Sete portuguesas disputam na Suécia a Golden Girl Championship, torneio feminino de boxe Olímpico. Têm entre 16 e 32 anos, são leves e pequenas (menos de 1,60 cm de altura) e só uma tem experiência internacional. A maioria começou a treinar em 2017 e contam-se pelos dedos as vezes que calçaram as luvas e subiram ao ringue.
As mulheres não se medem aos palmos. É o que apetece dizer da comitiva de sete portuguesas que viajam no próximo dia 1 para Böras, na Suécia, para disputar a Golden Cup Championship, o torneio feminino de boxe Olímpico, que decorre de 2 a 4 de fevereiro.
As boxeurs, com idades compreendidas entre os 16 e os 32 anos, figuram entre estudantes do ensino secundário, universitárias e trabalhadoras, em representação de dois clubes (6 boxeurs do Rounds Academy, Lisboa e uma do Boxe Serpa, no Alentejo), que em comum têm a baixa estatura (não ultrapassam 1,55 cm de altura) e de na bagagem não viajar qualquer superstição. A maioria é novata nestas aventuras internacionais e contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que subiram aos ringues para um combate (round) de boxe.
Para a competição que decorre naquela cidade sueca perto de Gotemburgo, os treinos, a doer, começaram há seis semanas. Durante o último par de meses treinaram afincadamente, cinco dias por semana, duas horas por dia, obedecendo a uma agenda que se adaptou individualmente a cada uma, fruto dos direitos e deveres de cada qual. Um trabalho conjunto que contou com a entrega e participação de um trio de treinadores (Luís Susete, Rui Carvalho e João Tiago Ribeiro), um preparador físico e nutricionista (António João Silva) e um responsável por recuperar as atletas de lesões (Nuno Aguiar).
Maria do Mar Cavaleiro, campeã nacional de cadetes em 2017 (na categoria de 54 kg) e que tem no curriculum três vitórias em outros tantos combates, fará a estreia fora de portas. Tem 16 anos e juntamente com Mariana Martinho, são as duas mais novas que se preparam para combater por terras de Vikings.
Mariana soma 6 combates (duas derrotas) e tem a particularidade de já ter pisado o mesmo palco que se prepara para fazer agora. Em novembro do ano passado, numa competição paralela ao “King of the Ring” (competição exclusivamente masculino, disputado igualmente em Böras, arrecadou a medalha de ouro. A esse título juntou ainda a medalha de prata no Odivelas Box Cup, em dezembro.
Tânia Pires, 29 anos, nunca esteve num combate de boxe. Antes andou pela capoeira e pelo karaté e no passado mês de setembro calçou, pela primeira vez, um par de luvas. Júlia Magalhães e Daniela Carriço (esta com um passado no Muai Tai) fazem igualmente a sua estreia na passagem por baixo das cordas.
Das sete atletas, só uma conhece o sabor das competições internacionais. E não foi no boxe. Leonor Agostinho, “veterana” com 32 anos, andou noutros combates e pelo kickboxing (durante onze anos) pelo qual chegou à seleção nacional e a um campeonato da Europa. Cinco anos depois de ter pendurado luvas e caneleiras, a personal trainer, aceitou, há dois meses, o desafio para voltar a sentir a adrenalina do treino e da competição.
O boxe “não é nem de homens, nem de mulheres”
“É a primeira vez que uma comitiva portuguesa 100 por cento feminina disputa uma competição internacional. Já foram isoladamente, mas não me recordo que tenha havido esse número de atletas a competir assim desta forma organizada”, sublinha João Bastos, responsável do Rounds Academy, clube de boxe sedeado em Lisboa, Campo de Ourique, responsável por seis boxeurs portuguesas que partem para a competição de boxe feminino, que se disputa desde 2009 e que este ano reúne 250 atletas de 26 países (Índia, Gana, Nigéria, Holanda, Escócia, Suíça, Inglaterra, Austrália, Estónia, Mongólia, Montenegro, entre outros, para além de Portugal).
Numa sessão fotográfica produzida pela Boxing Lisboa, que decorreu naquele clube lisboeta, enquanto discutiam pequenos pormenores da viagem, as pequenas e bravas atletas falaram de receios, manias e objetivos.
A proteção de boca e uns calções fazem parte da bagagem de mão de Leonor. “Vão sempre comigo”, avisa. Já Maria do Mar, que quer ser profissional de boxe, tem “medo de perder o avião”. Júlia confidencia, sorrindo, preocupação sobre “quem vai fazer as tranças”, garantindo que não se irá esquecer em Lisboa “do elástico”. Por sua vez, Mariana garante que “calça sempre ligaduras brancas” e Tânia, que vai para a Suécia depois de ter solicitado “férias no emprego” tem no “equipamento” a maior preocupação antes da partida para a Golden Cup Championship. Leonor, essa, diz que está preparada “para ganhar”. Uma vontade comum a todas.
O boxe “não é nem de homens, nem de mulheres”, reforçam, reconhecendo, no entanto, que os filmes, por exemplo, mostram mais o lado masculino. Talvez para contrabalançar, dizem ter visto, vezes sem conta “Million Dolar Baby”. “É só saber que vai passar que vejo”, finaliza Tânia, referindo-se ao filme realizado por Clint Eastwood (que veste igualmente a pele de ator) com Hilary Swank e Morgan Freeman.
Madremédia
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