E se a COVID-19 não for a pandemia mais grave a atingir a humanidade nos próximos anos? Pois é justamente nisso que acredita Eduardo Massad, médico, físico, professor emérito de Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, aquilo que enfrentamos na atualidade é apenas o ensaio de algo muito maior.
Em entrevista à BBC News, Massad se refere a uma futura pandemia que poderia matar algo como 2 bilhões de pessoas no mundo em um ano, causando uma queda significativa na expectativa de vida da humanidade de 72 anos para 58. Questionado do porquê dessa teoria, o médico afirma que não há no momento evidências que indiquem o possível aparecimento de uma doença com impacto maior que a COVID-19, mas que há indícios baseados na sequência histórica de aparecimento de infecções com altas taxas de letalidade nos últimos 20 anos.
O médico da USP também toma por base a possibilidade teórica de mutações de vírus de transmissão respiratória a partir de cepas zoonóticas, como o H5N1 (gripe aviária), com letalidade maior que 50%, e que poderiam, dadas as condições de alta interação com animais infectados em alguns locais, passar a ser transmitidos entre humanos. "Caso um vírus como o H5N1 venha a se transmitir entre humanos por via respiratória, com as mesmas taxas de contágio que apresenta entre as aves, teremos aí um forte candidato".
Massad conta nessa entrevista que o tipo de organismo que transmitiria a Grande Pandemia seria um vírus respiratório de RNA com elevadas taxas de mutação e adaptabilidade, grande letalidade, alta taxa de contágio e transmitido diretamente de pessoa para pessoa, um conjunto particular de características. Ele ainda explica que o que o leva a crer que a COVID-19 não seja a Grande Pandemia, e sim um ensaio geral, são projeções de modelos matemáticos. "Isso ainda não é suficiente para ter um impacto significativo na expectativa de vida da humanidade, frente a um total de aproximadamente 60 milhões de mortes anuais no mundo, decorrentes de todas as outras causas".
O médico ainda observa que o ebola até poderia ter sido essa mencionada Grande Pandemia, mas sua letalidade muito alta não foi compensada por uma taxa ainda maior de transmissão. A doença do vírus ebola é grave, com uma taxa de letalidade que pode chegar até 90%. Afeta seres humanos e primatas como macacos, gorilas e chimpanzés.
Massad diz que o novo coronavírus deixou ensinamentos, como implementar medidas de distanciamento social, além das descobertas sobre vários mecanismos sobre sua patogenicidade e seu desenvolvimento na forma de doença. Segundo ele, serão úteis no enfrentamento de outros vírus respiratórios com vistas à produção de uma vacina, por exemplo. "Eu dividiria minhas preocupações entre imediatas e de médio e longo prazo. Além, é claro, do total de mortos ao final da pandemia, minha preocupação imediata é como faremos para relaxar as medidas de distanciamento social. Finalmente, temo que a imunidade pós-exposição não seja permanente, ou seja, pessoas que tenham tido a doença possam readquiri-la mais tarde", conclui o especialista.
Quando a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) chegou ao Brasil, várias alternativas envolvendo tecnologia passaram a fazer parte dos esforços monitoramento da COVID-19 no país. Uma delas, usada também em outros países, é o Mapa de Calor gerado a partir de dados cruzados de operadoras de telefonia, que usam dados anônimos de localização dos dispositivos para medir os índices de isolamento social. Por aqui, essa ferramenta vem sendo disponibilizada pelas empresas Claro, Oi, TIM e Vivo aos governos estaduais e municipais. E, segundo o SindiTelebrasil, nesta segunda-feira (11) foram contabilizados 12 estados e 14 prefeituras na plataforma.
Os locais que estão usando esse recurso são: Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Entre as prefeituras estão Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Campos dos Goytacazes (RJ), Florianópolis (SC), Juiz de Fora (MG), Macapá (AP), Maceió (AL), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de janeiro (RJ), Salvador (BA), Santo André (SP) e Teresina (PI).
Por Nathan Vieira | 12 de Maio de 2020 às 17h16
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