Pierre Lévy
A imagem era terrível. Durante a noite eleitoral de 23 de Abril, as câmaras da [TV] France 2 difundiram durante intermináveis minutos a travessia de Paris pelo cortejo de Emmanuel Macron: um bando de motociclistas, uma dezena de veículos com todas as sirenes a urrarem e giro-faróis em acção. Mesmo o comentador em directo espantou-se com este comboio a ultrapassar todos os sinais vermelhos. Como uma alucinante caricatura da continuidade e da arrogância digna do Antigo Regime.
E como um símbolo subliminal de uma evidência: o "sistema" já instalou o seu candidato no poder. O sistema, ou seja, o aparelho económico-político-mediático que pretende assegurar a dominação da oligarquia mundializada através dos seus representantes nacionais. O antigo énarque [1] e banqueiro dos Rothschild encarna isto até à arrogância. Na forma em primeiro lugar, tendo em vista seu lançamento literalmente sem precedentes através do marketing e dos media . E no fundo, naturalmente, tanto os seus temas predilectos seguem estreitamente as prioridades das "elites mundializadas".
A começar pela Europa , claro. Ao concluir um dos debates da noite na France 2, Laurence Parisot – a antiga presidente do patronato que fez do anti-lepenismo a sua razão de viver – considerou que o maior mérito do sr. Macron era querer "refundar o mais belo projecto que há, o projecto europeu". No mesmo momento, afluíam mensagens para saudar a vitória anunciada do jovem banqueiro: do presidente da Comissão Europeia, do porta-voz da chanceler alemã e do ministro federal dos Negócios Estrangeiros, da chefe da diplomacia europeia, de Michel Barnier (responsável por Bruxelas das negociações do Brexit) e tantos outros... Todos indicaram ao povo francês qual seria a "boa escolha" no segundo turno.
Uma boa escolha, ou pelo menos uma escolha por defeito em favor da qual pronunciou-se a quase totalidade da classe política francesa. Emmanuel Macron reuniu apelos que vão de Benoît Hamon a François Fillon, de Pierre Laurent a Christian Estrosi. Todos se reagruparam para "barrar Marine Le Pen", que representaria "o ódio, o racismo, a xenofobia e o perigo que põe em perigo a República", deixando entrever as hordas de velhas camisas castanhas a irromper no país... Sobretudo – pois este pesadelo perdeu credibilidade – brandiram a ameaça da catástrofe económica que não deixaria de arruinar o país se fosse organizado um referendo sobre a saída do euro.
Le Monde, o diário de referência das forças dominantes, desde Fevereiro nunca publicou uma única edição em que não aparecessem pelo menos duas ou três análises, pontos de vista, tribunas ou editoriais advertindo contra a "loucura" do voto na candidata frentista (as declarações neste sentido de d'Angela Merkel, de Mariano Rajoy, de Mario Draghi ou de Jean-Claude Juncker foram além disso postas em destaque). Na véspera do primeiro turno, o director do jornal concluía assim: "uma candidatura é incompatível, em todos os pontos, com nossos valores e nossos compromissos: aquela de Marine Le Pen". A Europa é indispensável, precisava Jérôme Fenoglio, pois "doravante nada mais é possível num único país". Está tudo dito.
É claro que a última subida directa de Jean-Luc Mélenchon provocou alguns mísseis denunciando o "populismo anti-europeu", mas os tiros acalmaram-se quando, na última semana, o "insubmisso" os tranquilizou precisando que não tencionava "sair da Europa".
A CASTA MUNDIALIZANTE
Resta o facto evidente: o mapa dos votos acumulados Le Pen-Mélenchon segue de maneira flagrante aquele dois NÃO no referendo de 2005. Trata-se, mais uma vez, de um fosso de classe, social e ideológico, que surge: de um lado uma casta que tem interesse na mundialização e que consegue congregar camadas médias superiores, "urbanas e educadas"; do outro, uma França popular, operária ou rural, que constitui a carne de canhão da liberdade de circulação dos capitais.
Como ontem no Reino Unido. E é esta revolta popular crescente que inquieta os poderosos. Eles tentam contê-la reanimando regularmente o espectro do horror e do cataclismo. O maior ou menor êxito que terá esta enésima chantagem com o medo dependerá do maior ou menor alívio que possa ganhar a integração europeia. Este é todo o desafio do segundo turno.
