segunda-feira, 26 de junho de 2017

CPLP | FALANDO DE PAÍSES DESTA LÍNGUA


Manuel Rui | Jornal de Angola | opinião

Não vou mais esquecer as palavras do juiz relator do Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil quando, no final do seu voto condenatório do Presidente Temer, afirmou que não trocaria verdade viva por cadáver, poderia assistir ao velório mas não carregaria o caixão...

Tratava-se de matéria de corrupção inimaginável com um presidente da República a receber, às dez da noite, em seu gabinete, um membro da família Batista, a maior processadora de carnes do mundo (quanta picanha deles teremos comido por aqui). O tal de Batista levou um gravador escondido para registar a conversa com Temer e terá levado instruções para calar a boca a um dos que estava preso (que são muitos) para ser entregue a primeira prestação por outro à família do detido... mas o cara que levou uma mala com a grana, foi filmado e entrou em cana. 

Estamos a falar do maior país da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Parece que tudo, para quem é supersticioso, terá começado da derrota de cabazada com a Alemanha no último campeonato do mundo de futebol. A situação social foi-se decompondo e a economia do país é às curvas, sendo certo que o país pode e vai ser um dos países maiores e melhores do mundo porque também tem gente boa por lá. Tem gente boa, sim. E tem uma singularidade. Na ladroeira desde o mensalão até ao lava jato, não aparece um brasileiro negro. O negro não chega a esses contornos pois quem anda perto do dinheiro de gigantes como a Petrobras, a Odebrecht ou os Batistas das carnes tem de ser branco. Nem para carregar a mala com a nota. Um brasileiro falava que “estava tudo preso e só faltavam os do palácio”. Aí, como o ex-governador do Rio já foi condenado por vários delitos e deixou as gavetas vazias, querem reduzir para cinquenta por cento os patrocínios às escolas de samba. Falaram que o samba é com o pé e não para gastar fortunas em coreografias. E o pessoal do morro pode falar que roubar o dinheiro do povo é com as mãos.

Entretanto, finalmente, em Moçambique, país nosso irmão como todos os que foram colónia portuguesa, o líder da Renamo fez uma aproximação à paz mas logo veio a denúncia de que a Frelimo mandara comprar mercedes top de gama para os ministros. Na televisão, uma militante do partido democrático, falou na televisão – e verdade seja dita que lá tem liberdade de expressão – que podiam discutir isso no parlamento mas... no fim, mesmo os que eram contra iam receber a viatura...

O país da nossa comunidade que mais se adianta, consegue combater a escassez, plantar árvores para chamar a chuva, aperfeiçoar a democracia e expandir morabeza que é um estado de espírito intraduzível, é mesmo Cabo Verde. O que tem menos recursos naturais, incluindo água, é o mais rico em paz e combate às desigualdades.

Agora, o milagre, a Guiné entrou em paz. Depois de quase já ninguém acreditar pois desgovernava-se no intervalo de golpes de Estado sanguinários. É significativo que nenhum presidente eleito cumpriu mandato até ao fim. Retomando, o golpe de Estado de Nino Vieira em 1998, que pôs fim à presidência de Luís Cabral e à “partilha” ideológica com Cabo Verde e KumbaIalá em 2003... e uma morte devido a doença de Malam Bacai Sanhá, são o saldo após o multipartidarismo desde 1991. Anote-se que já teve 12 presidentes mas só quatro eleitos. Da Guiné fala-se muito em iates e passagem de droga, sei lá? O certo é que parece que desta e por cansaço a Guiné vai ser o país que deve honrar a memória de Amílcar Cabral. A Guiné que veio aqui ajudar nas trincheiras de Angola nas horas difíceis.

Portugal, com a revolução dos cravos que merecia o prémio Nobel da paz, depois que se tornou independente das colónias, fez um percurso de luta cívica pela democracia, entrou no euro, malfadou-se com o tratado de Lisboa e a Comunidade Europeia colocou-o na periferia (as periferias é que enchem a barriga dos centros), sujeitou-se ao cerceio da sua soberania com a imposição de uma troika que, por um triz, não obrigou que vendessem a Torre de Belém ou cobrassem imposto aos mortos.

Com um governo atípico de aliança à esquerda, deu uma grande lição e acabou saindo do deficit excessivo, com elogios do ministro alemão que antes não acreditava, tão pouco o holandês que só bebe leite e não gosta de mulheres. É um bom tempo para nós conversarmos e aperfeiçoarmos o nosso relacionamento.

Escrevo estas crónicas aos sábados ou domingos para saírem às quartas. Agora, vejo pela televisão que Portugal, o distrito de Leiria, mais propriamente em Pedrógão, grassa um incêndio florestal que já ceifou dezenas de vidas. Esperei pelo futebol como forma não de compensar mas oferecer um pouco de alegria aos portugueses que, como eu, gostam de futebol. Nada, Portugal empatou com o México. A vida tem destas coisas. Fico a admirar a solidariedade para com as vítimas. É assim mesmo e força Portugal!    

S. Tomé vai indo sem confusões de monta.

De nós não falo mas sei que as urnas já chegaram. Vi uma no jornal. Custa a passar o tempo até ao voto e o dia seguinte.

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