Martinho Júnior, Luanda
1 – Os processos correntes de globalização estão a assistir a um avolumar de contradições entre as mais poderosas oligarquias financeiras mundiais implicadas sobretudo na esteira do capitalismo neoliberal, o que pode desde logo acarretar num avolumar de tensões dentro do grupo restrito que compõe a aristocracia financeira mundial que tem como base essencial para os seus dispositivos de domínio nos Estados Unidos e no que resta de “atlanticidade” propiciada por um conjunto alargado de instrumentos que vão desde o agenciamento de Bruxelas à NATO.
Nesse sentido a cosmética do voto popular, é uma fórmula de manipulação decorrente por via da“representatividade democrática” (com todo o cínico rigor do termo) dos interesses dessas poderosas oligarquias que a partir de agora passaram de certo modo a divergir entre Bruxelas e Londres numa cada vez mais “austera” União Europeia, inconciliável em muitas tensões latentes, potenciais e evidentes, desde logo no que às finanças diz respeito.
A “city” não mais pretende perda de exercício de domínio, muito menos subjugação ao “diktat” de Bruxelas, sob encomenda alemã, francesa, ou outra.
2 – As emergências, sobretudo as emergências euro-asiáticas (Rússia – República Popular da China – União Indiana), ainda que seguindo trilhas diversas, saem a ganhar nesta longa luta entre as oligarquias financeiras que provocam as tensões internas à própria aristocracia financeira mundial, pois face a um BREXIT desta natureza, os Estados Unidos terão ainda mais dificuldade nos contenciosos “atlantistas”, inclusive nos contenciosos em curso no quadro da NATO!
A NATO está a emitir, desde as vantagens militares que a Rússia foi criando com a intervenção directa na luta contra o terrorismo na Síria em 2015, cada vez mais sinais de falta de coesão interna, tentando esconder esse fenómeno com a realização de cada vez mais exercícios militares a leste, junto das fronteiras com a Federação Russa cujos dispositivos avançados são de tal modo dissuasores, que “têm chegado para todo o tipo de encomendas” e já com vantagens geo estratégicas de tal ordem que, sem perda de coesão interna, estão a tirar partido evidente das contradições entre as oligarquias financeiras europeias e da erosão da aristocracia financeira mundial, conforme se reflecte na própria instrumentalização da NATO.
3 – Um novo capítulo está em aberto no actual momento europeu, que se pode considerar um momento de encruzilhada, tanto no âmbito do (des)concerto da “city”, como no (des)concerto de Bruxelas, como ainda no (des)concerto de Washington à mercê de erosão.
A incerteza e a imprevisibilidade passaram agora a fasquia a que nos havia já habituado Bruxelas em relação às primeiras grandes vítimas que são os povos europeus, uma incerteza e uma imprevisibilidade decorrente do crescimento exponencial das correntes nacionalistas e também de radicalismos de esquerda que têm muito mais a ver com as manipulações das “revoluções coloridas”, do que com a intrínseca vontade dos povos.
O peso dos “média de referência” potenciados para a ingerência, a manipulação e a subversão democrática, indexados aos interesses da aristocracia financeira mundial e às tensões que minam a instrumentalização das oligarquias financeiras europeias, continua sua saga de alienar a consciência crítica e a formulação da vontade dos povos em defesa dos seus próprios interesses, contaminando a esmagadora maioria das componentes vitais das sociedades europeias.
O campo aberto aos negócios na União Europeia acaba por sofrer com o BREXIT um novo estímulo que se contrapõe à lógica com sentido de vida e a espiral de contradições pode continuar a desfolhar o novo capítulo, tanto por dentro de entidades como o Reino Unido (“remember Scotland”), como de entidades como Espanha (Galiza, Catalunya, País Basco…), ou como mais um EXIT qualquer que agora, com este precedente, se torna mais possível que nunca…
No quadro da NATO, as tensões internas em torno por exemplo da Turquia indiciam erosão do Pacto, que se reflecte nas pertinentes insuficiências que se vão expondo por via dos exercícios militares e da contínua ambiguidade para fazer face ao terrorismo, uma das causas da imensa vaga migratória que, como um boomerang gigantesco atinge a União Europeia a ponto desse fenómeno contribuir para a consumação do BREXIT!
A aristocracia financeira mundial, assim como as oligarquias financeiras europeias têm amplas responsabilidades nas alianças com a Arábia Saudita e Qatar, ou seja amplas responsabilidades na monstruosidade da criação das redes terroristas que vão assolando directa ou indirectamente 4 dos 5 continentes, bem como amplas responsabilidades na decrepitude dos preços do petróleo e de várias outras matérias-primas, sujeitas ao determinismo dominante e só não mais sujeitas graças ao papel dos emergentes euro-asiáticos.
Os nacionalismos que crescerem num ambiente desta natureza, pode aumentar e não diminuir a“antropofagia” da aristocracia financeira mundial e das oligarquias a si agenciadas, como as oligarquias financeiras europeias em processo aberto de contradição.
A globalização no sentido do domínio de 1% sobre o resto da humanidade, está a potenciar ainda mais (des)concertos para o mundo, inclusive em relação ao respeito que a todo o transe é necessário buscar em relação à Mãe Terra!
4 – É nessa base que África e as suas elites, devem ganha maior consciência da proliferação dos factores tóxicos que a Europa está a expandir.
Para África é fundamental o reforço das políticas de paz antropológica e histórica como garantes do aumento de capacidades de luta contra o subdesenvolvimento e tendo em conta um sem número de questões fundamentais que vão desde a urgente necessidade de realizar obra infra estrutural e estrutural, numa perspectiva de sustentabilidade para o desenvolvimento e fugindo aos padrões do crescimento capitalista neoliberal.
Votada a uma ultra-periferia, África não pode mais iludir-se com os artifícios, ingerências e manipulações, algumas delas bárbaras, de que tem sido alvo e deve perceber tanto o que acontece no “pré carré”, como nas “primaveras árabes”, como nos sistemas clandestinos de financiamento do terrorismo ao estilo sobretudo do AQMI e do Boko Haram!
Continua a ser muito preocupante o papel sincronizado dos expedientes da NATO e do USAFRICOM, que agora com a toxidade europeia podem a voltar a ser estimulados no pior dos sentidos, sob os pretextos mais variados, que vão desde o bloqueio da migração via Mediterrâneo, até à “providencial necessidade de luta contra o terrorismo”…
Preservar os ganhos já alcançados em proveito da paz antropológica e histórica, em processos tão melindrosos como por exemplo o dos Grandes Lagos, recebeu contudo reforços como o do Egipto, com projectos de tal maneira sensíveis em relação à água interior do continente, que se pode considerar agora a existência de pujantes geoestratégias desta feita “do Cairo ao Cabo”!
Lançar as bases do renascimento africano é a única saída salutar para África e todos os seus povos e Angola tem jogado um papel muito importante na construção dos seus pilares, algo de que é proibido desaproveitar!
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