"Não estou triste por ter morrido, mas estou triste por não poder vingar-me como queria", escreveu Marcel Nadjari, num texto recuperado e agora tornado legível
"Todos sofremos coisas aqui que a mente humana não consegue imaginar". Esta é uma das frases do texto que o judeu grego Marcel Nadjari escreveu e enterrou no campo de concentração de Auschwitz, um testemunho de um tempo negro, ao qual não esperava sobreviver. Mais de 70 anos depois, cientistas conseguiram finalmente tornar o texto encontrado em 1980 legível.
O documento foi encontrado dentro de uma garrafa quando um estudante fazia escavações na floresta perto das ruínas do crematório III de Auschwitz-Birkenau, em 1980. Apenas 10 a 15% do texto escrito em grego era legível. O papel esteve enterrado durante 35 anos em solo húmido o que ajudou na degradação, explicou o historiador russo Pavel Polian ao jornal Deutsch Welle.
Uma especialista em informática russa conseguiu tornar os contornos das letras visíveis com a ajuda da análise de imagens multiespectral e agora é possível ler cerca de 85 a 90% do texto.
Polian contou ao DW que dos cinco presos de Auschwitz que escreveram e enterraram cartas, a maioria descoberta em 1945, Nadjari foi o único sobrevivente e a sua mensagem foi a última a ser encontrada. Na carta Nadjari conta que o trabalho dos presos era entregar os cadáveres aos fornos crematórios onde "um ser humano acaba em cerca de 640 gramas de cinza".
"Todos sofremos coisas aqui que a mente humana não consegue imaginar", escreveu Nadjari. "Debaixo de um jardim há dois quartos subterrâneos: um é para se despirem e o outro é uma câmara da morte. Entram nuas e quando está cheio com cerca de 3 mil pessoas, fecham e são gaseados", explicou.
O historiador Polian distingue o texto de Marcel Nadjari dos outros cinco encontrados no mesmo campo, pois é o único que fala sobre vingança. "Não estou triste por ter morrido, mas estou triste por não poder vingar-me como queria", escreveu o grego, que acabou por sobreviver ao Holocausto.
Marcel Nadjari, de origem grega, foi deportado para Auschwitz em 1944 e trabalhava na equipa "Sonderkommando", onde tinha como função retirar os cadáveres das câmaras de gás.
Após a guerra voltou para a sua terra de origem e em 1951 foi com a sua mulher e filho para os EUA, onde trabalhou como alfaiate. Morreu em 1971 com 54 anos, em Nova Iorque.
Fonte: DN
Foto: AGENCY GAZETA/KUBA OCIEPA
Nenhum comentário:
Postar um comentário