Uma pesquisa mostra que a prática meditativa consegue influir no processo de divisão celular e retardar os efeitos associados à passagem do tempo.
Já se sabe há algumas décadas que a meditação traz vários benefícios para a mente e o corpo dos seus praticantes. Nos anos 2000, foi descoberta outra qualidade: retardar o envelhecimento. As experiências científicas nesse sentido ainda carecem de dados mais robustos (em geral, o número de participantes é estatisticamente pequeno), mas têm consolidado essa conclusão.
Uma das linhas de pesquisa é a desenvolvida por Sara Lazar, da Escola de Medicina da Universidade Harvard (EUA). Utilizando imagens do cérebro, ela constatou que a massa cinzenta dos meditadores aumenta em regiões específicas do cérebro, enquanto em não praticantes ela em geral diminui. De acordo com Sara, a espessura do córtex cerebral de meditadores experientes de 50 anos de idade é semelhante à de não praticantes com 25 anos.
Outra área promissora é a que estuda os telómteló, as capas de DNA e proteínas que protegem as extremidades de cada cromossomo na divisão celular. Em circunstâncias normais, eles ficam um pouco mais curtos a cada vez que o cromossomo se divide, até chegar a um ponto em que a célula não pode mais se replicar. Os estudos mostram que o encurtamento dos telómeros está associado ao surgimento de diversos problemas ligados à idade, como problemas cardiovasculares, diabete tipo 2, hipertensão e demência.
Hábitos pessoais podem acelerar o encolhimento dos telómeros, como o sedentarismo, a falta de sono, a má alimentação e o consumo de cigarros e álcool. O stress tem lugar de destaque nessa lista, como mostrou uma pesquisa realizada em 2004 pelas americanas Elizabeth Blackburn (prémio Nobel de Medicina em 2009) e Elissa Epel, então aluna de pós-doutorado da Universidade da Califórnia em São Francisco.
O trabalho originou vários estudos, entre os quais alguns que se dedicaram a avaliar a influência da meditação – reconhecidamente eficiente no tratamento do stress nos telómeros. Um deles mostrou que o comprimento dos telómeros do sistema imunológico de pessoas que haviam feito um retiro de meditação intensiva havia aumentado. Outro revelou que, depois de fazerem um retiro semelhante, os participantes apresentaram aumento de actividade da telomerase (enzima que reconstrói os telómeros) e redução na atividade de genes envolvidos nas respostas aos processos inflamatórios e ao stress.
Comprimento maior
O trabalho mais recente nesse sentido, realizado na Universidade de Saragoça (Espanha) e publicado em fevereiro na revista Mindfulness, reforça a argumentação. De acordo com ele, praticantes de meditação zen experientes possuem telómeros mais longos, em média, do que indivíduos de idade e estilo de vida semelhantes.
Os investigadores reuniram 20 pessoas que praticavam meditação zen por pelo menos uma hora por dia durante no mínimo dez anos, 20 pessoas que nunca haviam meditado e as correlacionaram por fatofact como idade, sexo e estilo de vida (por exemplo, dieta, exercícios físicos, consumo de tabaco ou álcool). Todos os participantes passaram por testes psicológicos e fizeram exames de sangue, a fim de que o comprimento dos telómeros nas células do sistema imunológico fosse medido.
Os dados recolhidos revelaram que os telómeros dos meditadores estavam em média 10% mais longos na comparação com o grupo de controle. Os investigadores recorreram então a uma técnica estatística para detectar quais factores poderiam estar diretamente relacionados a esse suposto retardamento do envelhecimento celular. Apareceram várias características psicológicas, como satisfação com a vida, felicidade subjectiva e maior habilidade de chegar ao estado de consciência plena e manter-se. Mas três factores foram vistos como fundamentais pelos cientistas: a idade menor, um elevado nível de autocompaixão e a ausência de “esquiva experiencial” (a tendência natural para suprimir memórias dolorosas, pensamentos, emoções e sensações, num esforço destinado a obter alívio temporário de um desconforto psicológico).
O último item, em especial, sugere que distanciar-se mentalmente do problema pode acarretar consequências negativas no longo prazo. Esses resultados favorecem o aprofundamento das pesquisas no sector. E, naturalmente, fortalecem a importância da meditação – um remédio totalmente gratuito, que possui múltiplas capacidades e não apresenta nenhum efeito colateral.
Fonte: Revista Planeta
Foto: GirlsOnBoard
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