No voo de regresso da Arménia, o Papa
insistiu no acolhimento aos homossexuais, mas condenou manifestações. E voltou
a falar do Brexit, lamentando que haja guerra e divisão na Europa.
O Papa Francisco diz que os cristãos
devem pedir perdão por ofensas que tenham feito a homossexuais, mas também a
crianças exploradas e a mulheres abusadas. No voo de regresso da Arménia, o
Papa foi questionado por uma jornalista norte-americana sobre as declarações do
Cardeal Reinhard Marx que recentemente disse que a Igreja devia pedir desculpa
aos homossexuais.
Na resposta, o Papa recordou mais uma
vez o que diz o Catecismo da Igreja Católica, insistiu no acolhimento dos
homossexuais e acrescentou que a Igreja é santa, mas os cristãos devem pedir
perdão por todas as ofensas que façam.
“Repito o que diz o Catecismo da Igreja
Católica: não devem ser discriminados, mas respeitados e acompanhados
pastoralmente. Pode-se condenar, não por motivos teológicos, mas por
comportamentos políticos ou certas manifestações demasiado ofensivas para os
outros. Mas isto não tem a ver com o problema. O problema é quando uma pessoa
com essa condição, tem boa vontade e busca Deus... quem somos nós para julgar?
Devemos acompanhar bem o Catecismo, porque é muito claro, o Catecismo. Creio
que a Igreja, não só deve pedir desculpa a uma pessoa gay a quem tenha ofendido,
como também deve pedir desculpa aos pobres, às mulheres abusadas, às crianças
exploradas pelo trabalho e por ter abençoado tantas armas... Quando digo
Igreja, falo dos cristãos porque a Igreja é santa, os pecadores somos nós. E
devemos pedir desculpa, e não só: devemos pedir perdão, que é uma palavra tão
esquecida”, afirmou Francisco, que falou de mais de uma dezena de temas na
conversa com os jornalistas no regresso da Arménia.
“Guerra” na Europa?
Um dos temas a que voltou foi o
referendo no Reino Unido sobre a participação na União Europeia, do qual já
tinha falado brevemente no vôo de Roma para Yerevan. Agora, Francisco foi mais
longe e falou mesmo em guerra na Europa.
“Já há guerra na Europa, já persiste no
ar a divisão e não só na Europa, mas dentro dos próprios países, basta pensar
na Catalunha e, no ano passado, a Escócia. Não digo que estas divisões sejam
perigosas, mas devemos estudá-las bem, antes de dar um passo a favor da
divisão, falar bem uns com os outros e procurar soluções viáveis”, afirmou o
Papa, acrescentando: “Não sei, nem estudei os motivos que levaram o Reino Unido
a tomar esta decisão, mas para mim, a unidade é sempre superior ao conflito.
Claro que há diversos modos de unidade. E também a fraternidade é melhor que a
inimizade e que as distâncias; as pontes são melhores do que os muros.”
No regresso da visita de três dias à
Arménia, o Papa voltou a elogiar o povo daquele país, um povo “com caracter de
pedra e ternura de mãe”. E explicou porque voltou a usar a palavra “genocídio” para
falar do extermínio de milhão e meio de arménios no início do século XX.
“Após ter usado esta palavra, o ano
passado em São Pedro, publicamente, teria soado estranho não o ter feito agora
na Arménia. Mas com isso, quis sublinhar uma outra coisa: neste genocídio
(arménio), tal como nos outros dois (nazi e soviético), as grandes potências
internacionais, olhavam para o lado... Foi esta a minha acusação. Nunca usei a
palavra genocídio com espírito ofensivo; usei-a objectivamente”, explicou o
Papa.
Outro assunto que acaba por ser
recorrente nestas conversas a bordo do avião é a relação com o Papa emérito
Bento XVI. Francisco anunciou que vai celebrar com Bento os seus 65 anos de
ordenação sacerdotal. E mais uma vez não poupou nos elogios ao seu antecessor.
Elogios a Bento XVI e críticas aos media
“Para mim, o Papa emérito é como um avô
sábio, é o homem que toma conta de mim e me ampara, na rectaguarda, com a
oração. Ouvi dizer, mas não sei se é verdade, ou se é só mexericos, que alguns
foram lamentar-se a ele deste novo Papa, mas ele mandou-os embora, à boa
maneira bávara: educadamente, mandou-os embora! Se não é verdade, está bem
visto, porque este homem é mesmo assim: é um homem de palavra e profundamente
recto”, afirmou o actual Papa, que também aproveitou para deixar umas queixas
sobre os jornalistas.
“Fiquei um bocado zangado com os media”,
disse Francisco a propósito das notícias de uma eventual abertura da Igreja
Católica à existência de mulheres diaconisas. Num encontro com a União
Internacional de Superioras Gerais (UISG) no Vaticano, o Papa tinha dito que se
podia voltar a estudar essa figura que existiu na igreja primitiva. Mas vários
meios de comunicação noticiaram o assunto como uma admissão da ordenação de
mulheres como diaconisas.
Fonte: rr.sapo.pt
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J. Carlos
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