A portuguesa a quem os manifestantes contra Nicolás Maduro chamaram “senhora liberdade” ficou ferida na sexta-feira, dia da sessão inaugural da Assembleia Constituinte da Venezuela, ao ser atingida num braço por uma bala de borracha quando enfrentava, uma vez mais, um veículo militar. Maria José Castro foi entretanto submetida a uma intervenção cirúrgica.
Maria José Castro tornou-se em abril passado um dos rostos dos protestos nas ruas da Venezuela contra o Presidente Nicolás Maduro, quando tentou travar um tanque militar.
“Ela está na clínica a ser operada, para extrair uma bala de borracha”, adiantaram na última madrugada fontes próximas da portuguesa, citadas pela agência Lusa.
Pouco antes das 15h00 de sexta-feira (20h00 em Lisboa), já depois de inaugurada a Assembleia Constituinte, a Guarda Nacional Bolivariana empregou gás lacrimogéneo e balas de borracha para tentar dispersar manifestantes concentrados na autoestrada Prados del Este. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas.
Foram dispersadas manifestações em Las Mercedes, El Rosal e Santa Rosa de Lima. Em Chacaíto, na zona leste de Caracas, a carga das forças de segurança fez pelo menos 11 feridos.
A oposição a Maduro havia apelado a uma marcha de protesto com destino à sede do Parlamento, tendo em vista contestar a sessão inaugural da Assembleia Constituinte, eleita há quase uma semana. Mas os manifestantes foram senso sucessivamente dispersados pela Guarda Bolivariana.
Constituinte começa a trabalhar
Dotada de amplos poderes e com um mandato de duração indefinida, a Assembleia Constituinte começa já este sábado a dar os primeiros passos para reformular a Constituição de 1999, promulgada pelo antigo Presidente Hugo Chávez.
Segundo o sucessor de Chávez, tratar-se-á, entre as paredes do Palácio Legislativo, sob a presidência de Delcy Rodríguez, ex-ministra venezuelana dos Negócios Estrangeiros, de fazer regressar o país à paz e reabilitar uma economia em rápida desagregação.
Para a oposição, o objetivo do novo órgão é outro: prolongar o mandato do Presidente, que à luz dos atuais preceitos constitucionais acabaria em 2019, e ampliar-lhe a esfera de poderes.
“Não cederemos”, lia-se nas últimas horas na conta da Mesa de Unidade Democrática, aliança oposicionista, no Twitter.
Nicolás Maduro esteve ausente da tomada de posse dos novos deputados. Mais tarde, durante uma cerimónia militar com a presença da presidente da Constituinte, quis defender que, como a nova assembleia, o país chegará “à verdade e à justiça”.
Este sábado os ministros dos Negócios Estrangeiros de quatro dos cinco países-membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) reúnem-se em São Paulo para discutir a crise na Venezuela. Na prática, estes países preparam-se para fechar as portas do mercado comum sul-americano a Caracas “por rutura da ordem democrática”.
Recorde-se que a Venezuela estava já suspensa do Mercosul desde dezembro, mas por razões comerciais.
Carlos Santos Neves - RTP
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