Os consumidores mais novos estão a mudar mercado imobiliário, mas as rendas altas fazem que cada vez mais partilhem casa.
A geração millenials está a deixar a sua marca no mercado imobiliário e revela gostos e tendências bem diferentes das gerações mais velhas. Não têm fascínio por casas novas, valorizam os centros urbanos e sobretudo não querem ficar “agarrados” a um crédito hipotecário. Quando deixam a casa dos pais, a sua preferência vai para o arrendamento e são mais de 65% os que assim pensam e fazem.
Ao longo do ano passado quase 20% das transações de venda e arrendamento promovidas pela imobiliária Century 21 foram realizadas com clientes nascidos depois de 1980 (onde se integram os millenials, a também chamada geração Y). Os dados mostram que a maior parte se muda para uma casa arrendada e que 78% procuram rendas até aos 600 euros. O rendimento disponível não lhes permite muitas vezes ir mais além e, este facto, conjugado com o seu gosto de ficar no centro das cidades, está a fazer que cada vez mais jovens decidam partilhar casas.
“Temos notado que a lógica dos tempos da universidade, de partilha de casa, é prolongada na fase seguinte das suas vidas”, referiu Ricardo Sousa, administrador da Century 21 Portugal, ao Dinheiro Vivo. Esta opção tem-lhes permitido ficar nas zonas que valorizam e, para os senhorios, acaba também por ser uma solução para rentabilizar casas de maior dimensão.
Por norma, as casas mais pequenas (T1 e T2) são as mais procuradas por quem quer arrendar. As maiores acabam por se mais difíceis de colocar no mercado, porque custam mais e apenas compensam quando o agregado é mais volumoso. Esta partilha acaba por ser uma forma “de adequar a oferta à procura”, acentua aquele responsável, acrescentando ser cada vez mais necessário “encontrar soluções mais ‘fora da caixa’” que facilitem a vida a quem procura (e se vê confrontado com preços cada vez mais elevados) e a oferta. O estudo da Century 21 (cuja conclusão sobre a preferência pelo arrendamento se aproxima de outros estudos e até dos dados oficiais que existem) revela ainda que os millenials estão menos interessados em casas novas do que as gerações precedentes, já que a maioria (54,7%) prefere imóveis em segunda mão. Mas não é apenas aqui que se distinguem dos seus pais e que, por isso, estão a mudar as tendências do mercado: um em cada quatro procura casas já mobiladas e um terço, edifícios reabilitados. “A geração anterior gosta de fazer as coisas à sua maneira e ou preferem novo ou querem ser eles a reabilitar e a mobilar. Nesta geração isso não se nota”, precisa Ricardo Sousa.
Os serviços que os millenials mais valorizam também são diferentes, pelo que, quando procuram casa, colocam no topo as acessibilidades e transportes (fatores que reúnem 70% das preferências). Para mais de um terço, a proximidade de supermercados e de centros comerciais é igualmente relevante, bem como a proximidade de infraestruturaras de lazer e de desporto. Nesta geração, cujas idades oscilam entre os 37 e os 17 anos, ter uma escola por perto é menos relevante – apenas 30% lhes dá valor. A observação dos gostos e escolhas desta geração tem também permitido constatar que são menos permeáveis a estímulos comerciais, acabando por valorizar mais a experiência do que a aquisição.
E a forma como pesquisam e compram também rompe com os hábitos da geração anterior. A tecnologia é uma ferramenta cada vez mais indispensável no seu dia-a–dia e tudo o que esteja à distância de uma aplicação é mais bem recebido e tem maiores probabilidades de sucesso. “É uma geração que procura, consulta, compra cada vez mais nos canais digitais”, assinala ainda o responsável daquela rede imobiliária.
Apesar de terem preferências distintas e de valorizarem mais as experiências do que as aquisições, o rendimento disponível e a precariedade laboral fazem que apresentem um poder de compra relativamente reduzido. Esta é uma das razões para que nem todos os que saem de casa dos pais à procura de um espaço para arrendar consigam concretizar este objetivo. Perante este impasse, voltam-se para a compra de uma casa, mas quando confrontados com os preços, a realidade volta a sobrepor-se à vontade e muitos acabam por se mudar para os arredores.
“Temos assistido a um aumento da procura nos mercados periféricos”, assinala ainda Ricardo Sousa, acrescentando que isto sucede porque os que se viram para a compra estão disponíveis para ir até aos 100 mil euros e a oferta a este nível de preços nos centros urbanos é escassa.
Fonte/Foto: Dinheiro Vivo
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