A política monetária implementada pelo Banco de Moçambique para lidar com a crise económica que vivemos, desde a descoberta das dívidas ilegais da Proindicus e MAM, levou, entre outras consequências, ao aumento das taxas de juro que tem asfixiado os cidadãos e empresários honestos com empréstimos bancários. Em contrapartida os bancos comerciais, cobrando taxas de juro altíssimas, obtiveram lucros superiores aos exercícios anteriores à crise. O Millennium Bim(MBim), por exemplo, obteve lucros de mais de 4,4 mil milhões de meticais só com os juros que cobrou em créditos durante o ano passado. Paradoxalmente porção significativa desses juros foram cobrados ao povo moçambicano pois o “crédito ao sector público” cresceu em cerca de 400% e aumentou em mais de 23 mil milhões de meticais o crédito às Empresas Públicas.
O @Verdade analisou o Relatório e Contas do Millennium Bim e notou que no exercício financeiro de 2016 o resultado líquido foi positivo em 4.510 milhões de meticais, um crescimento de 33% face ao resultado líquido de 3.391 milhões de meticais de 2015, ano que precedeu a crise que Moçambique enfrenta.
Este lucro resulta do aumento da margem financeira em 58%, “totalizando 9.187,3 milhões de meticais em 2016, face aos 5.818,9 milhões de meticais apurados em 2015, impulsionada pelo efeito positivo do volume dos activos geradores de juros, em particular do crédito concedido e da melhor rentabilidade dos activos financeiros, devido ao efeito taxa, e do aumento no custo dos Depósitos, reflexo do aumento das taxas directoras do mercado”.
Questionado pelo @Verdade o banco esclareceu que “os resultados alcançados no exercício 2016, deveram-se essencialmente à dinâmica da actividade comercial, ao investimento na expansão da rede bancária e outros serviços de banca electrónica tendo também beneficiado do aumento das taxas de juro com impacto quer na carteira de crédito quer na carteira de títulos do tesouro que representa pouco mais de 10% dos activos do Banco”.
“É ainda de salientar que num ano económico atípico, em que a banca nacional enfrentou grandes desafios, com a desvalorização da moeda, a subida da inflação e impacto da subida das taxas de juro no aumento do crédito mal parado, os resultados do Millennium BIM resultam também da excelente eficiência operacional do Banco assente numa preocupação constante pela contenção de custos o que permitiu acomodar, na sua conta de exploração, o forte aumento das imparidades e assim, conseguir ter bons resultados”, referiu a instituição financeira.
Sector público é um dos principais clientes dos créditos do Millennium Bim
Todavia, a análise do @Verdade mostra o Millennium Bim, banco que tem a actual ministra dos Recursos Minerais e Energia como presidente da sua Assembleia Geral, ganhou dinheiro durante a crise económica e financeira que enfrentamos com os juros gerados pelo pela Dívida Interna Pública que o Governo de Filipe Nyusi tem estado a agravar através da emissão de Bilhetes do Tesouro e Obrigações do Tesouro, a carteira do MBim valorizou de 1,5 mil milhões para 1,8 mil milhões de meticais.
O @Verdade descortinou ainda que esta instituição financeira, que tem como accionistas o banco português BCP, o Estado moçambicano, o INSS, a EMOSE e a FDC, ganhou ainda mais dinheiro com o agravamento das taxas de juro, como resultado da política monetária restritiva do Banco de Moçambique.
Cobrando juros acima dos 37% a margem financeira do banco nos juros sobre a sua carteira de crédito disparou mais de 400%, de 7,8 mil milhões para 12,3 mil milhões de meticais, gerando dividendos superiores a 4,4 mil milhões de meticais.
O @Verdade apurou que um dos principais clientes dos produtos de crédito do Millennium Bim é Estado moçambicano, paradoxalmente accionista e responsável pela crise e pelo aumento das taxas de juro.
Por um lado o crédito ao sector público, sem incluir o denominado sector empresarial do Estado, quase quadruplicou de 3,5 mil milhões para 12,4 mil milhões de meticais.
E por outro, o “crédito com outras garantias” concedido às Empresas Públicas através de livranças em branco, contratos de cessação de créditos, consignação de receitas futuras, cartas de conforto do Governo cresceu mais de 23 mil milhões de meticais, passado de 35,6 mil milhões em 2015 para 58,7 mil milhões de meticais em 2016.
Análises do @Verdade aos Relatórios e Contas de algumas Empresas Públicas permitem identificar créditos do MBim para os Aeroportos de Moçambique, Linhas Aéreas de Moçambique, Moçambique Celular, Caminhos de Ferro de Moçambique, Telecomunicações de Moçambique e Petróleos de Moçambique.
O @Verdade entende ainda que estará contabilizado na rubrica de “crédito com outras garantias” a dívida da Proindicus que o Millennium Bim comprou.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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