguradora paga por morte de feto”

Jornal de Notícias: “Aplicações móveis acedem a dados pessoais ilegalmente”

Diário de Notícias: “Lisboa continua a deixar crianças de 4 anos fora do pré-escolar”

Público: “Desigualdade salarial pode impedir contratos públicos”

i: “Pais divorciados. Guia para minimizar os danos”

O QUE ANDO A LER

As frases de Fernando Pessoa que abrem este Expresso Curto foram publicadas pela primeira vez em 1922, na Revista Contemporânea, e fazem parte de um ensaio sobre a obra de António Botto (1900-1959). As edições Ática recuperaram o texto em 1975 e usaram-no, em jeito de prefácio, para a edição de “As canções de António Botto”.

É um daqueles livros antigos cheios de surpresas, que encontramos no fundo de uma prateleira. Tem na capa um desenho de Almada Negreiros, uma fotografia autografada de António Botto na quinta folha e estas palavras na página 237:

“Agora o mundo, acorda
No difuso desencanto
Da loucura de existir!”

Há Expresso Curto às seis da tarde e toda a informação, a qualquer hora, no site do Expresso.

Tenha um bom dia. Poderá não ser o ideal, mas que seja o menos imperfeito possível.

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