Um estudo de
Verónica Ferreira, investigadora da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), sugere que um grupo de
invertebrados aquáticos, os raspadores, utiliza os macroplásticos
como “campo de alimentação”, já que este substrato suporta o
crescimento de algas das quais se alimentam.
Esta
investigação, publicada na revista Environmental
Pollution,
tem como foco os efeitos da poluição por macroplásticos nos rios e
ribeiros e reúne 18 estudos sobre a decomposição de detritos
vegetais, mas também a analise de resultados na perspetiva do
plástico.
«A
poluição ambiental por lixo antropogénico é uma preocupação
global, mas são escassos os estudos que abordam especificamente a
interação entre macroplásticos e macroinvertebrados em riachos.
Através de uma meta-análise, que consiste na compilação da
evidência científica, comparei a colonização do plástico e de
detritos vegetais por estes organismos»,
explica a investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente
(MARE) do Departamento de Ciências da Vida (DCV).
Inicialmente,
«pensava-se
que o plástico não seria colonizado da mesma forma que as folhas,
apenas como habitat e não como alimento.
No
entanto,
curiosamente,
o plástico pode ser um substrato muito interessante para os
raspadores, que o colonizam da mesma maneira que as folhas»,
revela a investigadora.
Os raspadores
raspam as algas da superfície das folhas e das pedras e podem fazer
o mesmo no plástico, pois este permite o desenvolvimento de algas à
sua superfície, podendo ser um substrato muito mais
duradouro/permanente, uma vez que as folhas acabam por se decompor.
Ao contrário,
este estudo mostrou que a maioria dos invertebrados aquáticos,
principalmente aqueles de dependem de folhas como recurso alimentar,
coloniza o plástico em menor número que as folhas.
«Apesar
da presença dos plásticos nos rios e ribeiros continuar a ser
negativa e prejudicial para a maioria dos organismos que ali habitam,
alguns grupos conseguem adaptar-se à presença do plástico e tirar
partido do mesmo»,
considera a investigadora. No entanto, destaca, «mesmo
no caso dos raspadores, esta questão pode ter efeitos negativos para
a decomposição das folhas caso estes organismos não façam
distinção entre as folhas e os plásticos como “campo de
alimentação”».
«Ainda
que não comam diretamente as folhas, ao rasparem a superfície para
retirar as algas, estes animais acabam por facilitar a sua
decomposição. Porém, se os raspadores preferirem o plástico, por
ser mais duradouro e permitir um maior desenvolvimento das algas, tal
pode levar a uma retardação na decomposição das folhas, que é um
processo fundamental para a circulação do carbono e dos
nutrientes»,
alerta.
Verónica
Ferreira observa ainda que esta meta-análise orienta futuros estudos
empíricos. «Essas
investigações deverão ter em consideração as áreas geográficas
mais afetadas pela poluição por macroplásticos e os tipos de
plástico mais frequentemente encontrados nos cursos de água»,
conclui.
O artigo
científico “Macroplastic litter colonization by stream
macroinvertebrates relative to that of plant litter: A meta-analysis”
pode ser consultado aqui.
Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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