Por Natasha Romanzoti, em 17.04.2020
Desde que a pandemia de COVID-19 se tornou um problema mundial, surgiram teorias da conspiração e hipóteses de que o vírus que causa a condição foi criado em ou liberado de um laboratório.
Apesar de todas essas especulações, não existe nenhuma evidência de que o Sars-CoV-2 tenha sido liberado propositalmente de um laboratório.
Já a possibilidade de ele ter “escapado” sem querer de um laboratório, devido a brechas na segurança, é menos improvável. Existem relatórios americanos sobre instalações chinesas que apontam para irregularidades.
Confira abaixo o que sabemos sobre todas essas teorias até agora.
Uma certeza: não é um vírus projetado em laboratório
Um rumor que se tornou viral em janeiro sugeria que o vírus havia sido projetado em laboratório, como uma bioarma.
Essa alegação já foi refutada por diversos cientistas em diferentes estudos. Estes provam que o vírus não é um feito de engenharia genética, mas sim originou-se em animais, provavelmente morcegos.
Por exemplo, uma pesquisa publicada em março na revista Nature mostrou que o vírus não possui sinais de ter sido projetado.
“Ao comparar os dados disponíveis da sequência do genoma a cepas conhecidas de coronavírus, podemos determinar firmemente que o SARS-CoV-2 se originou através de processos naturais”, disse um dos autores do estudo, Kristian Andersen, do Instituto de Pesquisa Scripps (Califórnia, EUA).
Acidente?
Ok, não é uma bioarma malevolamente liberada sobre a população. Mas a suposição de que essa foi uma liberação acidental de um vírus natural por um laboratório chinês?
A proximidade de dois institutos que faziam pesquisa sobre doenças infecciosas do mercado de animais de Wuhan – de onde pensa-se que o surto se iniciou – certamente “esquenta” essa teoria.
Diplomatas americanos e o Instituto de Virologia de Wuhan
Uma matéria do The Washington Post divulgou que diplomatas americanos visitaram instalações de pesquisa chinesas em 2018, enviando dois alertas sobre “segurança inadequada” ao governo dos EUA.
Segundo o jornal, os oficiais estavam preocupados com a segurança e fraquezas de gerenciamento no Instituto de Virologia de Wuhan, e solicitavam mais ajuda – o local já havia recebido financiamento dos EUA, juntamente com assistência de institutos de pesquisa americanos.
O artigo ainda alega que os diplomatas estavam receosos de que a pesquisa com coronavírus de morcegos pudesse levar a uma nova pandemia como a de SARS em 2002-2003.
Procedimentos de segurança
Laboratórios que estudam vírus e bactérias seguem um sistema conhecido como “normas BSL”, sendo que BSL significa “Biosafety Level” ou “Nível de Segurança”. São quatro níveis, que dependem dos tipos de agente biológicos sendo estudados e das precauções necessárias para isolá-los.
O nível um (BSL-1) é o menor, utilizado para o estudo de agentes biológicos bem conhecidos que não representam uma ameaça para seres humanos.
As medidas de precaução aumentam conforme os níveis aumentam, sendo 4 o mais alto, reservado a laboratórios que estudam patógenos perigosos para os quais não existem muitos tratamentos ou vacinas, como o ebola, o vírus de Marburg e, no caso de apenas dois institutos nos EUA e na Rússia, a varíola.
Essas normas são utilizadas no mundo todo, com poucas diferenças (por exemplo, na Rússia, o nível mais alto é 1 e o mais baixo é 4). Apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) ter publicado um manual sobre os níveis, não existe nenhum acordo ou tratado sobre o BSL, de forma que não existem regras que devam ser obrigatoriamente aplicadas em todos ou certos países.
Dito isto, se você deseja fazer projetos com parceiros internacionais, certos padrões são exigidos. O mesmo vale para quem quiser vender produtos ou serviços, como testes, no mercado.
Tendo em vista que o Instituto de Virologia de Wuhan trabalhava em conjunto com os EUA, os diplomatas recomendaram mais atenção e auxílio ao laboratório. Porém, não fica claro que tipo de ajuda era necessária.
Existem várias maneiras pelas quais as medidas de segurança podem ser violadas em laboratórios que lidam com agentes biológicos, incluindo acesso ao laboratório, treinamento de cientistas e técnicos, procedimentos para manutenção de registros, inventário de patógenos, práticas de notificação de acidentes, procedimentos de emergência e muito mais. Simplesmente não sabemos o que havia de “errado” com o instituto de Wuhan.
Conclusões
É de registro público que o Instituto de Virologia de Wuhan conduzia pesquisa em coronavírus que afetam morcegos. Esse trabalho é legítimo e foi publicado em revistas científicas internacionais. Levando-se em conta a experiência chinesa com o surto de SARS anos atrás, esse tipo de estudo não é nenhuma surpresa.
A questão da origem do Sars-CoV-2 é “muito difícil”, de acordo com a Dra. Filippa Lentzos, especialista em biossegurança do King’s College London (Reino Unido).
“Houve discussões silenciosas nos bastidores na comunidade de especialistas em biossegurança, questionando a origem do mercado de frutos do mar que é uma mensagem forte na China”, disse.
Essas discussões são “silenciosas” justamente porque não há evidências de que qualquer instituto de pesquisa em Wuhan tenha sido a fonte do vírus.
Por outro lado, o presidente americano Donald Trump informou que seu governo iria investigar a tal teoria da liberação de laboratório. Contra a China existe o fato de que o país repetidamente escondeu ou omitiu informações cruciais sobre a pandemia, tendo um forte histórico de falta de transparência.
A briga política entre as nações não importa para a ciência, contudo. Os pesquisadores continuarão fazendo seu trabalho duro para traçar a origem do vírus com rigor.
Fonte:hypescience
[BBC]
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