O filósofo francês Michel Serres morreu no passado sábado. Recentemente, a Guerra e Paz publicou dois livros seus de grande actualidade, Antes é Que Era Bom, uma irónica revisitação dos mitos nostálgicos de um passado que foi tudo menos perfeito, e Tempo de Crises, um livro optimista que procura inventar uma nova maneira de lidar com o mundo.
Licenciado em Matemática, foi professor de História e Filosofia das Ciências, leccionando em universidades francesas (Vincennes) e americanas (Stanford), procurando que o pensamento filosófico acompanhasse as grandes revoluções científicas.
O seu pensamento, de um optimismo sereno, gera uma estreita relação entre as ciências, as artes e as humanidades, numa abertura que recusa sistemas fechados, com uma clara crença no futuro, na educação e na juventude.
O pensamento de Michel Serres, de que os dois livros publicados pela Guerra e Paz são um desopilante testemunho, é um pensamento que funde natureza e inovação tecnológica, educação pelas ciências e educação pelas artes, numa luta ardente contra a violência e o preconceito, em defesa da esperança no homem e no planeta.
Repetimos, na Guerra e Paz, as palavras da sua editora francesa, Sophie Bancqart, «Nos seus livros penetramos subitamente numa música singular, uma canção da língua francesa, que ele pratica no seu campo de saber, como um poeta… ele construía os seus livros como construía a sua filosofia, escavando sempre mais fundo, para fazer emergir uma ideia nova.»
Os leitores portugueses encontrarão, em Antes é que Era Bom e Tempo de Crises, o tesouro escondido, que outro pensador, Jacques Attali, diz terem «o charme dos grandes marinheiros, a cultura dos verdadeiros filósofos, o entusiasmo dos loucos pelo rugby, a ingenuidade dos apaixonados de Tintin, a alegria de viver de um menino, o entusiasmo jubilatório dos verdadeiros estóicos». Eis tudo o que perdeu se ainda não leu os livros de Michel Serres, filósofo que agora nos deixou, aos 88 anos de idade.
Mário Alexandre Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário