Por Rui Oliveira Marques a 12 de Setembro de 2017
Ao longo de 600 páginas Joaquim Vieira conta no seu novo livro, além de vários detalhes da vida pessoal de Francisco Pinto Balsemão, os bastidores dos projectos que revolucionaram o jornalismo e a área dos media em Portugal. “Francisco Pinto Balsemão – O Patrão dos Media Que Foi Primeiro-Ministro” (edição Planeta) é o resultado de 60 entrevistas, em que tanto o biografado como familiares se recusaram a prestar depoimento. O mesmo ocorreu com Marcelo Rebelo de Sousa. Em entrevista publicada na edição em papel do M&P Joaquim Vieira analisa a vertente empresarial da biografia não-oficial de Pinto Balsemão que, segundo o Expresso desta semana, foi escrita no “pior estilo tablóide, espreita pelo buraco da fechadura”. A autora da crítica atribuiu apenas uma em cinco estrelas possíveis.
M&P: O lançamento da biografia coincide com as notícias sobre a venda das revistas da Impresa Publishing. Esta questão das revistas era um assunto importante para incluir na biografia?
JV: Se tivesse sabido antes, tê-lo-ia incluído. Soube do empréstimo obrigacionista dos 35 milhões de euros mas já ia perturbar com o mecanismo de produção do livro e decidi não incluir. O que eu digo no último capítulo é que Balsemão deixa aos herdeiros um império com pés de barro que lhes vai dar muitas dores de cabeça. O livro descreve o percurso de ascenção e queda, que no século XXI tem sido constante: reestruturações da SIC, perda de audiências, crescimento do endividamento bancário. Tudo problemas com que o grupo não tem sabido lidar. O grupo precisa de uma gestão muito profissionalizada. Esta teimosia do Balsemão em manter a liderança do grupo no âmbito familiar é prejudicial para o futuro do grupo.
M&P: Houve disputa entre os filhos para assumir a liderança?
JV: Não tenho conhecimento que tenha havido. Pode ter havido a pretensão de mais do que um dos filhos, incluindo o Francisco Maria. A grande questão era saber se Balsemão arranjava um parceiro estratégico estrangeiro e europeu…
M&P: Que era o que Pedro Norton defendia, de acordo com o livro.
JV: E que implicava ceder o controlo do grupo. Ao recusar essa proposta, que seria o projecto de salvação, apesar dos sacrifícios e dos cortes que seriam precisos fazer, teimava-se em manter o lado familiar na liderança. E foi isso que fez e que levou à saída de Pedro Norton. A substituição pelo filho mais novo, com 36 anos, se calhar não tinha muita experiência de gestão para estar à frente do grupo, apesar de ser a mesma idade com que Balsemão criou o Expresso, veio agravar os problemas.
M&P: No livro há uma fonte não identificada que refere que, na sucessão, pode ter havido uma influência da mãe de Francisco Pedro.
JV: Há dois filhos mais velhos, dois mais novos e um filho do meio fora do casamento. A actual mulher pode ter pressionado para assegurar a liderança – reproduzo alguém que assegura isso, mas eu não o posso afirmar. Agora, com o filho mais novo à frente, o grupo perde credibilidade à frente das instituições financeiras.
M&P: Nessa relação com a banca não terá sido mais decisiva a figura de Fernando Ulrich, que saiu recentemente do BPI…
JV: Ele ajudou muito Balsemão. Tendo saído da liderança do BPI, a relação tornou-se mais difícil. Calculo que seja assim. Admito no livro que o BPI ajudou bastante porque confiava na palavra de Balsemão. Mas quando os problemas se sucedem e não há solução definitiva, é natural que depois o banco fique um bocado desconfiado. É possível que o BPI tenha de fazer um haircut, que já não tenha esperança de conseguir receber toda a dívida que o grupo tem para com a banca.
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