domingo, 20 de março de 2016

A PRIMAVERA E O INVERNO


A cada ano que passa eu mais me apaixono pela jardinagem e pelas estações do ano. Longe de me considerar um exemplo de jardineiro ou metereologista, sou um observador e sempre tiro lições de vida nas minhas três horas semanais em meu contato com o sol, com a chuva, com a grama, com as flores, borboletas, passarinhos e, às vezes, cobras. Estou fazendo analogias com a Psicologia Positiva, mas como atrelar um jardim com esta nova ciência? Como atrelar um jardim com conceitos de nossa vida? Vamos ver o que tenho aprendido.
Vamos começar pelas quatro estações. Escrevi há anos que é fácil ser feliz na primavera. A arte da vida estar em ser feliz em todas as estações, incluindo aí, óbvio, o inverno. Do ponto de vista racional, esperar que o nossa vida seja feita somente de flores é ser, no mínimo, inocente. Claudemir, existe um segredo, então, para ser feliz, por exemplo, no inverno de nossas vidas? Pode até parecer difícil encontrar a resposta, mas no fundo, no fundo, é uma questão até simples de ser respondida. Primeiro, precisamos aceitar que o inverno faz parte. Aceitação não é acomodação. A aceitação, na verdade, tira o seu foco do “inverno” e te move para encontrar a “primavera”. Depois, precisamos encontrar significado nos nossos pensamentos sobre o que vemos, sobre o que vivemos. Aí está meio caminho para chegar à tão sonhada primavera.
Encontrar significado é, por exemplo, conseguir entender que o inverno é momento de preparação para a próxima fase. Sabemos que as árvores ficam secas nesta estação do ano, mas muita gente se esquece que suas raízes se fortalecem ao se aprofundar terra adentro em busca de nutrientes, em busca de água. Na nossa vida pessoal, não é tão diferente e a analogia pode ser a mesma. Quando estamos tristes, sofrendo muito, estamos na verdade buscando respostas (significado=nutriente) para o que passamos. Durante o congresso mundial de Psicologia Positiva, mês passado, em Los Angeles, li duas frases que me chamaram muito a atenção. A primeira é de John W. Gardner (1912-2002) que diz que “estamos continuamente tendo grandes oportunidades brilhantemente disfarçadas de problemas insolúveis”. Pois bem, quando estamos no nosso inverno, não conseguimos enxergar as oportunidades porque elas estão brilhantemente disfarçadas. A segunda frase é de John Dewey (1933): “Nós aprendemos mais das reflexões de nossas experiências do que das próprias experiências.” Gosto muito desta frase porque ela nos remete ao nosso inverno, onde devemos refletir sobre o que estamos vivendo e tirar aprendizados para podermos evoluir.
Mas voltemos um pouco mais ao jardim. Ano passado, havia uma planta que não floria e eu não entendia os motivos. Tentava diferentes fertilizantes, água e nada. Você já percebeu que quando temos um “problema” sempre tentamos as coisas mais difíceis e as coisas mais simples são deixadas de lado? Percebi que tudo o que a planta queria era espaço livre ao lado de sua raiz. Limpei tudo, tirei todas as ervas daninhas que estavam ao redor do tronco. Em uma semana, as flores voltaram. Este exemplo eu uso para dizer que somos como plantas. Quando não temos o nosso espaço para respirarmos, morremos. Todos nós precisamos desta liberdade, deste espaço só nosso. Assim como as ervas daninhas sugam os nutrientes que deveriam ir para a planta, na nossa vida temos, às vezes, pessoas, situações sugando nossos nutrientes, invadindo nosso espaço. Em resumo, precisamos termos nosso espaço, nosso tempo para podermos “florir”.
Ainda sobre o sofrimento, assim como o urso hiberna por uma questão alimentar, nós também precisamos hibernar por uma questão psicológica, precisamos nos isolar um pouco dependendo da situação. Desde que seja momentos de reflexão, faz parte do processo para sairmos de nosso inverno astral. Por isto, às vezes, é um erro quando queremos tirar um amigo ou uma amiga para ir uma festa quando aquela pessoa está “hibernando”. Òbvio, se esta pessoa estiver nesta situação por um tempo mais longo que o comum, então, estamos falando de uma problema mais sério, que precisa de atenção médica e psicológica, pois pode ser uma depressão profunda.
Outro tema da Psicologia Positiva e dos jardins é a resiliência. Você não fica fascinado quando ver um pequena planta surgindo, “literalmente”, do meio de cimento? Na natureza, encontramos muitos exemplos de resiliência, de como podemos superar obstáculos. Eu adoro os rios que, quando encontram obstáculos, simplesmente contornam e seguem seu rumo. Nunca vi um rio discutindo porque as pedras apareceram em sua frente. Isto me faz lembrar o fascinante poema de Fernando Pessoa que diz que construirá seu castelo com as pedras encontradas pelo caminho. Em outro artigo, eu nem chamo isto de resiliência, mas sim de transcendência.
