sábado, 9 de dezembro de 2017

Marcelo foi ao Minho, barbeou-se e alertou para excessos de turismo no Intendente

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O Presidente da República matou ontem saudades dos avós minhotos, fez a barba no único estabelecimento sobrevivente à renovação do largo do Intendente e alertou para os perigos do turismo e da consequente pressão imobiliária em Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa, sempre abordado por transeuntes - desde habitantes locais de sempre aos mais recentes e até membros das comunidades do Bangladeche e do Nepal - começou por voltar ao Grupo Excursionista e Recreativo "Casa dos Amigos do Minho", soprando as velas do bolo do 67.º aniversário, manchado pela "triste notícia" de abandono das instalações dentro de dois domingos.
"Agora é a moda [o largo do Intendente]. Imediatamente, as vítimas são os inquilinos, nomeadamente as antigas coletividades, mas está a acontecer por todo o centro de Lisboa...", lamentou o chefe de Estado.
À entrada e à saída do prédio da Rua do Benformoso, entre restaurantes asiáticos, Marcelo Rebelo de Sousa foi "atacado" pela população maioritariamente sexagenária "dos Amigos do Minho" para beijinhos, abraços e a "imagem de marca" das fotografias com telemóvel.
A madeirense Eugénia "fadista" Maria, 66 anos, insistiu e o Presidente interrompeu mesmo a banda do baile pós-almoço, com mais de 100 pessoas, para a ouvir. "Ai, queria tanto cantar para ele, soube mesmo bem, mas olhe que eu só votava no Alberto João, este Albuquerque, agora não", disse, referindo-se aos governantes sociais-democratas da "pérola do Atlântico".
"Temos de evitar que as pessoas, de repente, venham a Lisboa para ver estrangeiros. Não veem lisboetas e vão aos lugares típicos para ver franceses, brasileiros, asiáticos, africanos. Não é que não seja interessante, mas convinha haver pessoas e coletividades com a maneira de ser de quem vive em Lisboa", insistiu o Presidente, conduzido até à barbearia instalada há 110 anos no agora renovado largo, que já viveu muitos e continua a viver alguns dramas de droga e prostituição.
A cicerone de serviço foi Marta Silva, antiga bailarina, há muito ligada a projetos artísticos e de integração social e dirigente da cooperativa Largo Residências, um projeto que contempla um hostel, onde também há espaço para patrocinar artistas de várias áreas, um café-concerto e muitas iniciativas de integração e formação da população com outras entidades e instituições locais.
Foi já sentado na cadeira do barbeiro Júlio Cunha, 82 anos, que continua o negócio inaugurado pelo pai, que Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para fazer a barba, com espuma e navalha, algo que o profissional considerou como "a cereja no topo do bolo" da carreira, embora adiantando que o atual primeiro-ministro e antigo edil lisboeta, António Costa, também frequentou a sua loja, quando teve o gabinete naquela zona.
Paulo Cunha, filho do barbeiro, e presidente do Sport Clube Intendente, fundado pelo seu avô e outros dois amigos há mais de 80 anos e que continua a acolher festas e eventos, também lastimou o facto "quase inevitável" de ter de abandonar as instalações da coletividade "algures em 2018", em virtude do fim dos prazos impostos pela "lei das rendas", provavelmente para dar lugar a mais hotéis ou apartamentos.
Continuando o passeio, com uma ou duas abordagens de pessoas menos amistosas e visivelmente sob a influência de substâncias, o Presidente da República visitou as instalações do Largo Residências, ficou a conhecer os projetos artísticos e outros e também ouviu e falou do tema da "gentrificação" (alteração e desvirtuamento da população local em virtude de empreendimentos económicos), com outros elementos ligados àquelas iniciativas.
O chefe de Estado foi ainda "brindado" com uma pequena atuação do Grupo Limpeza Urbana Musical, cuja especialidade é a percussão com caixotes de lixo e materiais reciclados e experimentou a sensação de fazer de cabos de vassoura baquetas e dos contentores tambores.
Lusa

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