A detenção de Raul Schmidt Felippe Júnior, suspeito no âmbito da mega-operação brasileira Lava Jato, num apartamento de luxo, em Lisboa, resulta da colaboração entre as polícias do Brasil e de Portugal, parceria que começou por causa de José Sócrates.
Autoridades portuguesas e brasileiras começaram a trabalhar juntas em meados de 2015, quando se começaram a cruzar dados daOperação Lava Jato com informações alusivas à Operação Marquês que implica José Sócrates em crimes de corrupção.
A BBC Brasil reporta que investigadores dos dois lados do Atlântico têm trocado provas e descobertas no âmbito das relações entre suspeitos dos dois casos, nomeadamente quanto aos laços entre José Sócrates e Lula da Silva.
Entre as suspeitas que recaem sobre o ex-primeiro-ministro português estão as suas ligações à construtora brasileira Odebrecht, nomeadamente no âmbito do viagens do ex-presidente do Brasil a Portugal alegadamente custeadas por aquela empresa.
Há ainda escutas telefónicas que indiciarão eventuais trocas de influências entre Sócrates e Lula da Silva no sentido de favorecimento ao grupo farmacêuticoOctapharma.
Na Operação Lava Jato ainda se investigarão eventuais pressões de Lula da Silva a Passos Coelho, quando este era primeiro-ministro, sobre o pretenso interesse da Odebrecht em comprar a empresa estatal portuguesa Empresa Geral de Fomento (EGF).
Por outro lado, a Operação Marquês investigará a participação da Bento Pedroso Construções, filial portuguesa da Odebrecht, na construção de uma linha de comboio de alta velocidade, de uma barragem e de parte de uma estrada, contratos obtidos em parceria com o Grupo Lena.
O Grupo Lena está no centro da Operação Marquês e o seu administrador, Joaquim Barroca, é um dos arguidos do processo.
Outro nome que se cruza nas duas investigações é o do ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e ex-ministro, Armando Vara, suspeito na Operação Marquês pela sua intervenção de suposto favorecimento ao empreendimento turístico Vale do Lobo, no Algarve.
No âmbito da Lava Jato, estão em causa eventuais influências em favor da empresa brasileira Camargo Corrêa, no domínio do dito resort de luxo.
Raul Schmidt escondeu-se em Portugal para evitar extradição
Foi esta colaboração luso-brasileira que permitiu deter Raul Schmidt Felippe Júniornum apartamento de luxo, em Lisboa, onde se terá refugiado para evitar a extradição para o Brasil, algo que deverá conseguir por ter nacionalidade portuguesa.
O empresário, que é suspeito de pagar subornos a responsáveis da Petrobras em troca de contratos com as suas empresas, vai ser ouvido no Tribunal da Relação de Lisboa, nesta terça-feira, depois de ter sido detido num condomínio de luxo no bairro do Castelo, em Lisboa.
O Diário de Notícias apurou que Raul Schmidt vivia num apartamento avaliado em três milhões de euros, com a mulher e a filha, há cerca de seis meses, depois de ter viajado de Londres para Lisboa, alegadamente com o intuito de evitar a extradição para o Brasil, prevendo que pudesse vir a ser “apanhado” pelas autoridades brasileiras.
O empresário, que tem dupla nacionalidade portuguesa e brasileira, era considerado foragido desde Julho de 2015.
Raul Schmidt deverá contestar o pedido de extradição já solicitado pelo Brasil e “a Constituição Portuguesa garante que Portugal, por regra, não extradita os seus nacionais”, explica o advogado José António Barreiros na Rádio Renascença.
A advogada especialista em extradição e direito penal internacional Vânia Costa Ramos acrescenta na mesma estação que o empresário só pode ser extraditado se for suspeito de “terrorismo ou de criminalidade internacional organizada”.
Caso não seja extraditado, Raul Schmidt será alvo de julgamento em Portugal, à luz dos factos da investigação brasileira.
Fonte:ZAP
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