As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O ex-ministro e antigo líder do PSD comenta temas como os dois anos do mandato de Marcelo, a possibilidade de o PS ter um candidato às próximas presidenciais, a Google em Portugal, o Congresso do PSD e a cimeira de Davos.
Luís Marques Mendes28 de janeiro de 2018 às 21:14 |
PS TERÁ CANDIDATO PRESIDENCIAL?
- Esta semana, na área do PS, falou-se muito em Presidenciais. O PS vai ter um candidato próprio? Ou vai apoiar Marcelo rebelo de Sousa?
- Eu diria, como Pedro Nuno Santos, em entrevista ao Expresso: em teoria, o PS terá um candidato. Na prática, temos de aguardar para ver. O PS corre vários riscos nas Presidenciais.
a) Primeiro risco: o risco de falar de presidenciais de forma prematura. Uma das armas de António Costa para as eleições legislativas é a ideia de que ele e Marcelo se entendem bem. O país aprecia a dupla Marcelo/Costa. Este Bloco Central institucional. Se o PS começa a falar de ter um candidato próprio, perde esta arma. Deita fora uma vantagem que tem.
b) Segundo risco: o risco de apoiar um candidato que possa ter um resultado humilhante. Admitamos que há um candidato que se sujeite a esse sacrifício, por exemplo, Sampaio da Nóvoa. Há 2 anos, Sampaio da Nóvoa teve cerca de 22%. Se for novamente candidato, corre o sério risco de ter um resultado inferior. Ora, isso enfraquece muito António Costa. E se não tiver um Governo de maioria, então ainda o enfraquece mais.
c) Terceiro risco: o risco de o PS ter uma surpresa desagradável. E qual pode ser essa surpresa? Uma eventual candidatura presidencial de José Sócrates.
- José Sócrates pode ter a vertigem de ser candidato presidencial. É um acto de desespero mas pode suceder. Na cabeça dele isto não é impossível. Pode fazer parte da sua estratégia de defesa no processo judicial que está em curso. E, quanto mais o seu julgamento se atrasar, mais esta hipótese pode ganhar força na sua cabeça.
- Se isto suceder, é um monumental problema para o PS. Não apoiar a candidatura gera divisões internas. Apoiá-la é suicídio político.
DOIS ANOS DE MARCELO
- Balanço de dois anos de Marcelo - Uma presidência diferente
a) Foi factor de equilíbrio e de estabilidade.
- No primeiro ano, agradando mais à esquerda. No segundo, mais ao centro e à direita.
b) Reabilitou a função presidencial, que estava debilitada, pela capacidade de intervenção; pela proximidade com as pessoas; e pelo poder da palavra.
c) Elevou a ambição e a auto-estima nacional.
d) Ganhou aos seus críticos.
- Os críticos do seu estilo diziam que o uso e abuso da palavra iriam desgastar o Presidente.
- Os resultados, ao fim de dois anos, provam que não só não se desgastou, como tem hoje um nível de popularidade e de credibilidade inimaginável.
e) Cumpriu quatro dos seus cinco objectivos:
- Há 2 anos, na noite da vitória, definiu 5 objectivos: fomentar a unidade nacional; reforçar a coesão social; desenvolver uma boa relação institucional; conciliar crescimento económico com justiça social; promover consensos políticos.
- Os quatro primeiros têm vindo a realizar-se. Falta cumprir o objectivo dos consensos políticos.
- Julgo que esse vai ser o ponto forte do terceiro ano de mandato de Marcelo. Com a entrada de Rui Rio no PSD, podemos vir a ter três possíveis acordos de regime (Fundos Estruturais, Plano de Infraestruturas e Descentralização).
- Marcelo será recandidato?
- O mais provável é que sim. Essa é a cultura presidencial em Portugal.
- E o calendário que o próprio indiciou reforça essa ideia. Ao dizer que só toma uma decisão no Verão de 2020 (ou seja, a 3, 4 meses da eleição), indicia que a decisão só pode ser a de se recandidatar.
