Os cerca de 400 trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola preparam-se para o quarto Natal sem salários. O caso tem vindo a assumir contornos de preocupação social, com os trabalhadores a concentrarem-se em vigília, nas últimas semanas, apelando à intervenção do Presidente da República, João Lourenço.
"A minha mulher é que sustenta a família. Eu estou sem meios, já não tenho voz aqui em casa, como de vez em quando, não encaro bem os vizinhos, família e vizinhos", lamentou, num exemplo do cenário vivido em centenas de famílias dos trabalhadores desta empresa, que continuam a manter a laboração, mesmo sem receberem, explica Marcelino Manuel Francisco, chefe de brigada da Empresa Nacional de Pontes de Angola.
Dificuldades diárias que já não são escondidas pela família de Marcelino, como explica a filha Josefa.
"Está muito mal, o meu pai está sem salário, estou há uma semana doente e não tenho dinheiro para ir ao hospital. E estamos mal aqui em casa", observa, acrescentando que os quase 50 meses de "pesadelo", que correspondem a quatro natais, pesam no ânimo de todos os familiares.
António Fragoso, de 14 anos, outro dos sete filhos, já nem pensa no Natal: "O dia está a correr mal porque o pai está há muitos anos sem salários".
Quatro anos mais nova, Filomena Marcelino, igualmente filha deste funcionário da empresa, sabe que o seu pai está sem salários há 49 meses, pelo que o Natal será "de novo triste" para toda a família.
"Está mal porque o meu pai está há cinco anos sem salários e teremos um Natal triste". "São lamentações e mais lamentações nesta fase do ano, vamos ter uma mesa vazia sem comida e bebida. Não terei como encarar os meus filhos e a minha esposa", desabafa o chefe de brigada daquela empresa pública.
Ainda assim, Marcelino alimenta a esperança: "Pelo menos que dessem alguma coisa nesta quadra festiva. Mas é um Natal muito triste e já nem sei como fazer com a família".
Com dívidas para com os cerca de 400 trabalhadores, que datam desde 2011, a direção da Empresa Nacional de Pontes de Angola liquidou em agosto quatro dos salários em falta, pelo que, segundo a comissão sindical, estão ainda em atraso 49 meses de pagamentos.
A comissão sindical da Empresa Nacional de Pontes de Angola reclamou na segunda-feira que continuam em atraso 49 meses de salários, atribuindo a esta situação a morte e doenças de funcionários que vêm ocorrendo nos últimos meses.
Segundo o primeiro secretário da comissão sindical da empresa pública angolana, Mateus Muanza, na segunda-feira um dos colegas, que se encontrava doente, faleceu "por falta de dinheiro para o tratamento médico".
Em outubro, o novo ministro da Construção e Obras Públicas de Angola, Manuel Tavares de Almeida, visitou as instalações daquela empresa pública, tendo assumido analisar a situação dos trabalhadores.
"Temos algumas perspetivas no nosso plano orçamental e isso pode ajudar a resolver já os problemas candentes e equacionar o problema dos atrasados", disse na ocasião o governante, tendo assegurado ainda a elaboração de programas "para alavancar" a empresa.
Com Lusa
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