domingo, 24 de julho de 2016

Projeto do Porto para apoiar pessoas em risco formou 200 profissionais em dez anos

Um projeto iniciado há dez anos pelos Serviços de Assistência Organizações de Maria (SAOM) retirou das ruas do Porto e do consumo de drogas ou álcool mais de 200 pessoas, introduzindo-as no mundo do trabalho, na hotelaria e restauração.

Denominado "Dar Sentido à Vida", o projeto nasceu em 2006 e, segundo a presidente da SAOM, Ana Pereira, resultou da "perceção de ausência de respostas para uma determinada faixa da população" que era recorrente ver-se na rua, "sem abrigo e com a problemática dos consumos".

O objetivo foi criar um projeto "que ao mesmo tempo qualificasse aquelas pessoas do ponto de vista académico e profissionalmente, dotando-as de capacidades para a inserção no mundo do trabalho", explicou à agência Lusa a responsável pela instituição do Porto.

"Aprovada a candidatura ao PROGRIDE (Programa para a Inclusão e Desenvolvimento) com um financiamento a 100%, criou-se uma equipa de formadores e de técnicos que fez o acompanhamento diário e muito intenso dos formandos durante os 15 meses que passavam connosco", acrescentou.

Ao longo dos dez anos já foram ministrados e concluídos nove cursos nas áreas de Ajudante de Cozinha, Empregado de Mesa e Empregado de Andares e sete cursos pré-profissionais de Iniciação à Pastelaria.

"Temos tido um grande sucesso ao nível da empregabilidade. Já passaram por este projeto mais de 200 pessoas e temos cursos em que a empregabilidade é de quase 100%", congratulou-se.

Ana Pereira destacou como base da formação prestada a "qualidade e a excelência", para "incutir hábitos de trabalho muito responsáveis" e para dotar os formandos de "capacidades e de competências para entrarem no mundo do trabalho".

A triagem para o acesso aos cursos "é feita a partir de cidadãos que aceitem estar abstinentes quer do álcool quer de drogas", frisou a presidente da SAOM.

Inaugurado há cerca de um mês, o restaurante Torreão, onde se desfruta uma paisagem notável do rio Douro a partir da muralha Fernandina, congrega toda a oferta que a SAOM tem disponível, com todos os funcionários formados naquela instituição particular de solidariedade social.

Luísa Neves, coordenadora do projeto, disse que uma vez consumada a abertura do restaurante, quer elevar a capacidade de empregabilidade da SAOM a um patamar superior, se possível absorvendo todos os seus formandos.

"Sonho com um hotel", disse à Lusa, "temos formação em empregados de mesa/bar, cozinha/pastelaria, serviços de andares em hotelaria, pelo que qualquer possibilidade que se pense é sempre numa perspetiva de criar postos de trabalho e um hotel será sempre uma delas", sublinhou.

A responsável advoga ser-lhe "permitido continuar a sonhar com algo que é um fator dinamizador da economia local e gerador de postos de trabalho para desempregados".

Explicando que não emprega ninguém, "além de técnicos superiores, que não tenha saído dos cursos" da SAOM, Luísa Neves entende ser "possível à sociedade civil dar respostas sociais tão válidas quanto as do Estado", que acha "não dever ser a única entidade com responsabilidade nos problemas sociais que existem".

"Nós somos capazes de criar postos de trabalho e riqueza e de a devolver a quem dela precisa, que são as pessoas mais desfavorecidas", rematou.


Lusa

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