O CONGRESSO DO PSD
- Ainda estamos a três semanas do Congresso do PSD mas o partido começa a mexer. E a grande questão é: para que serve este Congresso?
a) Primeiro: para Rui Rio afirmar a sua estratégia futura. Ele tem dois discursos para fazer. E tem de aproveitar para arrancar em força: definir objectivos, apontar prioridades e escolher causas. Ou seja, marcar a agenda política.
b) Segundo: o Congresso serve para aprovar as listas que Rio vai apresentar. E aqui também a questão é saber se Rio cumpre ou não as expectativas que estão criadas de uma renovação profunda dos protagonistas do PSD.
c) Terceiro: finalmente, o Congresso vai servir de palco para as intervenções dos hipotéticos futuros candidatos à liderança do PSD. Convém ter em atenção sobretudo seis nomes: Luís Montenegro, Paulo Rangel, Carlos Moedas, Pedro Duarte, José Eduardo Martins e Miguel Pinto Luz.
- No pós-Congresso ainda ficará por resolver a questão do líder parlamentar, que começa a ser uma novela. E aqui há dados a ter em atenção:
- Apesar de não ter sido divulgado, Hugo Soares comprometeu-se com Rui Rio a pôr o lugar à disposição a seguir ao Congresso.
- Dois potenciais sucessores declararam-se indisponíveis – Marques Guedes e Matos Correia.
- Restam, no essencial, três hipóteses: Fernando Negrão, Campos Ferreira e Leitão Amaro. Um destes três ou Hugo Soares será certamente o futuro líder parlamentar.
- Mas ficam, para já, duas sensações: a sensação de que Hugo Soares está agarrado ao lugar e a sensação de que Rio está com dúvidas e dificuldades. Doutra forma, tudo estaria resolvido.
COSTA RESPONDE A RIO
- Nas jornadas parlamentares do PS, António Costa veio no fundo dizer: "em equipa que ganha não se mexe". Na prática, fez duas coisas: acalmou os seus parceiros de coligação, porque lhe convém; mas não fechou as portas a acordos com o líder do PSD, porque lhe dá jeito.
- Este discurso de António Costa prova duas coisas: a inoportunidade e a ingenuidade da declaração de Rio e dos seus apoiantes.
a) Primeiro: inoportunidade. Se o propósito do líder do PSD era retirar o PCP e o BE da área do poder, isso significou um tiro falhado. Como se vê, se não tiver maioria absoluta, Costa nunca trocará um acordo à esquerda por um acordo com o PSD. Um acordo à esquerda garante-lhe mais acalmia política, mais estabilidade e sobretudo mais paz social.
b) Segundo: ingenuidade. Esta posição do PSD só favorece António Costa. Dá-lhe mais poder negocial junto dos seus parceiros de coligação. Não só não os retira da área do poder como os "obriga" a serem mais doceis. E é por isso que António Costa deixa as portas entreabertas. Dá-lhe jeito e dá-lhe força nas negociações futuras que possa ter de fazer com o PCP e o BE.
A DECISÃO DA GOOGLE
- É uma excelente notícia para Portugal.
a) Primeiro: porque é mais investimento (é do que precisamos);
b) Depois: porque é investimento estrangeiro (compensa a nossa falta de capital);
c) Terceiro: porque é investimento de qualidade (não só cria emprego, como cria emprego qualificado e traz mais valor acrescentado);
d) Quarto: porque tem um forte impacto internacional (o El Pais, jornal espanhol de referência, confessava esta semana a desilusão de a Google só empregar em Espanha 200 pessoas quando vai empregar 500 em Portugal, apesar de a nossa economia ser 4, 5 vezes inferior à espanhola;
e) Finalmente: porque pode ter o efeito de arrastar novos investimentos estrangeiros de qualidade.
