Tenho, cá em casa, dois saca-rolhas. Um é especializado em rolhas quebradiças e outro apto a vedantes encortiçados robustos. Foi o que usei esta noite para abrir a Malvasia que me serena a inquietação.
Isto a propósito porque, no meu tempo, o electricista também engendrou uns vedantes. E lixou-se. Quando a coisa precisava sair, e tudo o que se esconde mais cedo ou mais tarde descobre-se porque a curiosidade matou o gato e quem quer saber não é felino, saía. Completa, documentada e abalizada. E saía. É certo que em Pindelo de Milagres não nos ouviram bem quando enviámos o pedido mas, 5 mil hectares depois, o problema já era ter placa para estacionar tantas aeronaves. O bem comum é regra que ampara o bom-senso.
Dizem-me agora que o Terreiro do Paço engendrou novos meeting pools, novas formas de dizer o que se passa. Censurando, trancando, controlando, mitigando. Eu não acredito nisso. Podia citar o James Curran, o Pio Ricci Bitti, até um Vladimir Volkoff. Estudei, em boa verdade mal e já tarde, mas estudei o fenómeno. É dos livros que todo o cão precisa de um osso para roer. Como dizia um camarada das tevês; nos bombeiros e nos jornalistas o tratamento é igual; “a autoridade e a corporação já não nos deixam filmar na frente de fogo e agora pomos o povo a chorar. Hão-de aprender”. Eu, que quando me convidam até lá vou dizer olhos nos olhos o que penso, acho isso uma estulticia. Eu tenho que ter informação e vou ter. Isto ou aquilo vou ter sempre assunto porque é para isso que o patrão me paga e a audiência reclama. Aliás ainda em finais de 2016 disse isso mesmo, em Lisboa, numa palestra a convite da ANBP. E para quem manda, creio e está documentado, é mais fácil controlarmos o que se diz do que não dizer nada. Ainda para mais a horas tolas. Nas rádios o dia começa às 4 da manhã, nos jornais acaba às 23 horas.
Por isso não acredito nesta coisa da lei da rolha, nem das fontes autorizadas, nem das proibições. Não acredito porque em termos de socorro e defesa civil a comunicação faz parte do requerimento.
Mais ainda conquanto a NOP 1401 prevê um adjunto de relações públicas.
E, depois, não acredito que em Lisboa me saibam traduzir se é o Porrinheiro de Silgueiros ou de Bodiosa, se são os bombeiros de baixo ou de cima, se são os camurças ou os cancarras. “Mas olhe lá o fogo já está nos aviários ou ainda não passou a serra de Leomil? Serra da Nave? Então mas isso é Leomil que se vê que não sabeis mesmo o que andais a dizer… e, já agora, pergunta o povo e quer informar o repórter de Barrelas, levam o gado para a Profadeira ou acha que ainda passam no caminho da Póvoa?” São 500 operacionais e 300 veículos… Eh lá menos de dois homens em carro ou são 3 autocomandos para uma frente de fogo?
Além de que o Estado se obriga a regras que, no limite, são cumpridas ao fim de seis meses. Mais cedo ou mais tarde tudo se sabe e quando se esconde a urgência é boa conselheira.
Posto que alguém daqueles senhores que mandatamos e a quem entregamos o dinheiro dos nossos impostos haverá de por ordem na casa. Não o fazendo teremos sempre o presidente de Câmara. Porque haverá sempre alguém, mais iluminado que certos loquazes do funcionalismo, que não queira ver o povo a dormir e à espera que ele acorde a um de Outubro. E, claro, há sempre o diz que disse, como o Canadair que afinal não caiu mas teve alerta de queda. E SADO. Como as fotografias da fita. Ou as gravações das comunicações…
Por mim, que até levo vantagem porque sou bombeiro reformado e trabalhei na estrutura e saberei sempre que portas abrir, resta-me dizer-vos, amigos Bombeiros e demais agentes de Protecção Civil, a deontologia e a ética obrigam-me a proteger a identidade das fontes.
Sob pena de, não o fazendo, ser censurado e, num aço, carteira profissional suspensa e adeus soldo com que alimento a prole e pago as contas. Todos sabemos que é assim mas deste lado tendes a garantia, como muitos de vós sabeis, que não se bufa quem me ajuda a sacar as rolhas.
Mais do resto as ordens, aprendi em Ranholas e no Alfeite, quando não são lícitas há que não lhes obedecer. E esta, a ser verdade no que eu não acredito, parece ser, no século XXI e para um país que precisa desesperadamente de conhecer a tragédia que vive há 30 anos e a que urge por cobro porque além de custar uma pipa de massa e sustentar uma certa elite, só dará azo a especulação e boatos. E a que o povo não saiba o que lhe fazem com a Pátria. Uma impossibilidade como todos bem sabemos.
Amadeu Araújo,
Jornalista – titular da carteira profissional 6764
Jornalista – titular da carteira profissional 6764
Fonte: BPS
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