terça-feira, 22 de agosto de 2017

Afinidade com o Silêncio | Pre Rawat

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Este não é um processo que acontece da noite para o dia. É algo que se infiltra lentamente.
Trata-se de se lembrar, de ser recordado. Trata-se de dar um passo para trás a cada dia nesta jornada em direcção à coisa mais essencial na sua existência. Podes ir ao cinema, comprar o bilhete, sentar-te, e em vinte minutos talvez estejas chorando desconsoladamente. Mas esta jornada de volta ao que é básico, de volta ao essencial, de volta à beleza, é muito lenta.
Não é permitido correr. Não há competição.
Não há marcos de quilometragem. Nada que diga, “mais cinco quilómetros, mais três quilómetros,  mais duas quilómetros”. Não há placas de estímulo dizendo, “estás chegando perto, estás quase lá”. Não é assim, e nunca foi assim.
Simplicidade não é uma invenção. Felicidade não é uma invenção. O amor que procura não é uma invenção. Estes são os fundamentos de cada ser humano.
E em relação a ser lembrado, não precisamos ser lembrados de todas as outras coisas, mas sim da coisa fundamental. Trata-se de estar vivo. Trata-se do sentimento dentro que diz, “Prossiga. Esteja pleno. Esteja na felicidade. Esteja no sentimento. Esteja em paz. Esteja em harmonia”. E quando de facto está, é tão doce. Não há milhões de coisas, há apenas uma coisa que diz, “Eu sinto esta existência, sinto a respiração, sinto a vida, e é doce”.
A respiração entra, e é bem-vinda para mim. Ela sai, e eu aguardo a próxima.
Tenho consciência de que ela veio, e tenho consciência de que ela se foi. Não me pergunte porque é tão mágico, mas é. Não é o ar, não é pensar na respiração, mas é o sentimento maravilhoso que ela me trouxe.
E o que foi necessário? Que todo o resto parasse! Se eu quiser diversão, preciso ir para dentro. Esta é minha verdadeira diversão. É o lugar onde não há dúvida. Um pouco de dúvida – bem, não é um grande problema. É como pimenta. Se a pimenta está na comida, tudo bem, mas se alguém me trouxer um prato só de pimenta e disser, “aqui está o seu almoço”, não vai dar certo.
Mas nós deixamos que muitas dúvidas venham e controlem a nossa vida, nós permitimos. Dizemos, “Muito bem, dúvida. Leve-me aonde me quiser levar”. E aonde pensa que ela vai levá-lo? A um lugar de clareza? Nunca.
Eu não sou um produto de ontem, porque, se fosse por minha conta, eu teria passado ontem esperando por amanhã.
As caixas vazias vieram e eu nunca percebi que eu devia colocar algo nelas, portanto elas se foram, vazias. E finalmente, a última. Se vieste de mãos vazias, irás embora de mãos vazias. Que belo papel. Então nada mudou? Nada? A vida começou, um dia percebeste que a tinhas. Consciência veio, consciência se foi. Pensamentos vieram, pensamentos se foram.
Algo dentro se manifestou, quis conhecer, quis estar com aquela coisa, quis que esta vida fosse real, quis que cada cabelo, cada célula, cada fibra, sentisse que há algo real aqui. Aí, o grande toque de Midas – tudo o que tocas vira ilusão. Até que alguém venha e diga algo que lhe faz lembrar.
O relacionamento entre esta respiração e eu – no horizonte, eu vejo – é a única coisa a qual eu posso me agarrar.
Todo o resto é transitório. Está aqui. Irá embora, mudará. Mudança não é ruim, mas o relacionamento com a respiração não parece mudar. Eu mudei, mas o relacionamento com o coração permanece imutável. Existe um chamamento, e eu respondo, e há uma alegria – há um entendimento, há uma sabedoria nisto. Eu entendo onde a ilha está. Isto me dá a liberdade de nadar, porque se eu não soubesse onde a ilha está, não me aventuraria nas águas, pois não quero me afogar.
Eu não quero seguir as pegadas de alguém mais – quero encontrar um caminho onde ninguém esteve. Se é isto que o chamamento do meu coração diz, é aqui que eu devo começar.
Devo tentar ter uma afinidade com este silêncio que é tão simples, tão precioso. Devo tentar ter um elo, um relacionamento, com o eterno – e se um pouco passar para mim, isso não é óptimo? Que eu então fique na companhia do real. Que eu fique próximo ao meu coração. Que eu me afaste da confusão e da dúvida. Que eu me afaste do medo.
É um lugar peculiar, esta coisa chamada “mundo”. O que é necessário para que o fogo do ódio comece a queimar neste mundo? Não muito. No entanto, é aqui que vive. E que incrível contraste entre este cenário impressionante e a respiração dentro de si.
Todo o tumulto, e a paz mais incrível. Que contraste. Que incrível tristeza, e que incrível alegria – separadas por menos de 2 polegadas. Que oportunidade incrível de não estar com as mãos vazias.
E senão deseja ir embora com as mãos vazias, é melhor que elas não estejam vazias agora.
Fonte: PB

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