segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Macroscópio – o essencial para começar a digerir as autárquicas

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
Não eram elevadas as expectativas em torno das autárquicas de domingo. Como mais ou menos leituras nacionais de resultados locais, poucos acreditavam que delas resultasse um solavanco capaz de mudar lideranças partidárias – como tudo indica que virá a suceder no PSD – ou a deixar visivelmente inquieto um dos pilares da geringonça – no caso um PCP que registou o seu pior resultado autárquico de sempre, perdendo quase um terço das câmaras e alguns bastiões simbólicos. Os próximos e semanas clarificarão até que ponto entramos, ou não, num novo ciclo político que irá, pelo menos, até às Legislativas de 2017, mas é importante registar o que ontem se passou. Fá-lo-ei no Macroscópio de hoje, guardando para amanhã a reflexão sobre a Catalunha, onde se agrava uma crise cujo desenlace não deixará de pesar no nosso futuro.
 
Começo por indicar alguns textos, uns mais informativos, outros mais gráficos, onde se faz um balanço dos resultados das eleições autárquicas, resultados esses que pode consultar, até ao detalhe da freguesia, no interactivo do Observador. Falando de leituras globais dos resultados, chamo a atenção para três:
  • Diabo à solta no PSD (e PCP). PS e CDS nas nuvens, de Vítor Matos no Observador, porventura o texto mais completo e onde se escreve que domingo se viveu “a noite em que o Diabo andou solta vestido de vermelho e de laranja. Mais do que a vitória de Fernando Medina em Lisboa, e mais do que a maioria absoluta de Rui Moreira no Porto, as autárquicas de 2017 vão ficar para a história pelo descalabro do PSD e pelo trambolhão do PCP.”
  • Costa e Passos – a desforra, dois anos depois, de Ângela Silva no Expresso, um texto mais analítico que defende, em síntese, que as “autárquicas deram ao primeiro-ministro a sua primeira vitória eleitoral e deixaram o líder da oposição à beira do pântano político. Dois anos depois das legislativas que Passos ganhou e Costa perdeu, o PS cresce (muito para além da geringonça). Cristas enterra Portas. E Passos prepara a saída. Marcelo, com os olhos em 2019, diz que “é um erro generalizar juízos”. Medo de uma maioria absoluta? Ou de uma crise política?
  • PSD e CDU são os grandes derrotados, de São José Almeida no Público, um trabalho mais descritivo no qual se explica como o PSD se afundou nas principais cidades e Passos Coelho admitiu demitir-se, enquanto o PCP tinha o pior resultado da sua história eleitoral autárquica. Isto quando “o PS viu António Costa ter a sua primeira vitória em eleições como líder”.
 
