terça-feira, 21 de abril de 2020

Apelo aos bispos do Brasil para que se abram as igrejas

Angustiada súplica dos fiéis a seus Pastores: Até quando permaneceremos sem sacramentos e assistência espiritual?
Excelências Reverendíssimas,
É com os olhos fixos na Mater Dolorosa que lhes dirigimos filialmente esta súplica.
A situação pela qual passa o Brasil e boa parte do mundo por ocasião da atual peste chinesa, o coronavírus, arrisca-nos a uma conjuntura que vai muito além do caos sanitário. Já estamos em parte no caos social, e se vislumbra um aumento do caos econômico e institucional, mas sobretudo de uma grande orfandade espiritual.
Quando São Carlos Borromeu era Cardeal-Arcebispo de Milão, uma terrível epidemia grassou na região. Que medidas ele tomou? Fez um apelo à oração privada e pública; prestou assistência aos doentes; conduziu três procissões gerais “para apaziguar a ira de Deus”; e pregou sobre como os pecados atraem o castigo divino. Desta forma, essas pragas deixaram de ser apenas um castigo, mas também se tornaram uma oportunidade de conversão.
O que presenciamos atualmente no Brasil é o oposto: fechamento das igrejas; restrição à principal fonte da graça divina, que são os Sacramentos; impossibilidade de receber a comunhão, o batismo, e de celebrar o matrimônio; diminuição drástica das visitas aos doentes, que se veem privados da absolvição sacramental e da extrema-unção; quase total eliminação da assistência religiosa aos fiéis; ausência de um chamado a atos penitenciais, à conversão, à mudança de vida.
Essa atitude, tomada por grande número de clérigos no Brasil, tem colocado em xeque:
1 – A vida espiritual dos fiéis, já tão debilitada pela imoralidade agressiva, pelo laicismo cínico e pela impiedade imperante;
2 – A credibilidade de quem deveria pastorear o rebanho, máxime em momentos difíceis.
Essa indigência religiosa se verifica no momento mesmo em que vemos, com edificação, médicos e profissionais da saúde fiéis ao juramento feito em suas formaturas; e, ao invés de pedirem o fechamento dos hospitais, atendem com abnegação os enfermos, mesmo com o risco de contágio. De modo similar, as farmácias e hospitais permanecem abertos, mesmo em locais onde o comércio foi fechado.
Nos locais destinados ao atendimento médico é permitida a entrada de clientes, desde que se tomem as medidas indicadas pelas autoridades. Por que tal procedimento não vale para as igrejas? Não é obrigação ainda maior a dos Pastores, de cuidar da salvação eterna das almas? Porventura o cuidado com o corpo é mais importante que o cuidado com a alma?
Até mesmo o governo federal, por meio de um decreto confirmado pelo STF, reconheceu as atividades religiosas como essenciais ao País, não sendo lícito a nenhum estado ou município impedir a abertura das igrejas e a administração dos sacramentos.
A medida de fechar igrejas e limitar o acesso aos sacramentos, de forma generalizada e por tempo indefinido, é sem precedente na História. Ela nos privou do tríduo sacro da Semana Santa e da Páscoa. O 3º Mandamento da Igreja, que prescreve a comunhão pascal, não pôde ser cumprido por causa de um vírus. Abandonou-se o divino remédio, sob o pretexto de combater a doença!
Ora, tais medidas começam inevitavelmente a suscitar graves perplexidades em incontáveis fiéis: Se somos abandonados por parte do clero, durante uma epidemia proporcionalmente menor que outras ocorridas no glorioso passado da Santa Igreja, o que acontecerá doravante em situações semelhantes ou ainda piores?
Como poderemos confiar futuramente em alguém que se furta ao seu dever de ofício de zelar pela salvação eterna, para colocar a própria saúde física acima da saúde espiritual de cidades inteiras?
Não vos iludais, Excelências, pois a continuação de tal conduta poderá resultar naquilo que o Pe. Yoannis Lahzi Gaid, secretário pontifício, julgou seu dever advertir os Bispos: “Na epidemia de medo em que vivemos por causa do coronavírus, arriscamos-nos a comportar-nos mais como assalariados que como pastores [grifos nossos]. Eu penso nas pessoas que certamente vão abandonar as igrejas quando este pesadelo passar, porque a Igreja os abandonou quando precisavam. […] Que nunca se possa dizer: ‘eu não vou à igreja que não veio a mim quando eu estava mais necessitado’” (“Crux”, 15-3-2020).
Vêm-nos à mente as pungentes “Lamentações” do Profeta Jeremias, ao descrever o estado em que ficou Jerusalém, a Cidade Santa do Antigo Testamento, após a saída de seu povo levado em cativeiro: “Como está abandonada a cidade antes tão povoada! Ela chora pela noite adentro, lágrimas lhe inundam as faces, ninguém mais a consola de quantos a amavam […]. Estão de luto os caminhos de Sião, e ninguém mais vem às suas festas. Suas portas todas estão desertas […]. Nestes dias de males e vida árida nos recordamos das delícias dos tempos idos”.
É por tudo isso que vimos pedir a Vossas Excelências que sejam reabertas as igrejas, que se retome a distribuição dos sacramentos, sobretudo os do Batismo, Eucaristia, Confissão e Unção aos Enfermos, para que se possa aplicar ao clero brasileiro o famoso provérbio Amicus certus in re incerta cernitur – o amigo certo se manifesta na ocasião incerta.
Assim os fiéis poderão novamente repetir, com o Salmo: “Lætatus sum in his quæ dicta sunt mihi: In domum Domini ibimus” — “Eu me alegrei com isto que me foi dito: Iremos à casa do Senhor” (Sl 121, 1).
Esta é a súplica que vos fazem o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e todos os católicos aflitos que a ele se unem.
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