segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O ex-ministro e antigo líder do PSD comenta temas como os dois anos do mandato de Marcelo, a possibilidade de o PS ter um candidato às próximas presidenciais, a Google em Portugal, o Congresso do PSD e a cimeira de Davos.
Luís Marques Mendes
Luís Marques Mendes28 de janeiro de 2018 às 21:14
PS TERÁ CANDIDATO PRESIDENCIAL?

  1.       Esta semana, na área do PS, falou-se muito em Presidenciais. O PS vai ter um candidato próprio? Ou vai apoiar Marcelo rebelo de Sousa?

  1.       Eu diria, como Pedro Nuno Santos, em entrevista ao Expresso: em teoria, o PS terá um candidato. Na prática, temos de aguardar para ver. O PS corre vários riscos nas Presidenciais.
a)      Primeiro riscoo risco de falar de presidenciais de forma prematura. Uma das armas de António Costa para as eleições legislativas é a ideia de que ele e Marcelo se entendem bem. O país aprecia a dupla Marcelo/Costa. Este Bloco Central institucional. Se o PS começa a falar de ter um candidato próprio, perde esta armaDeita fora uma vantagem que tem.
b)     Segundo riscoo risco de apoiar um candidato que possa ter um resultado humilhante. Admitamos que há um candidato que se sujeite a esse sacrifício, por exemplo, Sampaio da Nóvoa. Há 2 anos, Sampaio da Nóvoa teve cerca de 22%. Se for novamente candidato, corre o sério risco de ter um resultado inferior. Ora, isso enfraquece muito António Costa. E se não tiver um Governo de maioria, então ainda o enfraquece mais.
c)      Terceiro risco: o risco de o PS ter uma surpresa desagradável. E qual pode ser essa surpresa? Uma eventual candidatura presidencial de José Sócrates.
  •          José Sócrates pode ter a vertigem de ser candidato presidencial. É um acto de desespero mas pode suceder. Na cabeça dele isto não é impossível. Pode fazer parte da sua estratégia de defesa no processo judicial que está em curso. E, quanto mais o seu julgamento se atrasar, mais esta hipótese pode ganhar força na sua cabeça.
  •          Se isto suceder, é um monumental problema para o PS. Não apoiar a candidatura gera divisões internas. Apoiá-la é suicídio político.

DOIS ANOS DE MARCELO

  1.       Balanço de dois anos de Marcelo -  Uma presidência diferente
a)      Foi factor de equilíbrio e de estabilidade.
  •          No primeiro ano, agradando mais à esquerda. No segundo, mais ao centro e à direita.
b)      Reabilitou a função presidencial, que estava debilitada, pela capacidade de intervenção; pela proximidade com as pessoas; e pelo poder da palavra.
c)      Elevou a ambição e a auto-estima nacional.
d)      Ganhou aos seus críticos.
  •          Os críticos do seu estilo diziam que o uso e abuso da palavra iriam desgastar o Presidente.
  •          Os resultados, ao fim de dois anos, provam que não só não se desgastou, como tem hoje um nível de popularidade e de credibilidade inimaginável.
e)      Cumpriu quatro dos seus cinco objectivos:
  •          Há 2 anos, na noite da vitória, definiu 5 objectivos: fomentar a unidade nacional; reforçar a coesão social; desenvolver uma boa relação institucional; conciliar crescimento económico com justiça social; promover consensos políticos.
  •          Os quatro primeiros têm vindo a realizar-se. Falta cumprir o objectivo dos consensos políticos.
  •          Julgo que esse vai ser o ponto forte do terceiro ano de mandato de Marcelo. Com a entrada de Rui Rio no PSD, podemos vir a ter três possíveis acordos de regime (Fundos Estruturais, Plano de Infraestruturas e Descentralização).

  1.       Marcelo será recandidato?
  •          O mais provável é que sim. Essa é a cultura presidencial em Portugal.
  •          E o calendário que o próprio indiciou reforça essa ideia. Ao dizer que só toma uma decisão no Verão de 2020 (ou seja, a 3, 4 meses da eleição), indicia que a decisão só pode ser a de se recandidatar.

