domingo, 8 de outubro de 2017

Espanhóis protestam pela "unidade" ou pelo "diálogo" com a Catalunha

Tensões entre Madri e os separatistas na Catalunha mergulharam o país na maior crise política desde o retorno à democracia

Em Madri, milhares de espanhóis vestidos de branco estavam em passeata pelo centro | Foto: Gabriel Bouys / AFP / CP
Em Madri, milhares de espanhóis vestidos de branco estavam em passeata pelo centro | Foto: Gabriel Bouys / AFP / CP
A preocupação que tomou a Espanha desde o referendo de autodeterminação da Catalunha era manifestada neste sábado nas ruas, com protestos pedindo pela unidade da Espanha ou o diálogo entre os governos central e regional. Convocados pela iniciativa cidadã "Parlem? Hablemos?" (Conversamos?, em catalão e espanhol), os espanhóis começavam a se reunir em frente a várias prefeituras para incitar os catalães e o resto da Espanha ao diálogo.
As tensões entre Madri e os separatistas no poder na Catalunha desde o início de 2016 mergulharam o país em sua crise política sem precedentes desde o retorno à democracia em 1977. A crise, que também preocupa a Europa, afeta igualmente a Catalunha, onde vivem 16% dos espanhóis, porque, de acordo com pesquisas, metade da população não deseja a independência.
"A Espanha é muito melhor do que seus líderes", diz o manifesto da iniciativa cidadã, difundido pelo site Change.org, e que já reunia cerca de 9 mil assinaturas na manhã deste sábado. Em Madri, milhares de espanhóis vestidos de branco estavam em passeata pelo centro. "É hora de nos unir para mostrar a eles (aos líderes) que eles são incapazes e irresponsáveis", diz a declaração.
Paralelamente, uma marcha "patriótica" reunia no centro da capital espanhola os partidários da unidade do país com bandeiras nacionais. Estes últimos também são chamados a participar de uma grande manifestação no domingo (8) em Barcelona. O escritor Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, que descreveu a independência catalã como "doença", participará.
Ganhar tempo
Apesar da tensão, alguns gestos tímidos de apaziguamento surgiram. O delegado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo, pediu desculpas pela primeira vez na sexta-feira pela violência das forças de segurança durante o referendo no domingo, que causou pelo menos 92 feridos.
Já o presidente catalão, Carles Puigdemont, anunciou o adiamento de sua intervenção perante o Parlamento da Catalunha, previsto inicialmente para segunda. Os separatistas consideravam a possibilidade de declarar de forma unilateral a independência na sessão parlamentar de segunda.
Mas a agenda da nova reunião, prevista para terça-feira às 18h00 (13h00 de Brasília), consta simplesmente o debate sobre a "situação política". Os parlamentares que se opõem à independência, no entanto, desconfiam das verdadeiras intenções de Puigdemont, que anunciou na sexta-feira os resultados finais, não verificáveis por alta de comissão eleitoral, do referendo: 90,18% de "sim" à independência, com uma taxa de participação de 43%. O adiamento do anúncio poderia servir "ganhar tempo", observou neste sábado o jornal catalão La Vanguardia.
Os líderes catalães precisam, de fato, pensar "o que pretendem fazer" dessa declaração de independência unilateral. Uma "República catalã" seria automaticamente excluída da União Europeia e se encontraria em uma situação de isolamento quase completo. Por isso os apelos a uma mediação internacional para a crise lançados por Puigdemont e Jordi Cuixart, presidente da associação separatista Omnium. "Estamos convencidos de que, sem o reconhecimento internacional, o que estamos fazendo vai se arrastar por muito tempo", reconheceu Cuixart em uma rádio catalã.
Além disso, as tensões e a perspectiva de uma Catalunha independente assustam os círculos econômicos. Várias empresas, incluindo os bancos CaixaBank e Banco de Sabadell, já decidiram deslocar suas matrizes para fora da Catalunha. O secretário para as Empresas do governo catalão, Santi Vila, pediu um "cessar-fogo". "Isso significa que nas próximas horas e dias não tomemos decisões que possam ser irreparáveis", disse ele. A situação também chegou os campos de futebol.
A Espanha se classificou na sexta-feira contra a Albânia para a Copa do Mundo de 2018. Mas o catalão Gerard Piqué, que se posicionou a favor do direito de voto no referendo, disputou a partida sob as vaias de uma parte dos espectadores de Alicante (sudeste) e as palmas de outros. Desde o início da crise, a Justiça espanhola reagiu firmemente. O Tribunal Constitucional proibiu o referendo e, na quinta-feira, suspendeu a sessão parlamentar catalã inicialmente anunciada para segunda-feira.
 
Fonte: Correio do Povo




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