Depois destas leituras que permitem ter um retrato mais geral do que se passou este domingo, há algumas leituras complementares que não só avançam um pouco mais na análise dos números como contrariam algumas ideias feitas e que estiveram muito presentes nas análises dos comentadores televisivos:
E que leituras políticas fazer do que se passou este domingo? Apesar de muitos textos terem sido escritos ainda sem conhecimento de todos os resultados (e houve surpresas guardadas para o fim do escrutínio), é já possível reunir neste Macroscópio uma mão cheia de textos com reflexões pertinentes. Breve selecção:
  • 7 opiniões rápidas para ler o resultado eleitoral, uma colectânea de notas de um painel de colunistas do Observador, a saber: José Manuel Fernandes, Rui Ramos, Maria João Avillez, Helena Matos, Luís Aguiar-Conraria, Alberto Gonçalves e Alexandre Homem Cristo. Deixo aqui passagens da minha própria crónica, Cinco notas sobre uma noite de facas longas – "O PCP sabe o aconteceu a outros partidos comunistas quando baixaram a guarda e cederam ao “abraço de urso” de partidos como o PS, pelo que a sua docilidade no quadro da geringonça vai ser questionada" – da de Maria João Avillez, Linhas vermelhas – "Não há nenhuma alternativa à liderança de Pedro Passos Coelho que una o PSD. Que venha a impedir a sua fragmentação ou a sua desunião e eis o grande – e talvez o único – argumento para quem combate a actual liderança." – e da de Helena Matos, Finalmente o resultado das legislativas de 2015 – “No PSD volta-se à casa da partida dos anos 70: deve este partido posicionar-se para ser governo ou apostar em viabilizar a governação socialista? A apostar neste última hipótese está o outro grande vencedor destas eleições: Marcelo Rebelo de Sousa. O que pode o PR desejar mais que um PSD desembaraçado de Passos, um PS a precisar de se desembaraçar do PCP e um CDS reforçado para fazer o que for preciso?”
  • O diabo chegou. Para Pedro Passos Coelho, de João Miguel Tavares no Público, onde o colunista defende que “O “não me demito qualquer que seja o resultado das autárquicas” tem de ser o “irrevogável” de Pedro Passos Coelho – ele precisa de voltar atrás.” E fá-lo mesmo considerando que "Qualquer que seja o sucessor de Passos Coelho, aquilo que tem diante de si, com altíssima probabilidade, é uma via sacra de seis anos na oposição e de grandes convulsões internas ... A liderança do PSD é, desde a noite de Domingo, o emprego mais difícil do país."
  • Cartão Vermelho para o PSD?, de Marina Costa Lobo no mesmo Público, onde a politóloga defende que “Os líderes são extremamente importantes à direita. Como os dois partidos – PSD e CDS-PP – se distinguem pouco do ponto de vista ideológico, torna-se fundamental escolher candidatos em que os cidadãos depositem confiança. Se isso é verdade a nível autárquico, ainda o é mais quando o que está em causa é o lugar de primeiro-ministro.”
  • A vitória boa de mais do PS, Pedro Santos Guerreiro no Expresso, que escreve que “Passos era o opositor ideal de Costa, como aliás se viu esta noite, seria bom para o PS tê-lo até 2018. Mas ter Jerónimo contente também. Será fácil o PCP atacar o governo: basta olhar para as partes do acordo de apoio ao governo que ainda não foram cumpridas, designadamente na legislação laboral, para perceber como a agenda sindical se irá impor em 2018.”
  • Tudo somado…, de Maria de Fátima Bonifácio de novo no Observador, onde se conclui que, “Tudo somado, nada ficou como dantes a partir da noite de 1 de Outubro de 2017. Todos os partidos, uns perante escolhas mais excruciantes do que outros, vão ter de reorientar a sua estratégia, e nem todos têm opções boas. Também o PS. Mas não sobretudo o PS.”
  • O PSD vai entregar o país ao PS?, de Alexandre Homem Cristo também no Observador, uma segunda análise deste autor, esta mais virada para o futuro: “Ao PSD, resta a opção de aceitar ou não o aviso: se não tentar ganhar as legislativas, como não tentou vencer as autárquicas, perdê-las-á com estrondo. E perderá a confiança do eleitorado de direita.”
  • Virtude que se torna defeito, de Henrique Raposo no Expresso Diário (paywall), onde se defende o legado de Passos como primeiro-ministro ao mesmo tempo que se advoga a sua saída da liderança do partido, por “Parece que este PSD é incapaz de conseguir bons candidatos. Porquê? Poucos se querem aproximar do PSD que se tornou sinónimo popular de troika? O PSD está dominado pelo pior do sistema caciqueiro? Seja como for, fica a ideia de que Passos não se empenhou nestas eleições”.
E por hoje é tudo. Ainda na ressaca da longa madrugada, e enquanto aguardamos pelos próximos desenvolvimentos no PSD e, também, no PCP, despeço-me por hoje. Amanhã conto estar de volta com mais textos para ajudar a compreender o que se passou e o que se pode vir a passar na Catalunha. Tenham boas leituras e bom descanso.  
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