segunda-feira, 27 de junho de 2016

Davos asiático adverte para riscos económicos e geopolíticos da saída britânica da UE

Pequim, 26 jun (Lusa) - Académicos e empresários advertiram hoje para os riscos económicos e geopolíticos do 'Brexit' na abertura da edição de verão do Fórum de Davos, também conhecida por Davos asiático, a decorrer em Tianjin, na região norte da China.

A saída do Reino Unido da União Europeia (UE), processo conhecido como 'Brexit', e o novo papel no mundo do bloco europeu dominaram o primeiro dia deste evento lançado em 2007 e realizado, de forma alternada, nas cidades chinesas de Tianjin e Dalian.

O perito em geopolítica da Universidade de Nova Iorque e presidente da consultora Eurasia Group, Ian Bremmer, afirmou que o 'Brexit' é um "acontecimento geopolítico importante" equiparado aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e à crise financeira de 2008 e 2009.

"Estamos a falar do declínio da aliança mais importante na ordem do pós-guerra, a relação transatlântica, que já estava antes do 'Brexit' no seu momento mais débil desde a Segunda Guerra Mundial", explicou Bremmer.

O especialista também considerou "razoavelmente provável" uma desintegração do Reino Unido, bem como uma redução da "marca global" da UE, dos seus valores comuns e da sua capacidade de integração.

O economista Nariel Roubini, também da Universidade de Nova Iorque e conhecido por ter antevisto a crise imobiliária nos Estados Unidos, rejeitou uma possível comparação entre o impacto do 'Brexit' e uma crise financeira global, reconhecendo no entanto que a situação criou um "choque" nos mercados.

"Não espero uma recessão global ou uma outra crise financeira global. Penso que o choque resultante do 'Brexit' é significativo, mas não tem o mesmo tamanho e magnitude daquele que tivemos em 2007, 2008 e 2009", argumentou Nariel Roubini.

O economista também afirmou que o abandono britânico do bloco europeu gera incerteza "económica, financeira, política e também geopolítica" e coloca um ponto de interrogação no futuro da UE.

"Poderá ser, não digo que isso irá acontecer, o começo da desintegração da UE ou da zona Euro", avisou Roubini.

Outro participante da reunião, o responsável pela gestão de investimentos para a Ásia-Pacífico do banco norte-americano JP Morgan, Michael Falcon, acredita que no decorrer desta semana irá registar-se um aumento da "volatilidade" e da "especulação".

Já o empresário estónio Taavet Hinrikus assegurou que o 'Brexit' torna a Europa "muito menos atrativa para os empreendedores".

O co-fundador da multinacional norte-americana de transporte privado urbano Uber, Travis Kalanick, foi dos poucos que relativizou os efeitos da saída britânica.

"É difícil vermos um impacto importante [do 'Brexit'] naquilo que fazemos todos os dias", disse Kalanick.

As discussões no Fórum Mundial Económico de verão vão continuar até terça-feira em Tianjin. Para segunda-feira é aguardado um discurso do primeiro-ministro chinês Li Keqiang.

Os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido vai sair da UE, depois de o 'Brexit' (nome como ficou conhecida a saída britânica da União Europeia) ter conquistado 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou a sua demissão, com efeitos em outubro.

SCA // NS

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