quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Editorial | Deixa-os pousar

No tempo que integrei a equipa do saudoso e prestigiado Jornal “O Comércio do Porto”, delegação de Aveiro, por imperativos de profissão tinha acesso a certos espaços onde se tomavam decisões importantes, que de uma forma ou de outra atingia a comunidade, senão mesmo todo o Distrito de Aveiro.
Certa vez, esperava eu num corredor junto ao gabinete do então governador civil, Gilberto Madail, e entra-me pelos ouvidos uma resposta a ser dada nunca soube a quem, via telefone: “Deixa-os pousar”.
Com o decorrer do tempo, a suspeita que me assaltou foi esclarecida, e visava exactamente a minha pessoa, tendo em conta o motivo da minha deslocação àquele lugar, pois estava agendada uma entrevista, ou melhor, esclarecer melhor determinado assunto que tinha sido notícia.
Perante o desmaiado tempo de espera à porta do senhor Governador para ser atendido, decidi ir-me embora, e a entrevista traduziu-se num assunto para esquecer. Aquela exclamação fazia sentido: Deixa-os pousar”. Aveiro sempre teve os seus crápulas que controlavam tudo, ainda nos tempos que correm tais personagens existem, cuja missão é destruir o que alguém ergue, ainda que se ouçam louvores das suas bocas.
Coerentemente, o último acto do mitómano que se julgava capaz de liquidar com conversas de botequim, ou por via de cartas anónimas enviadas a algumas pessoas com responsabilidades acrescidas na administração pública, encontrando-se uma delas em meu poder, foi chutado para junto do desprezo. Que pobreza moral e de espírito.
Resultado de imagem para crápulasA altivez de certos actos populistas com o propósito para sacar votos aos incautos, levam-nos a solidificar a exclamação: deixa-os pousar, os votos já cá moram.
A política portuguesa tem bem colocados os seus larápios, os ditadores assumidos e os tiranos ainda no armário que infernizam a vida quem deles discorda. As cunhas, o compadrio vergonhoso não acabou, nem vai acabar tão cedo, até ofende os nossos olhos. A Era da Canalhice ainda se mantém em vigor, a desfrutar duma liberdade que nunca conquistou, mas, dela tira todo o proveito mesmo nas questões mais mesquinhas.
Andam por ai uns crápulas a desfrutar de excelentes ordenados, pagos com dinheiro de impostos a língua de palmo.
Enfim, deixa-os pousar. A sociedade sem estas caricaturas humanas não ficaria completa.
J. Carlos
Director

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