Mas, após o 29 de Maio de 2005 e após o 23 de Junho de 2016, a desintegração da UE já começou. Ela está em marcha.
E como um símbolo subliminal de uma evidência: o "sistema" já instalou o seu candidato no poder. O sistema, ou seja, o aparelho económico-político-mediático que pretende assegurar a dominação da oligarquia mundializada através dos seus representantes nacionais. O antigo énarque [1] e banqueiro dos Rothschild encarna isto até à arrogância. Na forma em primeiro lugar, tendo em vista seu lançamento literalmente sem precedentes através do marketing e dos media . E no fundo, naturalmente, tanto os seus temas predilectos seguem estreitamente as prioridades das "elites mundializadas".
A começar pela Europa , claro. Ao concluir um dos debates da noite na France 2, Laurence Parisot – a antiga presidente do patronato que fez do anti-lepenismo a sua razão de viver – considerou que o maior mérito do sr. Macron era querer "refundar o mais belo projecto que há, o projecto europeu". No mesmo momento, afluíam mensagens para saudar a vitória anunciada do jovem banqueiro: do presidente da Comissão Europeia, do porta-voz da chanceler alemã e do ministro federal dos Negócios Estrangeiros, da chefe da diplomacia europeia, de Michel Barnier (responsável por Bruxelas das negociações do Brexit) e tantos outros... Todos indicaram ao povo francês qual seria a "boa escolha" no segundo turno.
Uma boa escolha, ou pelo menos uma escolha por defeito em favor da qual pronunciou-se a quase totalidade da classe política francesa. Emmanuel Macron reuniu apelos que vão de Benoît Hamon a François Fillon, de Pierre Laurent a Christian Estrosi. Todos se reagruparam para "barrar Marine Le Pen", que representaria "o ódio, o racismo, a xenofobia e o perigo que põe em perigo a República", deixando entrever as hordas de velhas camisas castanhas a irromper no país... Sobretudo – pois este pesadelo perdeu credibilidade – brandiram a ameaça da catástrofe económica que não deixaria de arruinar o país se fosse organizado um referendo sobre a saída do euro.
Le Monde, o diário de referência das forças dominantes, desde Fevereiro nunca publicou uma única edição em que não aparecessem pelo menos duas ou três análises, pontos de vista, tribunas ou editoriais advertindo contra a "loucura" do voto na candidata frentista (as declarações neste sentido de d'Angela Merkel, de Mariano Rajoy, de Mario Draghi ou de Jean-Claude Juncker foram além disso postas em destaque). Na véspera do primeiro turno, o director do jornal concluía assim: "uma candidatura é incompatível, em todos os pontos, com nossos valores e nossos compromissos: aquela de Marine Le Pen". A Europa é indispensável, precisava Jérôme Fenoglio, pois "doravante nada mais é possível num único país". Está tudo dito.
É claro que a última subida directa de Jean-Luc Mélenchon provocou alguns mísseis denunciando o "populismo anti-europeu", mas os tiros acalmaram-se quando, na última semana, o "insubmisso" os tranquilizou precisando que não tencionava "sair da Europa".
A CASTA MUNDIALIZANTE
Resta o facto evidente: o mapa dos votos acumulados Le Pen-Mélenchon segue de maneira flagrante aquele dois NÃO no referendo de 2005. Trata-se, mais uma vez, de um fosso de classe, social e ideológico, que surge: de um lado uma casta que tem interesse na mundialização e que consegue congregar camadas médias superiores, "urbanas e educadas"; do outro, uma França popular, operária ou rural, que constitui a carne de canhão da liberdade de circulação dos capitais.
Como ontem no Reino Unido. E é esta revolta popular crescente que inquieta os poderosos. Eles tentam contê-la reanimando regularmente o espectro do horror e do cataclismo. O maior ou menor êxito que terá esta enésima chantagem com o medo dependerá do maior ou menor alívio que possa ganhar a integração europeia. Este é todo o desafio do segundo turno.
Mas, após o 29 de Maio de 2005 e após o 23 de Junho de 2016, a desintegração da UE já começou. Ela está em marcha.
[1] énarque: designa os antigos alunos da École National d'Administration
O original encontra-se em ruptures-presse.fr/actu/elections-macron-europe-juncker-merkel/
Este editorial encontra-se em http://resistir.info/
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