sábado, 3 de setembro de 2016

PORQUE DOAMOS SANGUE AFINAL?

Opinião
Dra. Leonor Costa Sardo *

Se fosse possível perguntar a todas as pessoas do planeta o que sentiriam se salvassem a vida de alguém, se ajudassem na cura de uma doença grave, ou até se ajudassem uma mãe a dar à luz, a resposta seria com toda a certeza muito positiva. Saberia cada uma dessas pessoas que o dador de sangue faz tudo isso?

Senão vejamos: sabe-se que a primeira causa de morte das crianças e jovens é o trauma (nomeadamente os acidentes de viação). Estes recrutam cerca de 15% dos recursos totais do banco de sangue. A maior parte destes doentes necessita de transfusões emergentes de grandes quantidades de derivados de sangue, estando em causa quase sempre a sua sobrevivência. Por outro lado o doente oncológico, que precisa de cirurgia para a cura da sua doença, frequentemente necessita de transfusão sanguínea antes, durante e após a intervenção cirúrgica, de forma a que o seu organismo possa resistir a todos os procedimentos. O doente que teve um enfarte e que precisa de realizar um cateterismo ou colocar uma válvula cardíaca artificial, o doente que precisa de colocar uma prótese num joelho…estes e muitos outros dependem da boa vontade de desconhecidos, da motivação que felizmente muitos sentem e que os faz doarem gratuitamente um bem precioso…o nosso sangue.

E porque precisamos dele afinal? Para as células do corpo funcionarem, necessitam de receber nutrientes e oxigénio, e por outro lado de se libertarem dos produtos tóxicos do metabolismo. O sangue é o nosso transportador. Divide-se em vários componentes: glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma, que podem ser transfundidos em diferentes situações para diferentes doentes. O objectivo é melhorar toda a circulação sanguínea, enriquecendo-a nos casos mais simples, permitindo a sobrevivência do ser humano nos casos mais graves, já que sem sangue o coração pára.

Resultado de imagem para doar sangue desenhoDe facto, tendo a medicina transfusional tal importância na vida das pessoas, não poderia existir sem garantir a segurança e qualidade máximas do produto que é doado. Para isso o sangue é submetido a todo um conjunto de exames e testes de compatibilidade no sentido de se minimizarem os riscos associados à transfusão, em particular as reacções alérgicas (exantema, febre, reacção hemolítica aguda, reacção séptica…). O seu uso deve ser racionalizado, passando por uma sequência de procedimentos protocolados de forma a evitar o erro.

O sangue, como quase todas as coisas importantes da vida, só é valorizado quando precisamos dele. Para quem lida com esta necessidade todos os dias, para quem vê a sua importância em muitas decisões difíceis que tem que tomar, aqui está um testemunho sincero e um agradecimento a todos os dadores de sangue do nosso país.

*Médica da Especialidade de Cirurgia Geral
Serviço de Cirurgia
Hospital Infante D. Pedro de Aveiro E.P.E.
Mais informações no site: www.adasca.pt


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