Os empresários portugueses na Catalunha estão preparados para mudar a sede social das suas empresas para outras regiões de Espanha, assim como já estão a fazer as grandes sociedades com sede em Barcelona.
“Para o negócio é mau e vou-me embora daqui logo de seguida. Já tenho tudo preparado”, revelou à agência Lusa Ricardo Paulo, dono de uma empresa de importação e distribuição para toda a Espanha de vinhos e produtos ‘gourmet’ portugueses.
Ricardo Paulo já foi ao notário mudar a sede social e fiscal da sua empresa para fora da Catalunha e se a situação piorar está pronto também para mudar a localização do armazém e fechar a loja e o restaurante que tem em Barcelona.
“Os poucos valores que tenho já estão em Portugal e, assim como eu, os espanhóis e os catalães já meteram o dinheiro a salvo, fora da Catalunha”, assegura o empresário português.
O presidente do Governo regional catalão, Carle Puigdemont, deverá ainda hoje declarar a independência da região e ainda não é claro o que pode acontecer em seguida.
A situação de grande incerteza tem levado, nos últimos dias, as grandes empresas, principalmente as cotadas na bolsa de valores, a mudar a sua sede social para outras regiões de Espanha.
As empresas mais pequenas, que também não se podem dar ao luxo de ficar numa região que deixa de pertencer à União Europeia, estão a tomar medidas idênticas.
“No caso em que se declarasse a independência, eu, apesar de ser um pequeno empresário, não teria alternativa e teria de trocar a sede social das duas empresas em que sou diretor-geral para fora da Catalunha”, garante um outro empresário português no mesmo setor, Rui Fernandes, há 14 anos a viver em Barcelona.
Mesmo assim, Rui Fernandes está otimista e pensa que “há muita histeria” que é transmitida pelos órgãos de comunicação social.
Os dois empresários estão também muito preocupados com a “rutura social” que a caminhada dos separatistas em direção à independência está provocar na sociedade catalã.
“Entre amigos não se tocam determinados temas. É como um tabu. Não se fala de certas coisas para ninguém se chatear”, disse Ricardo Paulo, acrescentando que “as pessoas a favor do ‘não’ à independência andam amedrontadas no meio da rua com medo de expressar as suas opiniões”.
O Governo catalão sustentado por uma maioria parlamentar que apoia a independência da região organizou em 01 de outubro um referendo ilegal, muito polémico, em que apenas 42% dos eleitores foram votar para decidir por esmagadora maioria que desejam ser independentes de Espanha.
A consulta foi boicotada pelos movimentos e partidos que não apoiam a separação da Catalunha de Espanha, apesar de muitos deles também defenderem a realização de uma consulta popular na região, mas feita de acordo com as regras aceites por todos e não apenas de uma das partes.
“Já saí de metade dos grupos da [rede social] Whatsapp com amigos meus em Barcelona, às vezes tenho discussões com a minha mulher [que é catalã], discussões com a família sobre este tema”, afirma Rui Fernandes, concluindo que a divisão na sociedade catalã “vai demorar muitas décadas a resolver, independentemente do que acontecer” a partir de agora.
Há cerca de 14.000 portugueses inscritos no consulado de Barcelona, no que é uma comunidade considerada “de nível médio, alto”, com muitos licenciados e mestrados a trabalharem nos mais variados setores de atividade.
Lusa
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