Outra lição que tirei dos jardins tem a ver com a palavra siesta. Sempre ouvi esta frase como uma forma depreciativa em relação, principalmente, aos homens do campo, passando uma ideia que eles eram preguiçosos. Como descansar durante o horário de trabalho? Como tirar uma soneca logo após o almoço? A história não é bem assim. O homem do campo acorda muito cedo porque sabe que é mais produtivo até o sol se tornar insuportável. Neste momento, ele precisa descansar e, por isto, a siesta. Óbvio que esta adaptação para as cidades não funciona tão bem, já que se supõe que se trabalha em locais com ar condicionado, etc. No caso do meu jardim, aprendi que cortar a grama no final da tarde é melhor porque não temos a relva sobre a grama, o que facilita o trabalho do equipamento usado. Com a grama molhada, é praticamente impossível cortá-la. No seu trabalho, você sabe exatamente qual é o seu horário mais produtivo? No seu trabalho, você sabe quando usar suas potencialidades, sua energia física e mental? O homem do campo, sabiamente, usa sua mente para descansar o corpo.
Uma outra analogia entre um jardim e a Psicologia é que somos chamados a atenção quando nossa grama, quando nosso jardim, não está sendo bem cuidado. Mas nunca recebemos nenhuma carta falando que nosso jardim está extraordinariamente lindo. Ou seja, podemos cuidar do jardim por 10 anos de forma impecável e nenhuma carta de reconhecimento é enviada. Quando viajamos e deixamos a grama por duas semanas sem cortar, a carta é enviada. A Psicologia Positiva tem muito a nos ensinar. Precisamos, sim, receber mais cartas de reconhecimento enquanto as coisas estão indo tão bem. Quando será que vamos aprender que, no geral, o ser humano tem muito mais qualidades que fraquezas, mas enquanto continuarmos chamando a atenção para o negativo, mais nos distanciamos de um mundo ideal.
No próximo mês, termino este artigo onde falarei mais sobre a arte de apreciar também o inverno em nossas vidas e quais foram minhas grandes lições cuidando do meu jardim e como as aplico em minha vida pessoal e profissional. Também falarei sobre a arte de empreender (plantar) em tempos difíceis.
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Claudemir Oliveira é presidente e fundador do Seeds of Dreams Institute, com o objetivo de desenvolver pessoas e corporações com Psicologia Positiva, tema de seu mestrado e doutorado, nos EUA, cujo foco é na potencialidade humana.
Tem mais de 20 anos de experiência em marketing, vendas e treinamento, em empresas como American Airlines, United Airlines e The Walt Disney Company, onde abriu, no Brasil (1995), a divisão Walt Disney Parks and Resorts. Em 2000, foi transferido para os Estados Unidos, onde, por dez anos, liderou estratégias de treinamento global para os parques Walt Disney World Resort (Flórida), Disneyland Resort (Califórnia), Disneyland Resort Paris (França), além do Disney Cruise Line (cruzeiros) e mais de 30,000 quartos de hotéis da empresa.
Tem muito orgulho de ter sido professor da Disney University, além de professor convidado do Disney Institute. Já treinou mais de 200.000 pessoas da América Latina, Europa e Ásia. Nada do escrito aqui é autorizado ou endossado por essas admiráveis empresas ou universidades. Textos são baseados em experiências pessoais através de viagens, leituras e entrevistas, além de material amplamente encontrado na internet, artigos, vídeos e livros, portanto, de domínio público.
No Brasil, Claudemir é Jornalista pela Escola de Comunicação Social Cásper Líbero, tem duas pós-graduações (Comunicação em Marketing e Comunicação Empresarial) pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), onde foi professor no curso de pós-graduação em Marketing.
Claudemir é membro vitalício da Harvard Medical School PostGraduate Association e membro da International Positive Psychology Association (IPPA).
É autor do premiado filme “Once Not Far From Home”, com Erik Per Sullivan (Malcon in The Middle, Infidelidade) e Skye McCole Bartusiak (Patriota, Refém do Silêncio) e autor de artigos publicados no Brasil, Espanha e Estados Unidos.
Vive em Orlando, Flórida, desde 2000.


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