sábado, 22 de abril de 2017

Eu, Psicóloga: Nomofobia: quando a tecnologia escraviza.



Você consegue ficar longe de seu aparelho celular por 10 minutos ou mais? Ou já parou para perceber quantas vezes durante uma hora desbloqueia a tela de seu equipamento apenas para averiguar as coisas? Se você se identifica com essas situações fique atento, pode ser que seja uma pessoa “nomofóbica” – nomenclatura dada a pessoas que sofrem com o desconforto ou a angústia causados pela incapacidade de comunicação através de aparelhos celulares ou computadores.

Algumas pessoas chega a abrir mão de várias coisas, como por exemplo, sair com amigos, por causa do celular. E por conta disso, alguns especialistas afirmam que essa pode ser a doença que tem os sintomas dos maiores vícios do futuro.

O fenômeno da nomofobia foi apontado em pesquisa realizada em 2012 na França. Durante um estudo no país, 34% dos jovens de 15 a 19 anos por lá achavam “impossível” ficar mais de um dia sem celular. Quando os números se referem ao Brasil, a situação não parece ser muito diferente. Atualmente, há mais de 276 milhões de aparelhos celulares com linhas ativas no país, o que ultrapassa em mais de 70 milhões o número de brasileiros.

A pesquisadora do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Anna Lucia Spear King, conta que em um estudo, 34% dos entrevistados sem problemas psicológicos afirmaram ter alto grau de ansiedade sem o telefone por perto. E 54% definiram como “pavor” o fato de ficar sem o aparelho.

“A nomofobia não costuma aparecer sozinha. Em geral, está associada aos transtornos de ansiedade, que podem ser síndrome do pânico, transtorno bipolar, estresse pós-traumático, entre outros. Tratando essas doenças com remédios e terapia, a nomofobia também desaparece”, disse Anna.

A revista Time e Qualcomm realizaram uma pesquisa em diversos países sobre o assunto e chegaram a conclusão que o uso de celular está cada vez maior. Durante a pesquisa cinco mil participantes foram entrevistados, destes, 79% disseram que se sentem mal sem o telefone. No Brasil, a pesquisa também foi aplicada, e 58% disseram que usam o celular a cada 30 minutos, outros 35% a cada dez minutos.

Sintomas

Angústia, ansiedade, falta de ar, náuseas e depressão são alguns dos sintomas que uma pessoa namofóbica pode apresentar seguido de hábitos como manter o celular ligado 24 horas por dia e dormir com o celular embaixo do travesseiro, mentir sobre tempo gasto na rede, carregar consigo mais de uma bateria, carregadores ou aparelhos reserva, conferir obsessivamente as chamadas, e-mails e mensagens de aplicativos, deixar de fazer atividades que gosta para ficar no celular ou na internet e colocar relacionamento ou trabalho em risco por conta do aparelho.

“Quando você repete determinado comportamento, como, por exemplo, o jogo compulsivo, depois de poucos minutos ocorre a liberação de dopamina (conhecida como “hormônio do prazer”), que faz com que a motivação seja aumentada, renovada, criando assim um círculo vicioso. No caso do smartphone, este comportamento leva a pessoa à necessidade de ficar cada vez mais conectada, em contato com o aparelho”, disse o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu.

Ainda segundo ele, as consequências desse vício podem ser sentidas no organismo. Uma pesquisa realizada na Coreia do Sul, comparou os efeitos no cérebro de pessoas que costumam passar muito tempo na internet com dependentes de álcool e outras drogas. E, de acordo com Nabuco, em todos os casos analisados houve desgaste significativo na bainha de mielina – uma substância branca que envolve o neurônio e aumenta a velocidade de condução do impulso nervoso, algo que já era uma consequência neuroquímica conhecida do consumo abusivo de drogas, mas ainda não havia sido relatada em dependentes digitais.

Tratamento

A psicoterapia é vista como um tratamento para a doença, dependendo da dependência, se ela estiver associada a outros transtornos psiquiátricos, pode ser que precise usar medicamentos.

Especialistas afirmam que algumas atividades também podem ajudar no tratamento ou evitar que a pessoa se torne nomofóbica, como, por exemplo, fazer atividades que estimulem convívio social e a saúde, como a prática de esportes, ficar atentos a possíveis surgimentos de problemas emocionais que tenham relação com o uso da tecnologia, como briga com a família, e evitar o uso de dispositivos em atividades em que é possível priorizar o convívio com familiares, como encontros e festas.

Debora Oliveira

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