Um estudo
internacional com a participação de Maria João Feio e Manuel
Graça, investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente
(MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC), publicado na revista Nature,
concluiu que, apesar das tendências positivas dos anos 90, a partir
de 2010, a recuperação da biodiversidade dos rios estagnou.
Na Europa, nas
últimas três décadas, e principalmente após a publicação da
Directiva Quadro da Água, em 2000, têm vindo a ser implementadas
diversas medidas de mitigação para combater a degradação dos rios
e dos seus ecossistemas. No entanto, o número de fatores que ameaçam
estes ecossistemas continua a aumentar em todo o mundo.
Assim, «este
estudo pretendeu analisar se, ao longo das últimas décadas, tem
havido efetivamente uma recuperação da biodiversidade aquática dos
sistemas ribeirinhos ao longo do tempo, em resultado das medidas de
mitigação implementadas na Europa, e quais os fatores que a
determinaram»,
explica Maria João Feio, acrescentando que foi possível concluir
«que
houve realmente um pequeno aumento do número de espécies (0,73% por
ano), riqueza funcional (2,4% por ano) e abundância (1,7% por ano)
nas comunidades de macroinvertebrados aquáticos».
No entanto,
prossegue a investigadora, «apesar
destas tendências positivas, o número de espécies ainda diminuiu
em 30% dos locais. Os ecossistemas ribeirinhos onde se verificou
menor recuperação foram os localizados a jusante de barragens, em
áreas urbanas e terrenos agrícolas. Além disso, as comunidades de
invertebrados localizadas em zonas com taxas de aquecimento mais
rápidas tiveram menor recuperação, o que mostra os impactos das
alterações climáticas, nomeadamente o efeito do aumento da
temperatura»,
alerta.
De acordo com os
especialistas, os aumentos verificados na biodiversidade ocorreram
principalmente antes da década de 2010 e, desde então, estagnaram.
Os ganhos em biodiversidade nas décadas de 1990 e 2000 refletem a
melhoria da qualidade físico-química da água, devido à
implementação de sistemas de tratamento mais eficazes e projetos de
reabilitação ou restauro ecológico. Já a desaceleração na
recuperação da biodiversidade ribeirinha da década de 2010 mostra
que as medidas atuais não são suficientes, traduzindo-se cada vez
menos em resultados positivos na recuperação da biodiversidade.
Esta estagnação,
refere ainda a investigadora, «ocorreu
porque surgiram também novas ameaças, nomeadamente poluentes
emergentes, como fármacos e microplásticos, alterações climáticas
e espécies invasoras.
De
facto, o número de espécies não-nativas (encontradas em 69 % dos
locais analisados) tem vindo a aumentar de forma acentuada (4% por
ano)»,
afirma.
Perante estes
resultados, os investigadores consideram «urgente
continuar o restauro ecológico baseado na renaturalização e
recuperação das espécies, não meramente estético, ou focado no
escoamento, ou na remoção de nutrientes da água, mas também de um
novo planeamento focado nos novos impactos, tais como poluentes
emergentes, alterações climáticas e espécies invasoras. Além
disto, a investigação mostra também a importância da continuação
da monitorização ecológica dos rios de forma a que se possam fazer
estudos que abordem as evoluções temporais»,
concluem.
Esta
investigação, que envolveu 96 investigadores europeus de 70
instituições, foi coordenada por investigadores do Senckenberg
Research Institute e Natural History Museum Frankfurt, Alemanha.
O artigo
científico “The
recovery of European freshwater biodiversity has come to a halt”
pode ser consultado aqui.
Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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