O CONGRESSO DO PSD

  1.       Ainda estamos a três semanas do Congresso do PSD mas o partido começa a mexer. E a grande questão é: para que serve este Congresso?
a)      Primeiro: para Rui Rio afirmar a sua estratégia futura. Ele tem dois discursos para fazer. E tem de aproveitar para arrancar em força: definir objectivos, apontar prioridades e escolher causas. Ou seja, marcar a agenda política.
b)      Segundo: o Congresso serve para aprovar as listas que Rio vai apresentar. E aqui também a questão é saber se Rio cumpre ou não as expectativas que estão criadas de uma renovação profunda dos protagonistas do PSD.
c)      Terceiro: finalmente, o Congresso vai servir de palco para as intervenções dos hipotéticos futuros candidatos à liderança do PSD. Convém ter em atenção sobretudo seis nomesLuís Montenegro, Paulo Rangel, Carlos Moedas, Pedro Duarte, José Eduardo Martins e Miguel Pinto Luz.

  1.       No pós-Congresso ainda ficará por resolver a questão do líder parlamentar, que começa a ser uma novela. E aqui há dados a ter em atenção:
  •          Apesar de não ter sido divulgado, Hugo Soares comprometeu-se com Rui Rio a pôr o lugar à disposição a seguir ao Congresso.
  •          Dois potenciais sucessores declararam-se indisponíveis – Marques Guedes e Matos Correia.
  •          Restam, no essencial, três hipótesesFernando Negrão, Campos Ferreira e Leitão Amaro. Um destes três ou Hugo Soares será certamente o futuro líder parlamentar.
  •          Mas ficam, para já, duas sensaçõesa sensação de que Hugo Soares está agarrado ao lugar e a sensação de que Rio está com dúvidas e dificuldades. Doutra forma, tudo estaria resolvido.

COSTA RESPONDE A RIO

  1.       Nas jornadas parlamentares do PS, António Costa veio no fundo dizer: "em equipa que ganha não se mexe". Na prática, fez duas coisas: acalmou os seus parceiros de coligação, porque lhe convém; mas não fechou as portas a acordos com o líder do PSD, porque lhe dá jeito.

  1.       Este discurso de António Costa prova duas coisas: a inoportunidade e a ingenuidade da declaração de Rio e dos seus apoiantes.
a)      Primeiro: inoportunidadeSe o propósito do líder do PSD era retirar o PCP e o BE da área do poder, isso significou um tiro falhado. Como se vê, se não tiver maioria absoluta, Costa nunca trocará um acordo à esquerda por um acordo com o PSD. Um acordo à esquerda garante-lhe mais acalmia política, mais estabilidade e sobretudo mais paz social.
b)      Segundo: ingenuidadeEsta posição do PSD só favorece António Costa. Dá-lhe mais poder negocial junto dos seus parceiros de coligação. Não só não os retira da área do poder como os "obriga" a serem mais doceis. E é por isso que António Costa deixa as portas entreabertas. Dá-lhe jeito e dá-lhe força nas negociações futuras que possa ter de fazer com o PCP e o BE.

A DECISÃO DA GOOGLE

  1.       É uma excelente notícia para Portugal.
a)      Primeiro: porque é mais investimento (é do que precisamos);
b)      Depois: porque é investimento estrangeiro (compensa a nossa falta de capital);
c)      Terceiro: porque é investimento de qualidade (não só cria emprego, como cria emprego qualificado e traz mais valor acrescentado);
d)      Quarto: porque tem um forte impacto internacional (o El Pais, jornal espanhol de referência, confessava esta semana a desilusão de a Google só empregar em Espanha 200 pessoas quando vai empregar 500 em Portugal, apesar de a nossa economia ser 4, 5 vezes inferior à espanhola;
e)      Finalmente: porque pode ter o efeito de arrastar novos investimentos estrangeiros de qualidade.

