A constante subida de preços dos produtos na Venezuela está a "devorar" o salário dos venezuelanos que são obrigados a fazerem "milagres" com as contas, para "fazer render" o dinheiro e conseguir os produtos para levar diariamente à mesa.
"Além de ter que estar em filas para conseguir pão, arroz, farinha de milho e outros produtos que escasseiam rapidamente, temos também que fazer milagres, fazer render o dinheiro, porque os preços dos produtos devoram rapidamente o salário", disse Yesenia Aponte à Agência Lusa.
Às portas de um supermercado em Chacao, esta venezuelana de 27 anos, casada e mãe de uma criança, sublinhou que os trabalhadores na Venezuela recebem o salário dividido por quinzena mas que "num abrir e fechar de olhos, com a compra de alguns produtos, as receitas esfumam-se".
"Em casa entram dois salários mínimos por mês, o meu e o do meu marido, ou seja 325.544 bolívares (aproximadamente 25 euros) quinzenais. Um pacote de meio quilo de Cerelac para a miúda custa mais de 30 mil bolívares (2,22 euros), o mesmo que custa uma caixa de ovos, pelo que só na compra destes dois produtos vão 20% do salário", explicou.
Por outro lado, Alfonzo Córdoba queixou-se do preço da massa que ronda os 25.000 bolívares (1,85 euros) cada quilograma, da lata de atum pequena que ronda os 7.000 bolívares (0.52 euros) e de que um café custa mais de 4.000 bolívares (0,30 euros).
"Agora até começou a aparecer macarrões em pacotes de 250 gramas, porque as pessoas não podem comprar mais com o que ganham e por isso toda a gente está emagrecendo. Dizem que os preços estão equiparados aos custos internacionais, mas ganhámos uma miséria, porque a moeda desvaloriza-se constantemente", disse.
Profissional da construção civil, este venezuelano de 50 anos, diz nunca ter vivido "um momento tão difícil" e sustenta que "os políticos estão acabando com tudo, oferecem prosperidade e qualidade de vida, mas terminam impulsionando a pobreza e obrigando as pessoas a dependerem da bolsinha de produtos subsidiados que o partido distribui".
"Supõe-se que nos supermercados estatais as coisas seriam mais baratas, mas o que mais se consegue são cartazes políticos e às vezes uma que outra coisa ligeiramente mais barata", disse.
Adela Martínez, de 55 anos, recusa ter o "cartão da pátria", promovido pelo Presidente Nicolás Maduro, para ter acesso a alguns serviços e bens subsidiados.
"O meu documento de identidade é a 'cédula' (BI) e será assim enquanto Deus me ajudar. Eu trabalho, não tenho tempo para fazer filas e agora até isso nos querem impor", frisou.
A venezuelana queixa-se de falhas na distribuição de produtos à população e explicou que na Venezuela para comprar produtos básicos é necessário colocar o dedo num leitor de impressões digitais.
Segundo Adela Martínez "antes, no tempo do capitalismo, acabava o creme de dentes e em qualquer lado se conseguia, agora um creme é de tamanho mais pequeno, é difícil de conseguir e custa 18.000 bolívares (1,33 euros)", disse.
"Cada vez que anunciam um aumento do salário, sinto que sobe a tensão e uma angústia grande, porque praticamente tudo duplica de preço. Este deve ser o único país onde as pessoas não ficam contentes quando lhes aumentam o salário", concluiu.
Fonte: Lusa
Foto: © Reuter
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