Raul Vaz | raulvaz@negocios.pt01 de outubro de 2017 às 23:26 |
As eleições autárquicas são a verdadeira e mais pura expressão do pulsar democrático de um povo. Porque trata do que diz respeito à rua e à porta, porque os candidatos são gente da terra (na sua maioria) a quem se pode e deve pedir soluções e justificações acerca de problemas concretos. Não é o país do parlamento, das leis e da macroestratégia.
Mas é o país da calçada, da escola, de tanta coisa que, muitas vezes, faz mais parte da nossa vida do que todo o Terreiro do Paço junto. E é o país dos cartazes amadores, originais, brilhantes e ridículos, o país que, na verdade, somos. O país que esquecemos durante quatro anos, apenas interrompidos pelas tragédias de que Pedrógão se tornou, para sempre, o símbolo maior da nossa vergonha.
Dito isto, já ninguém se atreve a negar que os resultados autárquicos têm, sempre, uma leitura nacional. O próprio Pedro Passos Coelho, que vivia assombrado com a expectativa de um desastre, o assumiu há poucos dias. E o desastre, finalmente, aconteceu. O diabo chegou, mas foi bater à porta da São Caetano à Lapa.
Não há forma séria de fugir a esta interpretação. O resultado do PSD é mau, e chega a ser desastroso nas maiores cidades do país. E, aqui, não vale a pena dourar a pílula. A culpa não é, em Lisboa, de Teresa Leal Coelho, que nunca devia ter sido candidata e, na verdade, pouca vontade demonstrou em sê-lo, mesmo depois de indicada. Tal como no Porto, onde Álvaro Almeida passou despercebido, condenado desde o início ao papel de figurante numa peça com outros protagonistas. Nestes casos, como noutros, o que há em comum é a perplexidade como o processo de escolha foi conduzido e validado a nível central. Ou seja, mais do que uma simples penalização generalizada do PSD - que já atingiria o seu líder - há o resultado concreto de uma estratégia errada e incoerente.
Quando há um vencido é normal que haja quem possa cantar vitória. Pode ler-se, nestes resultados, a validação eleitoral da geringonça. Mas a derrota de um é maior do que a vitória dos outros.
A História fará o seu caminho, e o líder do PSD foi um primeiro-ministro a quem o país deve muito. Mas um político não tem o direito de exigir gratidão, nem sequer memória. O povo é, sempre, soberano, e este parece distante do dia em que Passos Coelho possa voltar triunfal a São Bento.
Passos Coelho já tinha e tem agora ainda mais a cabeça a prémio. É tempo de clarificação, de afirmação ou de saída. O país precisa de uma oposição forte e legitimada. E agora, Pedro?
Fonte: Jornal de Negócios
Nenhum comentário:
Postar um comentário