  1.       Por que é que isto sucede?
  •          Por um lado, porque Portugal está na moda em termos internacionais;
  •          Por outro lado, porque a Web Summit acaba por ter um efeito importante na atração de investimento. Um efeito multiplicador.

  1.       Mas não deixa de ser curioso este contraste: na mesma semana em que vai à falência uma fábrica histórica (a Triumph), com o drama do desemprego das suas trabalhadoras, anuncia-se a vinda da Google. É a vida. Desilusão nuns lados; euforia noutros.

LULA – PRESO OU PRESIDENTE?

  1.       Primeiro, o exercício do Rigor.
a)      Dizer que os tribunais brasileiros estão num golpe de direita para impedir Lula de ser candidato é tão sectário quanto dizer que Lula quer ser Presidente para ter imunidade e fugir à justça;
b)     Dizer que a saga contra Lula é a continuação da saga contra Dilma é outro erro. Lula foi julgado na justiça. Dilma foi destituída pelos políticos no Congresso e não pelos magistrados.

  1.       Segundo, "o moralismo judicial"
a)      Não havendo uma perseguição a Lula, o que me parece é que há hoje no Brasil uma "guerra" entre magistrados e políticos, à maneira italiana.
b)     É uma espécie de Mãos limpas à italiana. Ataca á esquerda e à direita, devastando toda a classe política, dos vários quadrantes.
c)      Na Itália acabou o populismo. Veremos se no Brasil não acaba com a democracia.

  1.       Terceiro, o que sucederá a Lula?
a)      Se for candidato, pode mesmo chegar a Presidente. As sondagens dizem-no. Por isso vai fazer tudo para adiar o fim do seu processo judicial;
b)     Entretanto, a justiça vai fazer tudo para ser rápida com os recursos e obrigar Lula a iniciar o cumprimento da pena de prisão antes das eleições.
c)      Está criado um enorme impasse. E ninguém sabe como vai terminar.

A CIMEIRA DE DAVOS

  1.       Naquele que é o encontro anual das grandes elites políticas, económicas e empresariais do mundo inteiro, houve coisas importantes:
a)      Primeiro: pela primeira vez de há vários anos a esta parte, falou-se bem da Europa. Numa conferência que é muito norte-americana, a União Europeia foi muito elogiada. Há a ideia de que a Europa está de volta. É bom.
b)      Segundo: Macron fez o grande discurso da Conferência. Foi a estrela da Companhia. Surpreendeu pela língua – falou em inglês, o que é curioso vindo de um francês; surpreendeu pelo estilo – um discurso altamente mobilizador; e surpreendeu pelo conteúdo – fez um discurso reformador e social. É cada vez mais o Obama da Europa.
c)      Terceiro: Teresa May, ao contrário, foi uma estrela decadente. Apenas meia sala a ouvi-la (ao contrário da multidão que ouviu o Presidente francês). A PM britânica está em queda. Pela sua fragilidade política e pela fragilidade do Reino Unido, face ao Brexit.
d)      Quarto: Donald Trump foi uma certa desilusãoHavia grande expectativa porque, em 8 anos de presidência, Obama nunca tinha ido a Davos. Mas o presidente norte-americano desiludiu. Na forma (fez um discurso monocórdico) e no conteúdo (só repetiu as banalidades habituais). Os líderes mundiais temem a sua mensagem protecionista.

  1.       Quanto a Portugal, duas notas: uma positiva e outra negativa.
a)      Nota positiva: a presença do PM António Costa, os seus contactos e a sua intervenção num painel com o Chefe do Governo holandês. Reações muito positivas em relação a Portugal. O nosso país está na moda.
b)      Nota negativa: só estiveram representados dois grupos empresariais portuguesas (a Sonae e a jerónimo Martins)
  •          É pouquíssimo para um fórum desta importância. As grandes empresas portuguesas têm de pensar numa presença maior no futuro. É preciso ter vistas mais largas. Novos horizontes.

Fonte: Jornal de Negocios

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