Rui Sá* – Jornal de Notícias, opinião
Contrariando mais uma vez as sondagens, os britânicos decidiram que não querem continuar nesta União Europeia!
Essa decisão maioritária, e com uma afluência às urnas que nos faz corar de inveja, juntou gente com razões diferentes e mesmo antagónicas. Mas creio que o denominador comum dessa decisão está na vontade de os britânicos tomarem novamente nas suas mãos o seu próprio destino - com tudo o que isso implica, de positivo ou negativo.
E este é um dos problemas de fundo desta Europa: a opção federalista, em que as vontades nacionais se submetem a uma pseudo "vontade europeia" que mais não é do que aquela imposta por diretórios de países, com a Alemanha à cabeça, e que procuram corporizar em desígnio europeu a cartilha das políticas financeiras, económicas e sociais do ultraliberalismo.
Europa construída de cima para baixo, imposta aos povos, sem respeitar as suas próprias decisões. A vergonha dos referendos repetidos (França, Irlanda) até darem o resultado pretendido, sendo que no ínterim se fizeram gigantescas campanhas de manipulação e/ou de atribuição de pseudobenesses aos eleitorados - mesmo agora, e procurando influenciar os resultados deste referendo, a União Europeia negociou com a Grã-Bretanha uma situação de exceção, designadamente em matéria de imigração, que devia envergonhar os seus autores. Ou, em Portugal, onde PS, PSD e CDS nunca consideraram o povo português como digno para se pronunciar sobre cada fatia de soberania amputada ao país a cada tratado sucessivamente aprovado numa espiral federalista (com a vergonha do tristemente crismado "Tratado de Lisboa", terminar com Sócrates a confidenciar a Durão Barroso, "porreiro, pá!"...).
Europa que enxovalha os países, como vergonhosamente aconteceu com a Grécia. E como tem acontecido com Portugal e Espanha, ameaçados por sanções que não foram aplicadas à França, porque, como diz Juncker, a "França é a França"!...
Bem sei que, agora, tal como sucedeu a cada referendo que rejeitava tratados, os eurocratas vão encher a boca com palavras que afirmem a necessidade de "reformar" a Europa, de a "aproximar dos cidadãos", de voltar ao "espírito dos pais fundadores". Mas os atos falam por si: perante a decisão dos britânicos, Merkel, à revelia das próprias instituições europeias, convocou os líderes de alguns países europeus e alguns dirigentes da UE (mostrando que os outros, entre os quais se inclui Portugal, continuam a não contar!...).
É por esta e por outras razões que cresce em mim a convicção de que esta Europa não é reformável...
*Engenheiro
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