domingo, 8 de outubro de 2017

Ordem dos médicos quer travar publicidade enganosa na saúde

Bastonário defende a criação de uma unidade especial que junte médicos, especialistas da área jurídica e Ministério Público
A Ordem dos Médicos quer travar a publicidade enganosa na saúde. Por isso propôs ao Ministério da Saúde a criação de uma unidade especial que junte médicos, pessoas da área jurídica, Polícia Judiciária, Ministério Público e outras ordens profissionais para proteger a saúde pública. "É importante que sejam cumpridas regras das boas práticas e não existam publicidades disparatadas, que colocam em risco a saúde", defende o bastonário dos médicos, fazendo referência a suplementos vitaminicos e de cálcio e que são vistos como "soluções milagrosas".
"A Ordem sozinha tem pouca capacidade de resposta quando falamos de publicidade enganosa ou matérias semelhantes. Temos o conhecimento para perceber se existe ou não validade científica, se a publicidade está ou não a enganar as pessoas, mas não temos capacidade de investigar e de atuar. Podemos atuar sobre médicos que estejam a prevaricar, mas não podemos atuar sobre não médicos", diz Miguel Guimarães, para explicar a necessidade de uma unidade multiprofissional "que possa avaliar e conduzir este tipo de processos no sentido de parar a publicidade se for caso disso".
"Penso que todos já perceberam que as questões relacionadas com a publicidade enganosa são uma das maiores ameaças que temos à saúde pública. Não podemos continuar a deixar que as coisas sigam este rumo e não fazermos nada", reforça o bastonário, acrescentando que um dos focos da preocupação são os "produtos que levam, por exemplo, a um consumo exagerado de algumas substâncias que podem fazer mal à saúde. Estou a pensar em produtos relacionados com o cálcio, vitamina D, uma série de proteínas, ou questões como a que surgiu com uma clínica em Lisboa - entretanto encerrada - em que as pessoas faziam soros que não se sabia bem o que tinham e recuperavam fisicamente ao fim de 24 horas. Estou a falar em coisas que são um estimulante. As pessoas têm necessidades e gostam de soluções que sejam milagrosas".
E também como são anunciados. "A forma como se faz a publicidade, do género de compre um produto e leva dois. Percebo quando se faz com iogurtes ou leite, não percebo que se faça com determinado tipo de medicamentos ou produtos que se consumidos em excesso, ou se não necessários, podem ter efeitos nocivos para a saúde. Quando falamos de produtos como vitaminas ou cálcio é importante explicar quais são exatamente as vantagens e os inconvenientes. Isto não é possível em publicidade, cujo efeito é estimular o consumo. E no caso do cálcio era uma coisa brutal. Ainda por cima feito com figuras públicas, com uma capacidade de influência acima da média", afirma, referindo-se a um produto de cálcio vendido por telefone e anunciado em programas televisivos de grande audiência, alvo de uma providência cautelar da Ordem dos Farmacêuticos, rejeitada pelo tribunal.
Proteger a prevenção
A preocupação da Ordem estende-se também à atuação de médicos que promovam mensagens contra a prevenção, como o que aconteceu com as vacinas ou em relação à medicação para o colesterol, referindo-se a uma entrevista dada pelo médico Manuel Pinto Coelho "com as afirmações de que o tratamento do colesterol que mata e se deve beber água salgada. Quando são matérias destas, que por indução podem colocar em perigo a saúde pública, são abertos inquéritos disciplinares. Baixar o nível colesterol no sangue significa que vai ter muito menos risco de ter um enfarte e de desenvolver um Acidente Vascular Cerebral (AVC), duas das situações que mais matam em Portugal", diz o bastonário, adiantando que a proposta da criação de uma unidade especial foi apresentada ao ministério há cerca de um mês.
A Ordem vai lançar ainda este mês no seu site uma área com informação sobre os temas mais polémicos relacionados com a saúde. Tal como uma equipa a triar sites nacionais e internacionais e dizer quais têm validade científica para a população geral procurar informação sobre saúde.

Fonte: DN
Foto: LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS

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