sábado, 29 de abril de 2017

Os sabores de São Tomé, cocktails com Hemingway e rótulos que contam histórias

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Fugas
 
 
  Sandra Silva Costa 
Já foi em 2004, parece que noutra vida, mas ainda me lembro bem dos nomes – e de alguns sabores – das milhentas variedades de banana que há em São Tomé: banana-ouro, banana-prata, banana-maçã. Do calulu, da fruta-pão, da matabala. Dos grãos de cacau, dos cocos acabados de apanhar por meninos que sobem às árvores como quem sobe uma escada. Soa a cliché, é verdade, mas uma viagem a São Tomé é uma viagem de sabores que têm tanto de exótico como de fascinante. A Francisca Gorjão Henriques andou por lá e conta-nos agora que a gastronomia são-tomense é “um livro de história”. “Dizem que os são-tomenses gostam de comida com molho, e aqui um bom molho leva dezenas de ingredientes. A história que cada um conta ajuda a contar a história do país”, escreve a Francisca, ela que também entrevistou o italiano Claudio Corallo, que diz que faz “em São Tomé e Príncipe o melhor chocolate do mundo”. Prove aqui, ele até revela o segredo.
Também há alguns segredos na arte de fazer cocktails – e os mestres que os servem no The Royal Cocktail Club, no Porto, não abrem mão deles. Mas, garante a Renata Monteiro, que lançou os dados para escolher um cocktail, ninguém sai defraudado da experiência que nos remete para os loucos anos 20 e para bares clandestinos que contornavam a Lei Seca. Sim, há aqui um cheirinho de Al Capone, mas se preferir pode sempre sentar-se à mesa com um Hemingway à frente, soltar o seu escritor interior e escrever um conto com gel numa ardósia. Confuso? Leia tudo aqui que já vai perceber.
Por fim, deixo-lhe a história inspiradora de Abel Pereira da Fonseca, muito bem contada com as palavras da Alexandra Prado Coelho e as fotografias do Rui Gaudêncio. Foram os dois conhecer a Companhia Agrícola do Sanguinhal e perceberam “que era um visionário, o homem que criou uma rede de distribuição em Lisboa com as lojas Val do Rio e um império de produção de vinho, licores e destilados”. Entre as quintas das Cerejeiras e do Sanguinhal, no Bombarral, reconstituíram os passos mais marcantes da sua vida de empreendedor e concluíram que a sua herança continua bem viva. É de ler – e de admirar os rótulos que contam a história da empresa e, de certa maneira, também uma parte da história do país.
Tinha dito que acabava no Bombarral, mas ainda lhe sugiro a crónica do Pedro Garcias, que escreve sobre a sempiterna questão da temperatura a que deve ser servido o vinho tinto. “A 20 graus? Antes sopa!”, diz ele. Leia e depois faça um brinde ao fim-de-semana.
Quanto a nós, sábado à mesma hora. Boas viagens!

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