Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt28 de setembro de 2017 às 23:00 |
Michael O’Leary, CEO da Ryanair, sonha há quase uma década em transportar passageiros de pé nos aviões (repetindo o modelo dos autocarros urbanos e dos metro) para reduzir o preço dos bilhetes, mas agora vai ter de aterrar na pista da realidade e reinventar o modelo de negócio da "low cost" que é também a companhia mais rentável do mundo.
A Ryanair era (e é) conhecida pelos seus preços baratos. Agora, passou também ser conhecida pelos massivos cancelamentos de voos, ditados pela debandada de pilotos, que encontraram melhores ofertas de trabalho. Também não era difícil que isso acontecesse, porque a base salarial dos pilotos da Ryanair era zero e o seu pagamento feito em função da horas voadas. E para quem, porventura, achar esta uma medida de gestão adequada, é preciso lembrar que segurança aeronáutica e precariedade laboral casam mal. Muito mal mesmo.
Neste sentido, a Ryanair vai ter de encontrar uma forma de atrair pilotos, o que passa necessariamente por oferecer uma remuneração adequada e obrigará a companhia a alterar a sua estrutura de custos. A realidade é que o modelo da Ryanair, tal como existia, acabou. E o que vier será necessariamente diferente.
Em paralelo, a Ryanair enfrenta um problema de reputação. É verdade que as tarifas baixas são um bom antídoto contra a deterioração da imagem, mas o problema poderá agora agravar-se no mercado que é também a sede da companhia, o Reino Unido.
A Autoridade de Aviação Civil deste país anunciou ontem, 28 de Setembro, que vai fazer uma investigação para determinar se a Ryanair infringiu os direitos dos clientes, após ter anunciado o cancelamento de milhares de voos durante os próximos meses. Segundo este organismo, a Ryanair poderá estar "a enganar de forma persistente" os seus clientes sobre os seus direitos destes relativamente aos cancelamentos, o que constituição uma violação da legislação britânica.
Michael O’Leary voou alto e mudou de forma inequívoca o paradigma do negócio da aviação civil com a criação da Ryanair. E obrigou as companhias tradicionais a reinventarem-se. A transportadora cresceu tanto que ele se tomou como comandante de uma fortaleza inexpugnável. E foi essa mania da grandeza que se transformou na sua maior fraqueza. A partir de agora, a Ryanair vai passar a ser olhada com desconfiança, o que certamente se traduzirá numa deterioração do seu negócio. Será um voo baixo para quem cometeu o erro de Ícaro.
Fonte: Jornal de Negócios
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