Reforma do Setor Florestal deverá entrar em vigor até ao final do mês de junho. Proposta do Governo prevê a proibição de aumentar área de plantação que já chega ao milhão de hectares
A reforma da floresta é a iniciativa mais importante dos últimos anos para defender e aumentar a área verde em Portugal, argumenta o Governo. A medida mais polémica é a que prevê o travão à plantação de eucaliptos. Proprietários e produtores, por um lado, e ecologistas, por outro, dividem-se sobre o impacto desta decisão no problema dos incêndios florestais. Os primeiros argumentam que vai conduzir ao abandono e ao crescimento dos matos, multiplicando o risco de fogo. Os últimos destacam que se trata de uma espécie que, além de altamente inflamável, põe em causa a diversidade florestal.
"Queremos reorganizar tudo. Não vamos permitir que a área de eucalipto aumente. Mas há muito eucalipto em sítios onde não pode estar, como há terrenos onde é possível produzir o dobro", disse o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, na apresentação da Reforma do Setor Florestal, que deverá entrar em vigor até ao final de junho. Nos próximos três anos, e só para ordenar a área florestal, o Governo prevê gastar entre 500 e 600 milhões de euros.
"Dos três milhões de hectares de floresta portuguesa, um milhão é ocupado exclusivamente por eucaliptos", diz João Branco, presidente da associação ambientalista Quercus e defensor da limitação à plantação de eucaliptos: "É uma árvore que seca os terrenos, uma monocultura que impede ouras árvores de crescerem, é altamente inflamável e está a acabar com a plantação de pinheiros". Para João Branco, a intenção do Governo é uma ato "muito corajoso. É preciso assumir que os eucaliptos estão a destruir a floresta e pôr cobro a esta tragédia".
Contestação dos industriais
Refira-se que a proposta do Governo prevê a proibição da expansão de eucalipto, mas admite exceções, como a plantação em áreas antes ocupadas e entretanto abandonadas. Uma exceção que não convence a Associação da Indústria Papeleira. O travão à área de eucalipto "prejudica os produtores florestais, provoca perda de competitividade da indústria da pasta de papel e contrai a economia do país". Na prática, a proibição promove o abandono e o crescimento de matos, aumentando o risco de incêndio. "Uma decisão errada pode pôr em causa o futuro de 400 mil proprietários e produtores florestais", afirmam, acrescentando que não existe fundamentação técnico--científica válida para proibir a plantação de eucaliptos.
É uma "descriminação negativa" que não resolve os problemas da floresta, nem o dos incêndios. Por outro lado, o eucalipto é "a espécie que permite aos produtores libertar fundos mais rapidamente, financiando o investimento nas demais espécies", afirmam os industriais.
"O eucalipto não pode ser considerado persona non grata", argumenta, por sua vez, Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses. Na raiz da questão está o facto de a indústria consumir 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano. Em 2016, foram importados dois milhões de metros cúbicos para conseguir fazer face à produção insuficiente nas matas nacionais. Importações com um custo de 200 milhões de euros.
Fonte: JN
Foto: Arquivo
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