- Por que é que isto sucede?
- Por um lado, porque Portugal está na moda em termos internacionais;
- Por outro lado, porque a Web Summit acaba por ter um efeito importante na atração de investimento. Um efeito multiplicador.
- Mas não deixa de ser curioso este contraste: na mesma semana em que vai à falência uma fábrica histórica (a Triumph), com o drama do desemprego das suas trabalhadoras, anuncia-se a vinda da Google. É a vida. Desilusão nuns lados; euforia noutros.
LULA – PRESO OU PRESIDENTE?
- Primeiro, o exercício do Rigor.
a) Dizer que os tribunais brasileiros estão num golpe de direita para impedir Lula de ser candidato é tão sectário quanto dizer que Lula quer ser Presidente para ter imunidade e fugir à justça;
b) Dizer que a saga contra Lula é a continuação da saga contra Dilma é outro erro. Lula foi julgado na justiça. Dilma foi destituída pelos políticos no Congresso e não pelos magistrados.
- Segundo, "o moralismo judicial"
a) Não havendo uma perseguição a Lula, o que me parece é que há hoje no Brasil uma "guerra" entre magistrados e políticos, à maneira italiana.
b) É uma espécie de Mãos limpas à italiana. Ataca á esquerda e à direita, devastando toda a classe política, dos vários quadrantes.
c) Na Itália acabou o populismo. Veremos se no Brasil não acaba com a democracia.
- Terceiro, o que sucederá a Lula?
a) Se for candidato, pode mesmo chegar a Presidente. As sondagens dizem-no. Por isso vai fazer tudo para adiar o fim do seu processo judicial;
b) Entretanto, a justiça vai fazer tudo para ser rápida com os recursos e obrigar Lula a iniciar o cumprimento da pena de prisão antes das eleições.
c) Está criado um enorme impasse. E ninguém sabe como vai terminar.
A CIMEIRA DE DAVOS
- Naquele que é o encontro anual das grandes elites políticas, económicas e empresariais do mundo inteiro, houve coisas importantes:
a) Primeiro: pela primeira vez de há vários anos a esta parte, falou-se bem da Europa. Numa conferência que é muito norte-americana, a União Europeia foi muito elogiada. Há a ideia de que a Europa está de volta. É bom.
b) Segundo: Macron fez o grande discurso da Conferência. Foi a estrela da Companhia. Surpreendeu pela língua – falou em inglês, o que é curioso vindo de um francês; surpreendeu pelo estilo – um discurso altamente mobilizador; e surpreendeu pelo conteúdo – fez um discurso reformador e social. É cada vez mais o Obama da Europa.
c) Terceiro: Teresa May, ao contrário, foi uma estrela decadente. Apenas meia sala a ouvi-la (ao contrário da multidão que ouviu o Presidente francês). A PM britânica está em queda. Pela sua fragilidade política e pela fragilidade do Reino Unido, face ao Brexit.
d) Quarto: Donald Trump foi uma certa desilusão. Havia grande expectativa porque, em 8 anos de presidência, Obama nunca tinha ido a Davos. Mas o presidente norte-americano desiludiu. Na forma (fez um discurso monocórdico) e no conteúdo (só repetiu as banalidades habituais). Os líderes mundiais temem a sua mensagem protecionista.
- Quanto a Portugal, duas notas: uma positiva e outra negativa.
a) Nota positiva: a presença do PM António Costa, os seus contactos e a sua intervenção num painel com o Chefe do Governo holandês. Reações muito positivas em relação a Portugal. O nosso país está na moda.
b) Nota negativa: só estiveram representados dois grupos empresariais portuguesas (a Sonae e a jerónimo Martins)
- É pouquíssimo para um fórum desta importância. As grandes empresas portuguesas têm de pensar numa presença maior no futuro. É preciso ter vistas mais largas. Novos horizontes.
Fonte: Jornal de Negocios
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