Nacional / Hoje, 15:06
O
palacete que acolhe o projeto "Dar Sentido à Vida", que já recuperou
200 vítimas de exclusão social, é do século XVIII, tem origem religiosa, foi do
Estado, ocupado no 25 de Abril e até encobriu atividade criminosa.
O
número 37 da Rua das Virtudes, no Porto, tem uma história que precede a sua
construção, encostado que está à muralha Fernandina que data do século XIV e da
qual ainda guarda vestígios. A casa foi construída para recolhimento dos monges
da Congregação da Ordem de São Bernardo, que por lá terão estado entre 70 e 80
anos.
O
percurso histórico da casa foi relatado à agência Lusa por Luísa Neves,
coordenadora do "Dar Sentido à Vida" da Serviços de Assistência
Organizações de Maria (SAOM) e autora da pesquisa em torno do passado do
edifício.
"Com
a extinção das ordens religiosas, em 1834, a casa passou para a Fazenda
Pública, acabando vendida a José Alexandre Ferreira Brandão, um negociante que
vendia vinho do Porto para o Brasil e que a tornou na sua residência
familiar", disse.
Alguns
dos melhoramentos então feitos ainda hoje são visíveis, com muitos trabalhos em
gesso e tetos pintados com diferentes ilustrações. O negociante "mandou
também fazer uma porta na muralha, tentando replicar a que teria sido a Porta
das Virtudes, uma das 17 entradas da muralha Fernandina e que entretanto tinha
sido destruída no séc. XVIII", prosseguiu.
Duas
gerações volvidas e com os negócios em queda, a casa foi arrendada a partir de
1904 ao Oporto British Club, um dos dois clubes ingleses que existiam no Porto
e que ali enquadrava as atividades da comunidade residente.
À
época, esses clubes destinavam-se apenas aos homens mas, na casa, foi criada
uma "Ladies Room", sala destinada exclusivamente ao convívio das
senhoras inglesas. O clube ali permaneceu até 1967, altura em que mudou para as
atuais instalações na Rua do Campo Alegre.
A
casa ficou então abandonada uns anos e, na altura do 25 de Abril, "deu-se
uma ocupação, típica do que foram os movimentos da época", contou a responsável,
segundo a qual pouco depois ali se instalaram vários serviços, entre eles a
Companhia de Teatro Pé de Vento.
"Uma
oficina - escondida no jardim - que desmontava carros roubados em peças e
depois as vendia em segunda mão e, no segundo andar da casa, ao que consta, uma
casa de meninas", trouxe ao edifício, segundo Luísa Neves, uma
característica "próxima de um centro de negócios, tal a sua versatilidade
à época".
Em
1975, a Segurança Social adquiriu-a ao herdeiro de José Alexandre Ferreira
Brandão e um ano depois deu-se o passo necessário para a instalação da SAOM.
"O
Dr. João Rebello de Carvalho, um mecenas e homem muito voltado para o serviço
público e social, fez um acordo de gestão com o Estado e instalou aqui aquilo
que hoje somos, uma Instituição Particular de Solidariedade Social há 40 anos a
prestar auxílio aos menos favorecidos da população", explicou.
E
se no início os serviços prestados abrangiam dois grupos, "a infância e
juventude e ainda a terceira idade" com o andar dos tempos as "necessidades
foram mudando" e, tendo acabado "o apoio à juventude, abriu-se o
grande projeto desta casa ‘Dar Sentido à Vida' de apoio a pessoas em situação
de vulnerabilidade social", explicou Luísa Neves.
Fonte:acorianooriental.pt
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